O país asiático do Camboja, vizinho da Tailândia e do Vietnã, apresenta números e fatos recentes que desencorajam a consolidação de uma estrutura turística rentável e que possa atrair massas de visitantes.
Com uma economia essencialmente agrícola, dependente quase exclusivamente da produção de arroz, o Camboja apresenta baixo Índice de Desenvolvimento Humano (0,494) e expectativa de vida de apenas 59,7 anos.
As guerras e conflitos também deixaram marcas profundas em sua população. Após a Segunda Guerra Mundial, o país se torna independente da França e o crescimento comunista abriu caminho para um dos mais sangrentos conflitos da história mundial recente.
Partidário do Khmer Vermelho, o governante Pol Pot promoveu o que ficou conhecido como Genocídio Cambojano, que ceifou a vida de mais de dois milhões de pessoas – cerca de 25% da população à época. Tudo isso entre 1975 e 1979.
O massacre foi combatido pelo vizinho Vietnã, mas os Khmers Vermelhos só foram destituídos do poder nos anos 1990, sob intervenção da ONU, que deu início a um processo de democratização.
Como vimos, a história recente do país provoca mais medo do que inspira tranquilas viagens de férias em resorts. Porém as manchas do genocídio não apagaram a riqueza da riquíssima história antiga do Camboja.
Dentre os inúmeras riquezas culturais da história milenar do país, destaca-se o legado deixado pelo rei Suryavarman II, que governou o Império Khmer entre 1113 e 1150. Foi ele o responsável pela construção do templo hindu Angkor Wat, representado na foto acima.
REDESCOBERTA
Hoje considerado patrimônio mundial pela Unesco, o templo de Angkor Wat foi abandonado no século XVI, sendo posteriormente sepultado pela vegetação tropical abundante – apesar de alguns historiadores afirmarem que o templo continuou sendo habitado por monges budistas.
A descoberta ocidental documentada e aceita foi feita pelo português António da Madalena. A expedição foi acompanhada pelo historiador, também português, Diogo do Couto, que registrou as primeiras impressões, que já transpareciam a dificuldade em descrever a suntuosidade da descoberta.
“Uma construção de tal modo extraordinária que não é possível descrevê-la por escrito, especialmente é diferente de qualquer outro edifício no mundo. Possui torres, decoração e todos os refinamentos que o gênio humano pode conceber”, escreveu Couto.
RELATOS IMPRESSIONANTES
A “descoberta” evidentemente atraiu outros historiadores europeus, dentre eles o naturalista francês Henri Mouhot, em 1860. Na publicação póstuma de seus diários, reunidos em “Voyage dans les royaumes de Siam, de Cambodge de Laos”, Mouhot também não esconde o seu pasmo.
“Um desses templos — rival do de Salomão, e erigido por algum antigo Michelangelo—, poderia ocupar um honorável lugar entre os nossos edifícios mais belos. É maior do que qualquer do nossos legados de Grécia e Roma, e apresenta um triste contraste com o estado de barbárie em que agora se encontra sumida a nação”, relatou o naturalista.
BELEZA E CINEMA
Os relatos falam por si só, mas alguns dados podem contribuir para descrever a dimensão de Angkor Wat. A construção mede de 1.500 por 1.300 m, numa extensão de aproximadamente 200 hectares, que incluem um lago perimetral de 190 metros de largura.
Talvez mais importantes que as dimensões sejam as inscrições artísticas do templo, que em baixo-relevo contam a história de batalhas e descrevem cenas religiosas, como os céus e infernos hindus. O templo ganhou tanta importância ao longo dos anos que hoje a sua imagem estampa a bandeira oficial cambojana.
É claro que tamanha beleza e história intrigantes não passariam despercebidos dos olhos de Hollywood. O local foi usado como locação para cenas de filmes como “Indiana Jones” e “Tomb Raider”.
Angkor Wat ainda esconde mistérios e enigmas longe de serem esclarecidos. Para quem, acima do espírito turístico, guarda a alma expedicionária dos antigos exploradores é uma viagem que rende muitas histórias para contar e, sem dúvida, fotos para mostras aos netos.