Oprofessor dr. Coryntho Baldoino Costa Júnior, que foi vereador e deputado entre 1956 e 1960, sendo amigo pessoal de Jânio Quadros, que foi governador de São Paulo e presidente da República, trouxe para o Tatuapé com o seu prestígio pessoal e sua força jornalística um número considerável de melhorias, que acabaram sendo fundamentais para as indústrias que se instalavam no bairro, gradativamente alicerçadas em melhores condições de infra-estrutura.
As melhorias pleiteadas pelo homem público e jornalista, Coryntho Baldoino Costa Júnior, como dos transportes, dos logradouros com calçamento e asfalto, redes elétrica, de água e esgotos, no contexto da região, acabaram se tornando realidade e atingiram de forma grandiosa as reais necessidades do Tatuapé, que já àquela altura vinha sendo cognominado como o “Bairro Gigante”, transformando-o em um bairro de grande força industrial.
Pai e filho tinham acabado de sair do fórum e se encaminhavam para sua residência quando o primeiro queixou-se. Um mal-estar repentino o acometera. Preocupado, pois seu pai jamais se queixava, o filho num átimo direcionou seu veículo para o consultório do dr. Silveira, na Avenida Conselheiro Carrão. Lá chegando, foram atendidos com a máxima presteza. O dr. Silveira mal começara a auscultar o amigo, quando notou que algo de anormal acontecera. Tomou seu pulso, chamou diversas vezes.
– Clóvis! Seu pai acaba de falecer! – exclamou assustado.
Atônitos, por longos minutos, os dois homens quedaram-se aturdidos, imobilizados.
Dessa forma, silenciosamente, nos braços do filho e de seu conterrâneo, falecia o dr. Coryntho Baldoino Costa Junior. Eram cinco horas da tarde do dia 21 de agosto de 1971.
Naquela data, não só sua família, mas todo o Tatuapé, perdia um dos seus mais queridos membros.
Paulistano e tatuapeense por adoção, o dr. Coryntho nascera em 11 de setembro de 1919, na cidade de Canavieiras, região sul da Bahia. O dr. Coryntho Baldoino Costa, médico formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1930, era seu pai, e d. Celina da Cruz Correia Costa, sua mãe. Além de Coryntho, o casal tinha mais três filhos: Dilmar, Jercy e Celina Plácida.
Vindos da Bahia, o médico e família primeiro residiram na cidade de Mogi das Cruzes, nela instalando seu primeiro consultório em nosso Estado.
Morando nessa cidade, e todos os dias viajando de trem para São Paulo, Coryntho conheceu Dinah Fernandes, que mais tarde viria a ser sua esposa. Ele estudava no Colégio Alfredo Pucca, ela era aluna da Escola Normal Padre Anchieta.
Ao transladarem-se para São Paulo passaram a residir primeiro na Rua Maria José, Bela Vista. Nesse local o pai de Coryntho instalou um laboratório farmacêutico que denominou Nova Era. O médico era proprietário do Hospital Metropolitano, na Rua Barra Funda, 16.
Simultaneamente atendia num consultório da Avenida Rangel Pestana, nas proximidades da Praça Clovis Beviláqua.
Em 3 de maio de 1941, com 22 anos, Coryntho casava-se com Dinah. Em 1945, o casal compra o Externato São Paulo Brasil, pertencente a D.
Maria Eugênia Vidal Ortiz, que ocupava diversas salas de um prédio de dois andares na Avenida Celso Garcia, 4.571, defronte da Rua Vilela.
Devido as dificuldades iniciais, o casal passou a morar no próprio recinto da escola. D. Dinah dirigia o Externato e dividia as aulas com o marido, na época professor, diplomar-se-ia advogado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco a seguir. Mais tarde, a escola seria rebatizada: Educandário Coryntho Baldoino. Quatro filhos alegraram a vida do casal: Coryntho Baldoino Neto, Carlos Péricles, Clovis Afrânio e Ruy Olímpio.
Integrado ao Tatuapé e possuidor de índole ativa, Coryntho aproximou-se de homens que desenvolviam trabalhos comunitários na região: Hugo Tambelini, Benedito Quintino da Silva, Geraldo Fabri, Hany Dib e inúmeros outros. Há alguns anos, dezenas de indústrias trocavam os bairros mais centrais, Brás, Mooca e Belém pelo Tatuapé. Não obstante tal fato, a região ainda era dominada por incontável número de chácaras e carecia de total infra-estrutura. Com exceção da Avenida Celso Garcia e de umas poucas ruas adjacentes, todas as demais eram de terra batida. Rede de água e de esgotos, eram algo impensável naqueles dias. Quanto à rede elétrica, centenas de residências ainda não a possuíam. Transportes, somente os bondes e umas poucas linhas de ônibus que trafegavam pela Celso Garcia em direção à Penha. Portanto, aqueles homens tinham enorme trabalho pela frente.
