Foi o patriarca desta família, Benedecto Marengo, que deu início àquele que viria a ser, mais tarde, um dos mais profícuos empreendimentos relativos à viticultura do nosso País. Benedecto nasceu em Turim, na Itália, no ano de 1848. Era casado com Maria Buonono e pai dos seguintes filhos: Josefina, João, Francisco, José e Caetano.
Nos anos finais do século 19, grande número de europeus sonhava em mudar de sorte, e o Eldorado apontava para as Américas. Em 1884, Benedecto se decide pela grande aventura. Acompanhado pela mulher e pela prole, embarca num dos inúmeros barcos que partiam de Gênova, deixava para trás miséria e agruras, projetava à frente esperanças e sonhos. Por ter parentes nos Estados Unidos, a primeira idéia que lhe acudiu à mente foi a de viajar para aquele país.
Mas, na longa e exaustiva travessia marítima de três meses, mudaram suas perspectivas: os Estados Unidos foram deixados de lado, tomando primeiramente seu lugar a Argentina e, em seguida, o Brasil. Talvez em contato com outros viajantes tenha obtido boas informações a respeito do nosso clima e das nossas terras. Desembarcou no porto de Santos, dali seguindo para o planalto paulistano. Em pouco tempo estava empregado, acostumado às lides da terra, cuidava dos principais jardins centrais da cidade: Parque da Luz, Praça da República, naquele tempo chamada Praça dos Curros. Sua seriedade e aplicação o elevou a chefe do Departamento de Parques e Jardins da cidade.
O bom desempenho na função, o aproximou do dr. Luiz Pereira Barreto, agrônomo e botânico de renomada fama. Na época, o dr. Barreto desenvolvia experiências em pequeno vinhedo numa chácara que possuía na Avenida Rio Branco. A feliz união desses dois homens, originando o entrelaçamento de teoria e prática, só poderia dar excelente resultado. A pesquisa séria e o constante selecionamento das diversas castas de uvas redundaram em fama e prêmios em exposições.
A produção resultante de aproximadamente duas centenas de castas de videiras logo tornaram pequena a propriedade. Fazia-se necessário encontrar um sítio com maior área. Nesse momento, ocorreria a separação, cada qual seguiria seu caminho. Pereira Barreto encontrou terras e instalou seu novo sítio na região de Pirituba. Marengo vasculhou diversos rincões de São Paulo e acabou optando por terras no longínquo Tatuapé.
O que terá motivado sua escolha? Talvez notícias da bem-sucedida experiência do Conselheiro Carrão, que desenvolvera desde 1865 excelente vinhedo em seu sítio. Pois bem, em meados de 1887 Benedecto Marengo comprou uma gleba de 24 mil metros quadrados na região que hoje conhecemos por Vila Gomes Cardim, entre as atuais ruas Serra de Bragança, Cantagalo, Francisco Marengo e Monte Serrat. Anos mais tarde, Marengo compraria terrenos contíguos. A nova área, medindo 96 mil metros quadrados, tinha como limites as ruas Serra de Bragança, Apucarana, Emílio Mallet e Francisco Marengo. No meio dessa grande área, com frente para a Serra de Bragança, Marengo construiu a casa sede.
Em 1889, Marengo manda vir da América do Norte certa quantidade de uvas, entre elas a Niagara. Esta casta de uvas encontrou em terras do Tatuapé seu solo propício, desenvolvendo-se magistralmente. Em nossa terra ficou conhecida como “Uvas Marengo”. A denominação destas uvas ultrapassou os limites do Município e do Estado, chegando a ser conhecida nacionalmente. O próspero sítio dos Marengo era visitado vez por outra por grandes personalidades e membros do governo do Estado. Em 1897, em meio a toda aquela atividade, Benedecto Marengo falece. Tinha apenas 49 anos.
Caberia a Francisco dar continuidade ao magnífico trabalho começado por seu pai. Nascido em Piemonte, Itália, em 1875, com apenas 9 anos acompanhara a família na viagem para o Brasil. Naturalizado brasileiro, aqui casou-se com Emília Regirozzi, que após o enlace passou a chamar-se Emília Marengo. O casal teve três filhos: Cesar, Amélia e Adélia. Com idêntica têmpera de seu pai e imbuído dos mesmos ideais e sentimentos, Francisco regaçou as mangas e partiu para a luta.
