Com estimativa de 90 mil moradores, bairro segue como referência e crescendo cada vez mais
Por que o Tatuapé atrai tantos olhares? Como ele conseguiu tamanho destaque? Sim, o bairro não é mais o mesmo. Se isso é fato, o que o torna tão atrativo? A pergunta pode ser feita para várias pessoas, e muitas serão as respostas. Isso porque cada um tem a sua visão sobre a sua evolução.
Nos últimos 30, 40 anos, o Tatuapé passou por diversas mudanças. Não só pelo “boom” imobiliário que atingiu o mercado inteiro em várias regiões de São Paulo, incluindo a Zona Leste, mas pelo lugar estratégico alcançado.
A observação é do morador Marcelo Fratello. “Por que lugar estratégico? O PIB da Zona Leste está no Tatuapé. Pode até ser absurdo, mas é uma grande realidade. A localização do bairro virou algo muito estratégico. Quem mora em Guarulhos está próximo, quem está nas extremidades da Zona Leste vem mais para o Tatuapé, que está perto do centro, do aeroporto de Cumbica e dentro de um raio que mexe com várias regiões”, explica.
Muitas marcas e franquias acabaram vindo para o Tatuapé. “Hoje o tatuapeense não precisa sair do bairro para consumir em outras regiões. E quem mora em bairros vizinhos pára no Tatuapé. Aqui você tem noite, lazer, entretenimento, uma gama de bares, restaurantes, sorveterias, cafés e docerias de várias etnias”, observa.
A presença de descendentes de imigrantes, e de tantas outras famílias que vivem no bairro, fazem tudo acontecer. “Hoje o Tatuapé tem uma estimativa de mais de 90 mil moradores, de diversas gerações, classes sociais e etnias. É legal ver este retrato da linha do tempo com seus avanços. Essa geografia ficou interessante”.
Marcello ainda faz uma referência aos empresários. “Eles precisam ser valorizados. Eles passaram por muitas situações e continuam apostando no bairro. Quando você fala em Zona Leste, você fala em Tatuapé”, completa.
A FORÇA DA VERTICALIZAÇÃO
Por volta de 1970 a verticalização começou a ganhar força. A transição de área rural foi ocorrendo de forma gradativa. As ruas antes repletas de chácaras e casarões suntuosos deram lugar a casas menores e prédios.
Portanto, entre as transformações mais impactantes, a do mercado imobiliário para muitos é considerada a mais importante. Mauro Mattar, nascido e criado no Tatuapé, tem 48 anos e presenciou muitas transformações.
“Mudou muito. Acredito que as construtoras foram, em parte, as grandes responsáveis por este crescimento que possibilitou a visibilidade que o Tatuapé tem atualmente. Para mim, foi a porta de entrada para atrair outras coisas, como, por exemplo, os restaurantes. Há 20 anos eram poucos os estabelecimentos e opções”, observa.
Pode-se dizer que foi um crescimento conjunto? Sim. “Isso atraiu muitos investidores. O bairro cresceu e, no meu modo de ver, ainda está crescendo. A maior concentração de carros esportivos está aqui no Tatuapé. Muito mais do que na Zona Sul. Existem cada vez mais projetos, inclusive de prédios com centros comerciais”, observa.
Ele é uma das pessoas que resolveram apostar no bairro. Através de seu restaurante mexicano, ele serve bem e atrai a atenção de um público que só cresce. “Eu acredito que o Tatuapé tem muito mais a oferecer e crescer graças às construtoras e outros empreendedores que vêm investindo pesado. O Tatuapé é maravilhoso”, finaliza.
MUDANÇA DE PERFIL
Esse processo resultou em um novo perfil de atendimento. Os moradores passaram a consumir no bairro e a diversidade e atendimento diferenciados ganharam força.
O Don Miguel Mexican Bar, por exemplo, foi pioneiro no sistema de rodízio de comida mexicana no Brasil. Em 1995, a Cantina Lo Spaghetto, através de Giovanni Santoro, trouxe o autêntico sabor italiano ao bairro e, de olho nas novas tendências de consumo, implementou o serviço de delivery para entregar artesanalmente, na casa dos clientes, as massas que se tornaram assinatura da cantina.
