A família Camardo – Em 6 de novembro de 1875, inaugurava-se o trecho do Brás a Mogi das Cruzes da ferrovia que ligaria o Rio a São Paulo. Ainda passariam dez anos para ser ultimado o ramal ligando o bairro do Brás à Penha. Só a partir de então, e com a construção de seis estações, Brás, Mooca, Belém, 4ª Parada, 5ª Parada e 6ª Parada do Tatuapé começaria a emergir de seu habitual letargo. Mais tarde, em 1901, surgia a primeira linha de bondes elétricos privilegiando a Zona Leste.
Essa linha ligava o antigo Largo do Tesouro à Penha. No entanto, não obstante esses dois grandes avanços, o Tatuapé continuava a ser uma região de sítios, chácaras, pomares e vacarias. Produzia enorme quantidade de frutas, hortaliças, flores e leite. Uma parte de sua produção era transportada para o velho mercado da Rua 25 de Março, outra distribuída em quitandas de outros bairros ou vendida por ambulantes de porta em porta.
É importante salientar que o transporte era feito por carroças tracionadas por muares ou pelas barcaças do Rio Tietê. Só bem mais tarde, por ocasião da entrega do prédio do novo mercado, o atual da Rua Senador Queiroz, isso em 1933, os meios de transporte começaram a sofrer drástica mudança. Lentamente os caminhões iniciavam a sua ascenção. Mas até chegada dessa época, o que predominou foi mesmo o transporte de tração animal.
Este era o cenário do Tatuapé e região em 1896, quando o imigrante italiano, Antonio Camardo e sua esposa, Vitória de Chiro Camardo, resolveram tentar a sorte no Brasil. Como de praxe e de acordo com normas contratuais vigentes, inicialmente o casal teve de cumprir um ano de trabalho em fazenda no interior do Estado, nesse caso em Itatiba. Vencida essa etapa, o casal viajou para a capital, mais especificamente para o Tatuapé.
Observador arguto e hábil homem de negócios, Camardo logo notou ser uma das primordiais necessidades de sitiantes e chacareiros a negociação de animais de tração, gado leiteiro, porcos, além de materiais e equipamentos correspondentes: celas, arreios, rédeas e couros, além de produtos de laticínios. Deu-se bem, pois a carência dos itens citados era incontestável. Começou a trazê-los de Minas Gerais.
Quando os fazendeiros daquele Estado viajavam para São Paulo, Camardo os recepcionava em sua bela residência no Largo N. S. do Bom Parto. Sabedor das dificuldades que esses homens encontravam ao chegar à capital paulista, Camardo dispunha-se a acompanhá-los a diversos locais, dando-lhes o suporte necessário para resolverem seus problemas. Essa forma de agir, mais e mais facilitava futuros negócios, aumentando sobremaneira suas perspectivas.
Antonio e Vitória tiveram sete filhos: Ângelo, Maria, Carmela, Cristina, João e Nicola. Camardo normalmente aplicava o dinheiro ganho com seus negócios na compra de terras da região. Essa sua peculiar maneira de agir fez dele um dos maiores proprietários do Tatuapé. A tendência demonstrada por ele na aquisição de terras não foi seguida por nenhum dos seus filhos. Após a morte do casal, as terras foram sendo retalhadas e vendidas. Hoje, pouco resta do antigo patrimônio deixado por ele.