A abrupta mudança de comando em momento algum se fez sentir, pois o moço demonstrava o mesmo amor pelas uvas e o mesmo senso administrativo com que até então Benedecto conduzira os negócios da família. Francisco, tão empreendedor quanto seu pai, continuou importando uvas de inúmeras castas. As suas encomendas provinham da Itália, Portugal, Espanha, França, Estados Unidos e de outros países. Em terras tatuapeenses, Francisco e seus homens procuravam adaptá-las às condições do solo e do clima de São Paulo. Os Estabelecimentos Agrícolas Ma
rengo ano após ano conseguiam mais e mais sucesso. Em 1929, atestando o prestígio conquistado por essa incrível empresa agrícola de viticultura, Francisco e seu filho Cesar recebiam na propriedade a visita de Júlio Prestes, presidente do Estado, Fernando Costa, secretário da Agricultura e Pires do Rio, o prefeito da cidade. Os Estabelecimentos Agrícolas Marengo recebiam pedidos de mudas e produtos de enxertia provindos de todos os rincões do País. Catálogos e folhetos publicados pelos Marengo orientavam seus consumidores.
Emília Marengo, companheira inseparável de Francisco, falecia em 19 de dezembro de 1952, com 72 anos de idade. Sete anos mais tarde, em 3 de maio de 1959, aos 84 anos, a viticultura brasileira perdia Francisco Marengo, um dos seus maiores baluartes e conhecedores desse fascinante setor. Não obstante essas lamentáveis perdas, os Estabelecimentos Agrícolas Marengo tinham que continuar seu destino.
Quem deu seqüência às atividades do empreendimento foi Cesar. Este nascera no Tatuapé em 23 de novembro de 1901. Passara a infância entre os parreirais da família, empunhando o canivete e tesoura de poda. A prosperidade dos negócios permitiram-lhe estudar. Formou-se em Economia pelo Instituto Mackenzie. Não obstante a área escolhida, o sangue que lhe corria nas veias o empurrava para a Botânica e a Agronomia. A bem dizer, quando Francisco faleceu, Cesar não o substituiu, pois já o acompnhava há anos.
A fama da Chácara Marengo, esse era o nome pelo qual os tatuapeenses conheciam os estabelecimentos, corria não só pelo Estado, mas muito além dos seus limites. Viticultores, pesquisadores e público em geral a visitavam constantemente. Virara um pólo de atração turística. Todos queriam saborear as uvas e os demais frutos cultivados em seu solo. O sítio, enorme no início, tornou-se pequeno.
Em 1917, os Marengo compram de Rodolfo Crespi uma grande área na parte alta do Tatuapé. Era limitada pelas atuais Francisco Marengo, Aguapei, Antonio de Barros e Emília Marengo. Esta gleba permaneceu sem uso até 1946, quando foi loteada com o nome de Vila Marengo, atualmente Vila Santo Estevão. Em 1929, Cesar Marengo e seu pai compram uma fazenda de 50 alqueires no município de Suzano. Embora continuassem a produzir enorme quantidade de produtos em sua chácara no centro do Tatuapé, na amplidão das terras de Suzano podiam dar continuidade ao crescimento da empresa. A maior parte da produção desenvolvida em Suzano passou a ser comercializada no Mercado Municipal de São Paulo.
Em 1939, os Marengo compram de Assad Abdala uma gleba de terreno na Avenida Celso Garcia, no local do atual Hospital Municipal, e lá instalam enorme depósito de frutas. Nos fins de semana o ponto passou a atrair enorme multidão. O Parque de Frutas Marengo funcionou naquele local até 1962, quando seu terreno foi desapropriado pela Prefeitura para a construção do Hospital Municipal e Pronto Socorro do Tatuapé. Após essa desapropriação, a Chácara Marengo passou para a mesma avenida no número 5632, em terreno que fora comprado em 1952, pertencente ao espólio da viúva Fagnani. Neste local, porém, o Parque já não se dedicava à venda de produtos, mas apenas à comercialização de mudas de frutas e de outras plantas.
Cesar Marengo era casado com d. Zilda Marengo e pai de quatro filhos: Laura, Noemia, Armando e Cláudio. Passou a maior parte de sua vida cuidando dos negócios da família. Participou de inúmeras atividades sociais e comunitárias e ponteou sua vida pela bondade e simplicidade. Faleceu em 8 de agosto de 1974.
Cláudio Cesar Marengo, filho caçula de Cesar, neto de Francisco e bisneto de Benedecto, cuidou até recentemente da Chácara Marengo instalada na Avenida Celso Garcia, 5.632. Era casado com d. Elizabeth Marengo, com a qual tinha três filhos: Ana Emília Marengo, João Cesar Marengo e Francisco Marengo. Vítima de um enfarte, faleceu em 9 de julho de 1999.
Os incontáveis troféus, diplomas, menções honrosas e medalhas conquistados nas feiras e exposições do setor atestam de forma indiscutível a extraordinária qualidade das uvas e demais frutas produzidas nos Estabelecimentos Agrícolas Marengo. Graças a essa família e ao seu imorredouro ideal, o nome do Tatuapé é sempre mencionado quando o assunto é viticultura.
