Antes da chegada dos Matarazzo ao bairro do Tatuapé, até o início dos anos trinta, o Tatuapé ainda mantinha sua estrutura essencialmente agrícola. Chácaras de verduras, de frutas e de flores dominavam quase que totalmente sua vasta extensão.
Importante, também, a participação de criadores de pequenos animais de abate e de provedores de leite. Ao mesmo tempo, alguns proprietários não faziam dessas terras seu meio de vida.
Como grande parte deles era constituída de imigrantes e, no geral, oriundos de povoados pobres da Europa, se torna fácil deduzir a proveniência do seu interesse pela terra.
Assim, alguns possuíam sítios ou chácaras apenas para lazer; outros, embora vivendo nelas, serviam-se dos seus produtos unicamente para o consumo de suas famílias; um terceiro grupo as possuíam como meio de aplicação de capital.
A CHEGADA DOS MATARAZZO
Não se sabe qual das hipóteses moveu um empresário da estatura do Conde Francisco Matarazzo em direção ao Tatuapé. Mas qualquer que tenha sido, uma coisa é certa: elevou o prestígio do bairro e deve ter incentivado outros a seguir seus passos.
Esse fato histórico ocorreu em 1927, quando comprou a Chácara do Piqueri. Um pedaço da maravilhosa área verde que um dia pertencera ao desbravador Braz Cubas e ao empreendedor padre Mateus Nunes. As terras compradas pelo conde continham exuberante flora, na qual sobressaiam: paineiras, ipês, cambuis, ingás, sibipirunas e muitas outras.
Algumas delas eram árvores centenárias. A propriedade chegava até as margens do Tietê, paraíso de inúmeros chorões. Certas áreas eram ocupadas por densos bambuzais. Naquela época o rio serpenteava por toda a região criando ao longo do seu leito belíssimas enseadas, tranqüilos remansos e deliciosas prainhas.
Simultaneamente à aquisição da chácara, o Conde Matarazzo comprou a olaria pertencente a Genaro Perfetto, localizada nas imediações. Claro, que além de outros meios de transportes, o rio oferecia excelente escoadouro à produção, tanto dos produtos da chácara como aos da olaria.
Nos áureos tempos, o Conde recebeu em sua chácara do Tatuapé as mais altas figuras do cenário político e empresarial do País. A elite paulistana participou de inúmeras festas, realizadas nos bosques da maravilhosa vivenda, oferecidas pela família em comemoração a diversos eventos.
Em 1971, as autoridades municipais procedem à desapropriação da chácara. Ainda mantendo grande parte da beleza antiga, a histórica propriedade é entregue à população com o nome de Parque do Piqueri. Isto, sete anos mais tarde.
A CHÁCARA DE AZEVEDO SOARES
Na parte alta do bairro, em Vila Gomes Cardim, um casal de portugueses, Joaquim José de Azevedo Soares e dona Candida, sua esposa, possuíam uma chácara de 42 mil metros quadrados desde os anos finais do século 19.
A propriedade ficava entre as atuais Ruas Serra do Japi, Azevedo Soares e Coelho Lisboa. Nos fundos, uma cerca a separava da chácara da família Guadagnoli. A Rua Itapeti ainda não existia na época. A família Azevedo teve destacada atuação naquela região.
Já em 1909, Joaquim e sua esposa compravam um terreno pertencente a Francisco José de Souza Vila Nova, no qual existia uma velha igrejinha. Os compradores o doaram a Irmandade do Divino Espírito Santo, entidade que seria responsável pela administração de uma nova capela, esta em louvor a N. S. do Parto, cuja edificação já estava sendo providenciada pelo senhor Joaquim.
O interessante desse fato, é que o terreno do senhor Vila Nova ficava no antigo Largo do Espírito Santo, que mais tarde chamar-se-ia Largo N. S. do Bom Parto. Na década de 50, a igreja perderia a posse do local para a Prefeitura, após longa e fastidiosa demanda. Esse o motivo pelo qual a igreja atual foi construída na esquina das Ruas Serra do Japi com a Azevedo Soares e não no centro do largo.