Em 1933, quase junto à Igreja da Consolação, Rafael Boccia dava início a uma pequena empresa. Pouco tempo se fixou naquele endereço, procurando um local mais adequado. Sua escolha recaiu num terreno da Avenida Celso Garcia, nas proximidades do atual Hospital Municipal do Tatuapé. Era uma época de precários transportes, e os chacareiros da região necessitavam de algum meio para levar suas mercadorias ao mercado central. Rara a chácara que não possuía pelo menos uma carroça e um cavalo para essa finalidade. Em seus anos iniciais a São Rafael dedicou-se à fabricação de carroças para atender principalmente esses produtores agrícolas.
A partir da década de 40 e nas subseqüentes, São Paulo passa por grandes transformações. A carroça, como meio de transporte de mercadorias, mostra-se inadequada com relação ao vertiginoso crescimento da cidade. Os caminhões, na época Fords e Chevrolets importados, vão celeremente expulsando carroças e cavalos e tomando todas as ruas. No início dos anos 50, auxiliado por Amadeo e Pedro, seus filhos, Rafael redireciona sua empresa para a produção de carrocerias para caminhões.
Em face do acerto da medida tomada e do crescimento, a empresa necessitava de um terreno de maior área. A mudança para a Avenida Celso Garcia, 4.285, local onde permanece até os dias atuais, deu-se em 1954. Durante alguns anos a São Rafael se dedicou à fabricação de centenas de carrocerias de madeira para caminhões. Com a sofisticação das áreas comercial e industrial, começam a prevalecer novas tendências. O setor de transporte passa a ser mais exigido, normas começam a ser estabelecidas. Dimensão, peso, formas de acondicionamento e preservação das mercadorias transportadas e outros itens passaram a ser observados. Atentos a essas mudanças, na década de 60, os responsáveis pela São Rafael começam a fabricar furgões isotérmicos para o transporte de produtos perecíveis. Desse patamar para a produção de furgões frigoríficos foi um passo. Alguns anos depois, antes do final da década de 70, a São Rafael chegava ao seu estágio atual: a fabricação de câmaras frigoríficas estacionárias para supermercados, indústrias alimentícias, hotéis, laboratórios etc.
A partir de 1981, já sob a administração da terceira geração, composta por Augusto, Amadeo Carlos e Alexandre, sempre com a valiosa experiência de Amadeo, a São Rafael parte para novos vôos. Em 1978 a empresa havia comprado uma gleba de terra em Cangaíba tendo em vista a necessidade de expansão. Em 1980, ocorreria o inesperado: a desapropriação de dois terços do terreno para a passagem da Rodovia Ayrton Senna. Inviabilizado aquele primeiro plano de mudança, em 1986 a empresa parte para uma nova compra, desta vez 40 mil metros quadrados no pólo industrial de Arujá. Pensando no futuro, mas com os pés no chão, a São Rafael está construindo nele sua nova sede.
Indagado sobre as diversas fases da empresa, Augusto Dalman Boccia, diretor comercial, expõe sua opinião: “A São Rafael poderia estar vivendo dias mais tranqüilos. Infelizmente os diversos planos econômicos, a desvalorização cambial e o absurdo apagão atrasaram nosso desenvolvimento e complicaram o nosso desempenho. Em face de tais dificuldades, tivemos de redirecionar as estratégias e tomar medidas drásticas para enfrentar as situações criadas. No passado tivemos 240 pessoas em nosso quadro de funcionários, atualmente contamos com 45 apenas. Tivemos que desenvolver novas tecnologias, não só operacionais, mas também com relação aos produtos e optamos por terceirizar a fabricação de alguns componentes. Antigos funcionários montaram suas próprias oficinas e são nossos fornecedores.”
A São Rafael Indústria e Comércio Ltda., ao completar seus 70 anos de existência, continua ocupando seus quase seis mil metros quadrados de área em terras do Tatuapé.
Fontes de informações: Depoimento de Augusto Dalman Boccia – diretor comercial da São Rafael.