Na segunda-feira, dia 11, o índice do Sistema Cantareira marcava 13,8% de sua capacidade. Segundo o consultor ambiental e especialista em orçamento público, Alessandro Azzoni, o Ministério Público Federal (MPF) chegou a recomendar que o governo estadual colocasse em prática o racionamento de água na região metropolitana de São Paulo. O objetivo, evitar um colapso no sistema.
“O intuito do pedido foi o de garantir o fornecimento de água e a proteção ao meio ambiente, evitando o esgotamento dos reservatórios. Existem duas maneiras de visualizarmos esta questão, de acatar ou não, o racionamento. Primeiramente, o governo descarta, pois está trabalhando com a possibilidade de que volte a chover nos meses de setembro, outubro e novembro. Ele também contabiliza o fornecimento somando todos os reservatórios existentes e o uso de suas respectivas reservas, pois está trabalhando na interligação desses reservatórios, criando um sistema de compensação entre esses reservatórios. Por este motivo, o governo do Estado descartaria o racionamento. Por outro lado, acatá-lo seria mais prudente, pois evitaria a degradação dos ecossistemas que envolvem esses reservatórios e também o risco deles se esgotarem”, avaliou.
MEDIDA NECESSÁRIA?
Quanto à utilização do chamado volume morto, Azzoni destaca que a medida foi necessária em vista do cenário, entre fevereiro e março, do Sistema Cantareira. “As interligações aguardavam as licenças ambientais e as instalações atrasaram. Além disso, tinha a questão da estiagem e a população, na ocasião, não estava preparada para economizar. Nesta somatória de fatos, acredito ter sido inevitável o uso do volume morto.”
Mas a medida também teve o seu lado positivo. “Sem esta reserva estaríamos com o Sistema Cantareira completamente esgotado. Hoje ele encontra-se com menos de 15% de sua capacidade e já usamos 3,4% desse volume, além de esgotarmos o seu volume normal. Então, a iniciativa, naquele momento, foi a saída mais rápida e inevitável.
CONSEQUÊNCIAS
Então, diante de todo este cenário, quais serão as consequências a curto, médio e longo prazos, para a recuperação dos mananciais que abastecem o Sistema Cantareira? “A curto prazo, as chuvas vão demorar a recompor os mananciais porque, como está muito seco, levará um certo tempo para umidificar o solo e, assim, começar a encher novamente em processo lento. A médio e longo prazos, com a volta das chuvas e da água, a fauna e a flora vão demorar para iniciar a recomposição de seus ecossistemas. A degradação ocasionada pela estiagem e a seca dos reservatórios serão amargadas por muito tempo”, observou Azzoni.
ECOSSISTEMA
Ainda na avaliação do especialista, o ecossistema adjacente já sofreu um grande impacto. De todos os seres que lá viviam, os que não morreram migraram para outras regiões. “A fauna foi comprometida drasticamente, pois o que determina a permanência dos animais é a água. A flora também se adequou. Sobrevivem somente as plantas que necessitam de pouca água e que aguentam grandes temperaturas. O cenário já foi modificado. Para ter início a sua recuperação são necessários dois mil milímetros de chuva.”
CRISE EVITADA?
Mas a crise hídrica poderia ter sido evitada ou, pelo menos, atenuada? “Sim, poderia. É claro que a diminuição das chuvas vem se perpetuando ao longo do tempo, o que pode ser visto nos gráficos pluviométricos. Por outro lado, com a população crescendo, outras fontes de fornecimento deveriam ter sido procuradas. O último reservatório construído foi o do Alto Tietê, em 1993, pelo então governador Fleury. Portanto, ficamos defasados em fornecimento. Do outro lado, o efeito estufa já provoca zonas de desertificação em diversos continentes e, além disso, a redução das perdas que chegam a 1/3 de toda a distribuição de água ainda é um absurdo. Esses níveis deveriam ser reduzidos como no Japão, a um dígito, ou seja, lá a perda na distribuição chega a 6%. Perder 1/3 de água tratada é um absurdo, mesmo que 18,8% sejam perdas efetivas e 14,2% perdas por ligações clandestinas e furto de água! Números que não poderiam ser admitidos neste cenário”, concluiu Azzoni.