Desde o último dia 8 de dezembro, data do primeiro “rolezinho” – encontro marcado pela Internet que reúne grande quantidade de jovens, normalmente oriundos de regiões mais periféricas do município – ocorrido no Shopping Metrô Itaquera, a mídia vem apresentando opiniões antagônicas sobre o assunto.
De um lado, há um grupo que defende o direito de lazer desses jovens e afirma que essa é uma forma de protesto, já que eles sempre foram marginalizados. Do outro lado, há lojistas, políticos e organizadores que temem pelo impacto negativo nas vendas e pela segurança dos consumidores, pois existem grupos de marginais que se aproveitam da confusão para se infiltrarem e realizar roubos e furtos.
Diante disso, esta Gazeta ouviu o psicólogo Silvio José Coutinho, para que pudéssemos ter uma análise mais profunda sobre o tema.
SOCIEDADE
“O ‘rolezinho’ em si não tem nada de novo, é uma reprodução – em escala, força e matiz diferenciadas – do ‘Black Block’, das Torcidas Organizadas, dos Pit Buls de boate e, pasme-se, até mesmo dos jovens que atearam fogo no índio Galdino, há 17 anos atrás em Brasília, ou seja, uma horda pseudo organizada cujos princípios vão do nada a coisa nenhuma. Objetivo? Causar!!!
E, enquanto causam, destituem o direito alheio, afrontam a ordem do lugar e espalham a insegurança – quando não tragédias maiores, desnecessárias serem trazidas aqui em coleção.
Não creio tratar-se de ser contra ou a favor, de se estar ou não discriminando a quem ou a que classe social seja, muito menos discutir sobre a falta de lazer que remete aos jovens se organizarem para causar. Ora, convenhamos, se cada um de nós em nosso imensurável tédio pela vida – e quem já não o teve – resolver sair por aí gritando, quebrando, batendo e causando furor pelas ruas, pelos shoppings, pelos centros de convivência, enfim, o que podemos esperar senão o clima de medo e constrangimento que tem nos deixado perplexos ultimamente?!
Mais do que falta de lazer há, sim, um vazio muito grande, uma falta de conteúdo, de orientação, limites e sentido, de presença da família e de uma escola verdadeira, que ensine de fato, sobretudo que a vida não é feita só do ‘eu’ mas, também do outro, que tem os mesmos direitos e merece igual respeito”.
LAZER
A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) pede que a Prefeitura de São Paulo ofereça espaços, como o Sambódromo do Anhembi como alternativa de lazer para esses jovens.
O prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou na segunda-feira, 13, que não deve empurrar o problema para a Prefeitura e que é preciso discutir a cidade. “Não adianta ficar [dizendo]: cuida dessas pessoas que o problema é seu. É a cidade que precisa ser discutida e nós precisamos evoluir no sentido de abrir espaços públicos para que as pessoas possam usufruir mais da cidade”, disse Haddad.
FURTOS
O evento do dia de 8 dezembro no Shopping Metrô Itaquera reuniu cerca de seis mil jovens, segundo a administração do centro comercial. Houve tumulto, a polícia foi acionada, as lojas do shopping fecharam mais cedo e de acordo com o boletim de ocorrência, um desempregado de 22 anos e um adolescente, de 17 anos, foram detidos após furtarem produtos da loja Symbol.
No segundo encontro, que aconteceu em Guarulhos, no dia 14 de dezembro, clientes relataram que houve muito tumulto, porém não foi registrado nenhum furto. Na ocasião, 22 suspeitos foram levados para uma delegacia da cidade na região metropolitana de São Paulo para averiguação e foram liberados em seguida.
O outro “rolezinho” aconteceu, no último dia 22 de dezembro, no Shopping Interlagos. No dia dez equipes da Polícia Militar foram mobilizadas.
Não houve registro de furtos, mas, quatro participantes foram detidos.
Agora em janeiro, 4, o primeiro encontro do ano aconteceu no Shopping Tucuruvi. O tumulto fez com que o centro de compras encerrasse o expediente três horas mais cedo. Não foram registrados furtos ou prisões.
No dia 11, o Shopping Metrô Itaquera voltou a receber o rolezinho. Nesta ocasião a Polícia Militar utilizou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os participantes. Neste dia foram registrados dois roubos e um furto. Durante a confusão, ocorreu ainda um roubo na Estação Itaquera do Metrô, que fica junto do shopping. Uma pessoa foi presa. Um adolescente foi detido e colocado à disposição da Vara da Infância e da Juventude.
No mesmo dia, outros encontros também foram marcados pelas redes sociais e seriam no Shopping Campo Limpo e Shopping JK Iguatemi. Mas antes disso, os dois shoppings obtiveram liminares na Justiça que limitavam a entrada de jovens no local.
LIMINAR
Após pelo menos cinco eventos desse tipo, centros de compras estão pedindo uma liminar na Justiça que impeça a realização de tais atos e aplique multa de R$ 10 mil para cada indivíduo que desrespeite a decisão.