DE FLORIANÓLIS PARA O TATUAPÉ
O La Pergoletta surgiu em Florianópolis. O ano era 1996. Por motivos sentimentais, Elia Seganti resolveu abrir uma loja no Tatuapé. “A minha esposa tinha uma doceria na Rua Itapura e vagou um lugar ao lado. Coloquei uma loja de massas. Nada demais”, conta.
A partir daí, as pessoas passaram a querer fazer degustações das massas para levá-las para casa. Colocamos uma mesinha e começou a fazer fila de espera. Colocamos mais 2, 3 mesas, mas como era uma lojinha pequena, colocamos mesas do lado de fora, na calçada. Chegamos a ter uns 30 metros de mesas. Não tínhamos nem garçons.”
A ideia deu tão certo que a pequena loja expandiu para outros imóveis. Hoje são oito casinhas grudadas umas nas outras. Elia conta ainda que na época não tinha nada no Tatuapé.
“No início as pessoas ficaram com o pé atrás. Elas diziam: vai abrir um restaurante aqui, que não tem nada? Havia um preconceito com a Zona Leste com relação à alta gastronomia.
As pessoas iam para bairros da Zona Sul. Mas sabíamos da qualidade dos nossos produtos”, relembra.
A característica é servir comida tradicional italiana com criatividade. “Tem pratos que só nós fazemos, sem serem pratos esquisitos. O que acontece: muitas vezes os restaurantes fazem pratos muito inusitados que as pessoas comem mais pela curiosidade, do que por gostar”, indica.
No início os clientes eram moradores da região, mas eles começaram a convidar amigos e parentes de outros bairros. “Como eram pessoas da Zona Sul, os meus clientes ficavam temerosos quanto a não gostarem da comida. Foi aí que começaram os reconhecimentos que nos colocaram num patamar alto quanto à qualidade”.
A marca expandiu e, Elia, que tem um irmão que mora em Los Angeles, percebeu a necessidade de ter na cidade um restaurante legítimo italiano, mas com um pouco de estilo brasileiro. “Fizemos vários almoços e jantares para amigos. Todo mundo apreciou e abrimos a primeira La Pergoletta. Agora são duas”.
Além de um espaço para eventos e casamentos, a Panne – padaria de fermentação natural – no estilo italiano, chega ao grupo.
356 ANOS
Tendo como data de fundação o dia 5 de setembro de 1668, o Tatuapé está completando 356 anos. Sua rica e importante história está toda documentada em livros. O autor? Pedro Abarca. Com 93 anos, o seu último lançamento foi o exemplar completo sobre a “História do Tatuapé.”
Durante o século XIX, o bairro continuou a ser uma área rural, mas com o crescimento de São Paulo, o Tatuapé se urbanizou. A partir do final do século XIX e início do XX, a região passou por uma fase de industrialização, especialmente com a instalação de fábricas e tecelagens, que atraíram trabalhadores para o bairro.
O processo de urbanização intensificou-se nas décadas de 1970 e 1980. A inauguração da Linha 3-Vermelha do Metrô, em 1979, foi um fator chave para a transformação do bairro, trazendo facilidade de transporte e aumentando a atratividade da área para o mercado imobiliário e de consumo de serviços.
As movimentadas ruas Itapura, Coelho Lisboa, Emília Marengo, Antonio de Barros e Tuiuti são alguns exemplos. Essas vias atendem os moradores há décadas. Se durante o dia o Tatuapé é sinônimo de movimento comercial, à noite o bairro se transforma em um dos polos mais agitados.
Bares e restaurantes sofisticados atraem o público em busca de boa gastronomia e música ao vivo. A diversidade de opções, que vai de botecos tradicionais até estabelecimentos gourmet, faz do Tatuapé um destino favorito para quem quer curtir a noite sem precisar ir para outras regiões.
ESPETOS E MÚSICA
Em 2014, o Quintal do Espeto trouxe uma proposta diferente ao bairro, com estrutura, tamanho físico, arborização interna e um novo conceito de atendimento de espetos e porções e grandes shows. Muitos são os artistas que já subiram no palco da casa, que em 2024 completa 10 anos de Tatuapé.
