A família Frassi – Por volta de 1887, uma lei facultou à Intendência Municipal arrendar terras ribeirinhas a empreendedores que se dispusessem a instalar olarias às margens do Rio Tietê. Esse fato ocorria justamente numa época em que afluia grande número de imigrantes para São Paulo.
A feliz coincidência resultou no surgimento de inúmeras olarias entre a Vila Maria e Ermelino Matarazzo, só na região do Tatuapé mais de uma dezena. A maior parte dos proprietários dessas olarias era de origem italiana: Antonio Fiore, Perrella, Pedro Campanella, Francisco Delbucci, Miguel Mastrobuono, Francisco Matarazzo, Felício Napolitano, Celestino Passini, Pascoal Colatesta, Viúva Carlina e outros.
Diversos fatores contribuíram para o sucesso desses rudimentares estabelecimentos: argila em quantidade e de boa qualidade na zona ribeirinha, mão de obra abundante e barata e o fácil escoamento da produção. Naquela época de precárias condições de transporte, o fluvial mostrou-se de grande eficácia e foi amplamente utilizado.
Barcaças de 16 e 12 metros de comprimento, conhecidas por batelões, subiam e desciam as águas límpidas e serenas do Tietê todos os dias. Os batelões eram barcos de fundo achatado, com duas passarelas laterais internas em todo o seu comprimento. Estas serviam para que os barqueiros andassem por elas e dessem movimento aos barcos. Esses rústicos trabalhadores apoiavam uma das pontas de um grande varão num dos ombros e fincavam a outra ponta no fundo do rio.
Ao se locomoverem numa direção faziam deslizar o barco na direção contrária. Em tempos mais recentes, esse exaustivo sistema foi substituído pela formação de um comboio de batelões tracionados por um barco motorizado. Os tijolos e telhas fabricados pelos oleiros eram transportados para os mais longínquos rincões da capital e das cidades vizinhas.
Mas não só eles, os arrendatários dos portos ribeirinhos também se utilizavam desse eficiente e barato meio para o transporte da areia e do pedregulho extraídos do próprio rio. Mas, o que nos interessa neste ponto não é o transporte de mercadorias e sim a fabricação dos tais barcos. Tal solução só foi possível devido a chegada às terras de São Paulo de um imigrante italiano.
Por volta de 1917, Labindo Frassi, o imigrante citado, abandonou Livorno e viajou para o Brasil. Após curta estada em nossa terra, voltou para a Itália, casou-se com Líbera Frassi, e em companhia da esposa faz uma segunda viagem para cá. Aqui chegando, alugou uma casa e passou a morar na Rua Guaporé, na Ponte das Bandeiras.
Nesse local nasceram os três filhos do casal: Daniel (apelidado de Mário – nome que a seguir usaremos nesta narrativa ), em 2 de fevereiro de 1923; Dante, em 18 de março de 1926, e Vanda, em 20 de setembro de 1930. Na Itália, a família de Labindo dedicava-se de longa data à fabricação de barcos. É fácil deduzir o motivo da escolha da profissão dos seus parentes: a proximidade da cidade de Livorno com o Mar da Ligúria, entre a Itália e a Córsega.
Chegando a São Paulo, imediatamente deu-se conta das extraordinárias condições oferecidas pelo Rio Tietê para o transporte fluvial. Assim sendo, em curto intervalo de tempo já montava seu pequeno estaleiro na região em que morava e passava a fabricar barcos.
Com o progresso dos negócios mudou seu estabelecimento para o Canindé, aproximadamente na altura onde se encontra hoje o Estádio da Portuguesa dos Desportos. Mais tarde, por volta de 1943, instalou-se no baixo Tatuapé, no trecho final da atual Rua Tuiuti. Desde o Canindé, Mário e Dante, seus filhos, já o ajudavam na fabricação daqueles pesados barcos.
Dada a necessidade de trabalhar no estaleiro, os jovens não puderam ir além do estudo primário. Ao chegarem da escola, rapidamente trocavam de roupa e passavam a ajudar o pai. Além deles, a oficina sempre contava com mais dois ou três ajudantes, de outra forma não conseguiriam cumprir com as inúmeras tarefas. Até em comparação com os padrões atuais era espantosa a produtividade daquela família: um barco pequeno por dia e um de grande porte por semana.