Em 1946, com apenas um ano no bairro, Coryntho fundava um jornal: “Tribuna do Tatuapé”. Este seria o porta-voz das inúmeras reivindicações daquele grupo de homens. A “Tribuna do Tatuapé” se manteve por longos dezessete anos, só encerrando suas atividades em 1963. Mas não só por seu jornal de bairro Coryntho exigia das autoridades melhorias para a Zona Leste: fizera de sua coluna diária no “Correio Paulistano”, conceituado periódico do município, um púlpito constante para a defesa da carente região.
Abraçou diversas causas, muitas delas com absoluto sucesso: o primeiro telefone público para o bairro, na Rua Vilela em 1953. A primeira seccional de Polícia instalada em prédio entre as ruas Souza Reis e Ângelo Vita. O calçamento e a extensão das redes de água a inúmeras ruas do bairro. Educador emérito, embora proprietário de uma escola particular, lutou pela instalação de várias escolas públicas para a região.
Juntamente com seus companheiros, foi responsável pela implantação de um pronto-socorro na Avenida Celso Garcia, o embrião em matéria de saúde que se tornaria mais tarde no Hospital e Pronto Socorro do Tatuapé. Foi também muito acentuado o empenho do referido grupo de homens na implantaçao da atual Biblioteca Cassiano Ricardo, denominada no início Biblioteca Ramal 1, por ser a primeira biblioteca instalada num bairro de São Paulo. Em 1965, nova luta e nova vitória, era criado finalmente o Fórum do Tatuapé, atualmente denominado Fórum Desembargador Paulo Barbosa de Campos Filho. Coryntho foi o primeiro presidente da Associação dos Advogados do Tatuapé.
Sua firme atuação em prol das melhorias do bairro o aproximou de homens proeminentes da política paulistana. Na década de 50, quando a política local era inteiramente dominada pelo governador Ademar de Barros, Coryntho e seus amigos fecharam fileiras com um vereador recém-eleito: Jânio da Silva Quadros. Cheios de idealismo e desejosos de mudanças, trabalharam arduamente nas diversas campanhas daquele novo político. Diversas vezes Jânio Quadros almoçou na casa de Coryntho, em companhia daquele grupo de correligionários. A empolgação dos moradores dos bairros paulistanos elevou o novo líder ao cargo de prefeito. Pouco depois o entusiasmo contaminava os habitantes das cidades do Estado e faziam dele seu governador. O clímax daquela fulminante escalada ocorreu no início de 1961, quando Jânio Quadros chegou à presidência da República. O entusiasmo de Coryntho e de seus companheiros duraria apenas 7 meses, pois em 25 de agosto daquele mesmo ano Jânio renunciava.
Naquela época de intensa atividade política, Coryntho chegou a exercer, entre os anos de 1956 e 1960, os cargos de vereador e de deputado estadual. Após a inesperada renúncia daquele que fora seu líder, desinteressou-se por assuntos políticos. Voltando ao início desta narração, poucos anos mais tarde e prematuramente, aquele baiano – paulistano e tatuapeense – viria a falecer. Não obstante seu prestígio e as possibilidades que se descortinaram à sua frente, Coryntho morreu como um homem de medianas posses. Todo seu patrimônio limitava-se à casa própria em que morava com a sua família, propriedade adquirida com o dinheiro de uma herança familiar recebida por sua esposa. Deixou para os filhos, também advogados, um calhamaço constituído de 180 processos em andamento, dos quais muitos não lhe renderiam honorários, isso porque, segundo ele, essas pessoas não tinham meios para pagar seus serviços. Dona Dinah viria a falecer vinte e um anos depois do marido, em 7 de março de 1992.
Muitas foram as agraciações recebidas por Coryntho Baldoino Costa Junior, mas uma lhe tocava profundamente o coração: o Título de Cidadão Paulistano.
Entrevista concedida no dia 15 de outubro de 2003 por Clovis Afrânio Baldoino Costa e Coryntho Baldoino Neto, filhos do ilustre personagem biografado.