PASSADO, PRESENTE, FUTURO
Além do comércio e da vida noturna, quem não conhece a Praça Silvio Romero e o Largo do Bom Parto, pontos de encontro para aquele jogo de dominó e cartas. No Tatuapé, passado, presente e futuro se convergem em uma região que se reinventa constantemente.
Seja pelo comércio, lazer e cultura, ou pela vida noturna, o bairro mescla tradição e modernidade. Entre as arquiteturas mais importantes que resistem ao tempo está a Casa do Tatuapé.
Originalmente uma fazenda, ela está diretamente ligada ao período colonial do Brasil, quando a região do Tatuapé ainda era uma área rural e pouco habitada. Em taipa de pilão é um exemplo raro de arquitetura de séculos passados.
Em 1979 o espaço foi tombada pelo Condephaat (órgão de preservação do patrimônio histórico de São Paulo). O processo de restauração foi iniciado para resgatar as características originais e hoje o local funciona como parte do complexo de Casas Históricas do Museu da Cidade de São Paulo.
A RESERVA PIQUERI
Outra história bem significativa e importante é a do Parque do Piqueri, que tem uma ligação direta com a Família Matarazzo. Ao migrar da Itália para o Brasil, Francesco Matarazzo, no final do século XIX, adquiriu terras na Zona Leste, incluindo as áreas que hoje compõem o Parque do Piqueri, para manter as atividades agrícolas da família e servir de espaço de descanso e lazer.
A Prefeitura adquiriu a propriedade em 1970, e o parque foi inaugurado em 1978. A transição da propriedade rural da Família Matarazzo para um parque público marcou a passagem de uma das fases mais importantes: da era industrial e agrícola para uma fase mais urbana, além de preservar a história e a vegetação original da região, criando um espaço verde em meio ao crescimento urbano.
FAZENDA SÃO JORGE
Sede do Sport Club Corinthians Paulista, a história do Parque São Jorge está profundamente ligada ao desenvolvimento do clube e à urbanização da região.
A área foi adquirida pelo Corinthians em 1926, com o objetivo de expandir a sua estrutura e proporcionar melhores condições aos seus atletas e associados.
O terreno era uma chácara conhecida como Fazenda São Jorge, e após a aquisição, o Corinthians começou a desenvolver sua nova sede social e esportiva. A construção do estádio começou em 1928, com a inauguração oficial do campo em 1929.
Com o tempo, o Parque São Jorge passou a abrigar não apenas o estádio, mas também um complexo esportivo com piscinas, quadras de tênis, ginásios e outras instalações voltadas para atividades recreativas e esportivas dos associados.
Também conhecido como Estádio Alfredo Schürig ou Fazendinha, serviu por muitos anos como principal palco dos jogos do Corinthians antes da construção do Estádio do Pacaembu. Isso até a inauguração da Neo Química Arena (Arena Corinthians), que fica em Itaquera, no ano de 2014.
AMOR ETERNO
Nascido no Hospital Cristo Rei (hoje transformado em prédio residencial), Wilson Almendra, como bom corintiano, exala elogios ao bairro. “Eu amo o Tatuapé. Ele é maravilhoso, espetacular. Bairro que tem o meu Corinthians… Entendo que o Tatuapé não é um bairro. É uma cidade”, observa.
Pra ele o Tatuapé tem de tudo. “Se você procurar um teatro bom, tem; se você procurar um clube bom, tem; se você procurar praças, tem várias maravilhosas, se você procurar shoppings, tem; se você procurar um restaurante português, também tem; se quiser italiano, tem vários; mexicano, também, assim como francês, japonês e churrascarias. Antigamente você só encontrava este tipo de gastronomia em bairros nobres da Zona Sul”, relembra.
“Você tem no quintal da sua casa uma rede gigante de alta gastronomia”. Para o morador, o bairro é completo. “Tenho a felicidade de advogar para diversos restaurantes, do qual eu tenho muito orgulho. Fiquei com o meu escritório no centro da cidade por 16 anos, mas acabei cedendo e trazendo tudo pra cá. Eu me sinto lisonjeado e tenho muito orgulho de fazer parte da família Tatuapé”, concluiu.