O sábado era um dia de trabalho normal, e de conformidade com a urgência dos pedidos chegavam a trabalhar também aos domingos. Devido a proximidade da Chácara do Piqueri, de propriedade de Francisco Matarazzo, os Frassi foram seus fornecedores constantes.
Esses três homens fabricaram centenas de barcos durante os anos em que se dedicaram a esse trabalho. Com o advento de outros meios de transporte e da inexorável poluição do rio, nos primeiros anos da década de 60, a família Frassi encerrou suas atividades. Ainda durante certo tempo passaram a explorar a extração de areia, mas também essa nova escolha não se mostrou suficientemente lucrativa. Compreendendo que a fase áurea do seu empreendimento se esgotara, nos anos finais da década de 60 Labindo parou definitivamente.
Apesar de todas as dificuldades e da extrema dureza do trabalho, Mário e Dante achavam tempo para o divertimento. Como todos os garotos tatuapeenses, às tardes de domingos invariavelmente assistiam às sessões vespertinas do Cine São Luis. Quando rapazes, todos os sábados e domingos à noite dirigiam-se à Avenida Celso Garcia, entre as atuais ruas Tuiuti e Teixeira de Melo e participavam do “footing” – o tradicional passeio de moços e moças. Também era comum, nos dias de lazer, apropriarem-se do barco motorizado do estaleiro e dar umas voltas com os amigos pelas enseadas do Tietê.
Contam esses dois irmãos que nas proximidades de onde residiam ainda existiam algumas vacarias pertencentes às famílias Neto, Quedas e Correia. A do Neto ficava bem à frente de sua casa, na Rua Ulisses Cruz. Também já se delineavam as atividades de um incipiente comércio. No fim da Rua Tuiuti, a venda do Manuelão.
Era nela que os barqueiros faziam suas compras e abasteciam seus barcos. No final da Rua Ulisses Cruz, nas proximidades do rio, Antonio Maria tinha seu empório. Do lado oposto da chácara do Conde Matarazzo estava estabelecido o Toninho com sua farmácia. Havia uma só escola: o Grupo Escolar Erasmo Braga, que ocupava uma velha casa da Rua Tuiuti.
Na Avenida Celso Garcia, defronte da atual Biblioteca Cassiano Ricardo, o “Caipira” desenvolvia seu variado comércio de “secos e molhados”. Algumas fábricas também se estabeleceram na região: a Tinturaria Fernandes, a Tecelagem Progredior, a Superba, fabricante de objetos de borracha, a Mecânica Gráfica e outras. Na Avenida Celso Garcia, a oficina da família Boccia, fabricava carrocerias de caminhões. Na mesma avenida, na esquina da Rua Tuiuti, a Padaria e Confeitaria Deliciosa, do seu Rodrigues, vendia seus excelentes pães e doces.
Um pouco depois surgia, do lado oposto, a Padaria e Confeitaria Vera Cruz, esta funcionando até os dias atuais. Quanto as questões de saúde, tanto os barqueiros como os demais trabalhadores normalmente procuravam o Hospital São José do Brás, que iniciara suas atividades em 1914. Nele eram atendidos pelos doutores Lozam e Luiz Brunetti.
Em 6 de julho de 1944, Mário Frassi entrava na Igreja Santo Antonio do Pari para casar-se com Virgínia Trovo, filha do oleiro Aquiles Trovo. A olaria deste ficava nas proximidades da Rua da Coroa, na Vila Guilherme. Cláudio Frassi, filho de Mário e Virgínia, casado com Ana Frassi, é pai de Daniel e Daniela. Vanda, a irmã de ambos, é viúva de Domingos Panetta. Dante Frassi é solteiro.
Alguns anos depois da morte de Líbera, que faleceu em 1960, Labindo Frassi voltou para sua terra natal. Lá, no ano de 1972, em solo de sua querida Livorno, faleceria o grande e saudoso fabricante dos famosos batelões do Rio Tietê, o homem que fora escolhido pelo destino para desenvolver tão importante desígneo em terras tatuapeenses.
Muito me interessa, sobre a família Frassi, pois carrego esse sobrenome!
Oii, tbm sou Frassi.. do ES
Obrigado por esses conhecimentos, meu nome é:Jose Aparecido Frassi