Olá boa noite.
Depois de ler esta reportagem me despertou interesse pelo valor da reportagem e exito dessa família, e me fez lembrar que tinha uma tia ja falecida que viveu com seus pais, numa chacara bem ao lado da chacara Marengo.
Eu sou português, mas já vivi em SP e conheço o Tatuape.
Minha tia se chamava América Vaz , filha de João Vaz Geada e de Delphina Barradas, , talvez ainda existam desdentes dessa família Geada aí no Tatuape,
Os MARENGOS são parte da maravilhosa imigração Italiana, que com seu suor e trabalho alavancaram a Economia Paulista nas culturas Cafeeira, Vinícola e tantas outras … tornando São Paulo a Locomotiva do progresso Brasileiro.
Meu filho estuda na EE César Marengo e sempre vi/passei pelas ruas com esse sobrenome, seja à trabalho ou passeio. Resolvi pesquisar e amei a história dos Marengo!
Vim pesquisar sobre a Rua Emília Marengo , porque trabalho como entregador de mercadorias e tem um Supermercado Chama nessa rua que é horrível pra entregar durante o dia, revoltante mesmo. Então tinha raiva dessa rua Emília Marengo. Mas agora lendo a história, passei a simpatizar. Linda história.
Linda história dos marengos,conheço porque trabalho de cuidadora para Jacira Perez ,Ela trabalhou na casa da dona Laura marengo,e ela conhecia a mãe da dona Laura o pai e conheceu as filhas da dona Laura cuidou delas desde pequena ..uma linda história.
Boa noite
Eu trabalhei na casa da Dona Laura Marengo de cuidador do esposo dela que já e falecido( Silvio )
Família maravilhosa , saudades
Tem algo errado nesta história: “seu terreno foi desapropriado pela Prefeitura para a construção do Hospital Municipal e Pronto Socorro do Tatuapé”.
Morei no primeiro quarteirão da Rua Siria e ali na esquina citada (Av. Celso Garcia com a Rua Siria) sempre foi um pronto socorro. Posteriormente, neste local, foi construído o Hospital do Tatuapé.
Não está errado, possivelmente, o senhor morou quando área já havia sido desapropriada, passei aqui por acaso
Atenciosamente.
Ana Emília Marengo
Advogada
Morei no Tatuapé até os meus 14 anos de idade, isso em 1955. Lembro-me de ter ido à Chácara Marengo degustar suas deliciosas uvas frescas. Nunca vi em lugar nenhum, antes ou depois dessa experiência, um local vendendo uvas para consumo no local. Era um verde exuberante com suas mesas ao ar livre, onde bandejas com seus cachos das uvas niágara se sobressaim. Só agora, com este artigo, fiquei sabendo da história interessante dessa família pioneira, neste tipo de cultivo, em plena São Paulo já metrópole naqueles anos.
Bonita história, mostrando a aventura dos imigrantes que aqui vieram e transformaram para melhor a vida nesse país, meu avô também foi um imigrante. Morei no Edifício Caetano Marengo, na Av. Lins de Vasconcelos, no Cambuci, nos anos 70, gostaria de saber porque o prédio tem esse nome, foi uma homenagem ou ele foi o engenheiro que construiu?
Boa Noite, a familia Marengo ainda produz uvas em Suzano, qual variedade
Sou dessa família. Filha de Francisco Marengo o irmão da Ana Emília Marengo e João.Amei a história tenho 10 anos, pena que não estou na história…
Rayssa tudo bom? sou bisneto de José Marengo e neto de Bruno Marengo
Linda história dos marengos,conheço porque trabalho de cuidadora para Jacira Perez ,Ela trabalhou na casa da dona Laura marengo,e ela conhecia a mãe da dona Laura o pai e conheceu as filhas da dona Laura cuidou delas desde pequena ..uma linda história.
Nasci em 1958 na Vila Santo Estevão , no Tatuapé. Vivi minha infância e juventude na casa costruida por meu avô Joaquim Briz na Rua Bendiapá. Lembro do quintal contíguo a nossa casa onde meu avô plantou um pequeno parreiral de uvas que obteve de mudas cedidas pela propriedade da familia Marengo. Lembro ainda hoje que eram 9 pés de uvas rosadas e dois pés de uvas brancas que transformavam nosso quintal numa espécie de túnel pois as parreiras seguiam da lateral do muro e avançavam até o telhado da casa sustentadas por uma tela metalica. Pena não existir fotos da época. Quando da colheita de uvas distribuíamos até para os vizinhos. Lembro do meu avô podando anualmente as parreiras para mante a qualidade do fruto. Bons tempos.