Outra família que marcou forte presença no Tatuapé foi a de Francisco Guadagnoli. Ao chegar ao Brasil, em fins do século 19, já encontrou aqui, Rosa Zucatelli, com a qual veio a se casar. Em sua terra, Itália, era engenheiro civil e empreiteiro de obras. Possuiu belíssima gleba de terra com 42 mil metros quadrados, entre as Ruas Itapeti, Coelho Lisboa, Serra de Japi e Emilia Marengo.
É importante salientar que a Rua Itapeti não existia na época. Em seu lugar havia uma cerca que dividia a propriedade de Guadagnoli com a da família Azevedo. Mesmo as outras ruas citadas não passavam de estreitos atalhos. Francisco adquiriu essas terras de um tal Capitão Genoino, em pagamento de serviços prestados. Sem suspeitar do grande valor que teriam mais tarde, aceitou-as a contragosto.
Por não haver outra alternativa, acabou se conformando com tal doação. Nela construiu bela vivenda e desenvolveu horta, pomar e criação de galinhas, porcos e cabras. Estas lhe davam suficiente leite para o consumo caseiro, no entanto, quando queriam leite de vaca era só atravessar a Rua Serra de Japi e comprar do português Serafim da Silva Gadelho.
Devido à sua profissão, Guadagnoli não precisava da chácara para o sustento dos seus. Mesmo assim, vez por outra, a produção da propriedade era arrematada por compradores que a revendiam no mercado. Também durante certo tempo esteve arrendada por uma viúva portuguesa: dona Fausta. Francisco e Rosa tiveram prole numerosa: Amadeu, Luiz, Carlos, Angelina, Adelia, Maria e Adélia.
Ele e seus filhos homens foram os responsáveis pela construção do palacete da família Camardo, na Praça do Bom Parto. Por muitos anos foi considerada a mais bela moradia do bairro.
INFRA-ESTRUTURA PRECÁRIA
Embora fossem magníficas as vivendas das famílias mais bem situadas do Tatuapé, não era de todo confortável a vida dos seus moradores. A total falta de infra-estrutura do bairro a isso levava. Os fogões eram a lenha, a água tirada dos poços por meio de carretilha e balde, a iluminação interna conseguida por meio de lampiões de querosene, os banhos eram tomados em tinas ou em grandes bacias com água amornada ao fogo. Só bem mais tarde, em meados da década de 30, a região começou a receber os benefícios da água encanada e da rede de energia elétrica. A rede de esgotos teve de esperar mais alguns anos.
Francisco Guadagnoli faleceu em 1924. A partilha do espólio foi feita um ano depois. Em 1943, a parte de dona Rosa foi vendida para as Indústrias Pecoraro e o dinheiro repartido entre os herdeiros. Dez anos depois desta compra, os diretores da Pecoraro procederam à demolição da mansão. Dona Rosa faleceu em 1961.
Amadeu, um dos filhos, casou-se com Teresa de Santis Guadagnoli. Este homem, engenheiro, teve grande atuação no referente às construções empreitadas por seu pai. Foi pai de cinco filhos: Eugênio, Francisco, Oswaldo, Lúcia e Vera. Eugênio morreu afogado em 1939, quando nadava nas águas do Tietê.
De todos os filhos de Amadeu, restam vivos apenas Osvaldo e Lúcia. Eugênio Guadagnoli, emérito advogado e ex-presidente da subseção Tatuapé da OAB, – e Edwaldo, são filhos de Oswaldo. Dona Lúcia, hoje com 66 anos, chegou a estudar no G.E. de Vila Gomes Cardim, quando instalado na Rua Coelho Lisboa.
Mas nem só de uvas viveu o Tatuapé. Inúmeras chácaras produziam caquis, ameixas, mangas, acabates, peras d’água, goiaba, amoras, figos, laranjas, mexericas, bananas, limões, pêssegos, pitangas e uma infinidade de outras frutas. Algumas propriedades cultivavam apenas hortaliças e legumes; outras, só frutas, mas havia as mistas, que cultivavam coisas diversas e, não raro, desenvolviam criação de vacas, porcos, coelhos, galinhas e outros animais.
A maior parte dos chacareiros tinha suficiente leite para o consumo familiar. Aqueles que não possuíam uma vaca sequer podiam se abastecer na vizinhança, pois era grande o número de vacarias na região.