Há vários sinais de que o Brasil está virando uma página política de sua história. A presidente Dilma, por exemplo, dá os últimos suspiros, mas espera apenas pelo golpe final, que será dado pelo Senado. E, ao que tudo indica, será definitivo para enterrar as pretensões do PT.
Por mais que as discussões jurídicas gerem uma série de embates, de parte a parte, dentro de um contexto democrático, politicamente a questão é bem diferente. Será praticamente impossível contornar o quadro criado até agora. Principalmente após toda a pressão lançada sobre o Senado, que também terá a obrigação de fazer uma votação aberta.
Fora do País, em reunião na ONU, a presidente admite a existência de problemas no Brasil, mas não oferece detalhes sobre a real situação. Até porque nem há a necessidade, pois o mundo inteiro já sabia, mesmo antes dela chegar.
Os aliados de Dilma não sabem mais o que fazer. Se vão votar contra ou a favor do impeachment, se vão se abster ou simplesmente ficar em casa para ver o resultado pela televisão. Em números apontados por pesquisas, sobre a votação no Senado, a presidente não fica no governo e assumirá seu vice, Michel Temer.
Aliás, lá atrás, quando Temer começou a murmurar um descontentamento, e depois transformou suas pretensões em uma carta aberta contra o governo, já se sabia que ele não iria aceitar seu partido, o PMDB, em segundo plano.
E mesmo com o aviso mais do que claro, Dilma preferiu ouvir Lula e se aproximar de outros aliados, lhes entregando mais cargos e pedindo conselhos. Com a postura da presidente, não ficou difícil imaginar o futuro: fim de um ciclo e início de outro, com o retorno de figuras conhecidas do período do Plano Real, apesar delas não admitirem.
Se olharmos bem para esse quadro, perceberemos que é o tal do “Pacto Nacional” alardeado por Dilma aos quatro ventos e prometido, caso ela permacesse no cargo. O engraçado é que esse “Pacto” poderia ter sido costurado muito antes dos brasileiros serem obrigados a sofrer um impacto tão grande.
Agora, só resta unir os maiores economistas do País para se chegar a um consenso dos próximos passos. Organizar as contas mesmo enquanto se aguarda todo o trâmite burocrático da próxima votação. Afinal, o Brasil não pode parar, como fazem nossos deputados federais que travaram as pautas do Congresso para esperar o rito do Senado.
Será tão dificil perceber que as obrigações não acabam, só pelo fato de terem votado pela admissibilidade do impeachment? Empresários, microempreendedores e trabalhadores penam com uma carga tributária descomunal. O desemprego já atinge índices absurdos e não sabemos ainda o quão fundo é o buraco. Portanto, se trata de um momento crucial para trabalhar, e duro. Não para se deitar nos louros, achando que o principal está feito, como acreditam os nobres parlamentares da Câmara.
Esta é uma oportunidade única de rever o que a Constituição apresentou em 1988, mas que já está ultrapassado. Precisamos de uma reforma política para discutirmos questões delicadas como o voto obrigatório, as eleições distritais, o número de partidos, a aceitação de doações privadas de campanhas eleitorias, entre outros temas. Muitas leis penais e criminais também estão aquém da realidade atual. Por que não rever então?
Já que muitos políticos têm defendido a moral e o respeito à voz do povo nas ruas, que façam jus ao que disseram ao microfone durante a votação na Câmara. Até porque hoje, a despeito de toda a tecnologia que nos cerca, temos todos os nomes, rostos e partidos aos quais cada um pertence.
Sendo assim, também não daremos trégua à dissimulação, pois merecemos ser respeitados. Seremos contra o voto por um par de sapatos ou uma cesta básica. Denunciemos a tudo e a todos os que foram eleitos para nos representar, inclusive porque também lidam com o dinheiro que sai de nossos impostos, cobrados a peso de ouro.