A Prefeitura anunciou a implantação de um novo sistema para os semáforos da cidade. Com ele, uma bateria os manterá ligados em caso de panes elétricas, como os no-breaks de computador. É uma atitude elogiável por parte do prefeito e dos técnicos da CET, mas o interessante é que o projeto apareça justo agora, em ano de eleição. Será que era tão difícil ter colocado esse preceito em funcionamento há pelos menos três anos, no primeiro mandato de Kassab? Nós sabemos que não, pois recursos não faltam.
Outra questão que intriga: por que investir nisto agora, quando 90% dos semáforos da cidade ainda não são inteligentes e dariam muito mais resultados para a diminuição do trânsito? Talvez o prefeito responda quando estiver fora do Palácio das Indústrias, pois estará como nós, refém de um tráfego caótico e sem perspectivas de melhora. Isso se ele ainda estiver morando em São Paulo.
Será interessante para o prefeito ver de fora que os semáforos não foram modernizados com o passar dos anos e os motoristas ficaram cada vez mais selvagens. Sem o carro oficial pode ser que fique mais difícil sair da região central para ver a algum jogo do seu time do coração no estádio do Corinthians, por exemplo. Imagine Kassab dizendo para um amigo: “Nossa, o trânsito nesta cidade está piorando a cada dia e esses semáforos não ajudam. Por que em ruas que não têm tráfego intenso, a sinalização fica tanto tempo no vermelho?”.
Não será engraçado? Não, porque a cidade e as pessoas continuam o seu curso. Prefeitos vêm e vão. E é até por isso que seremos cada vez mais responsáveis pelo governo que teremos, pois a falta de preocupação de nosso mandatário com a fluidez do trânsito e com o próprio transporte pode apontar para outros problemas.
Nós somos a base e, por conta de uma série de razões, muitos melhoraram de vida. E qual é um dos fenômenos que está diretamente ligado a este fato? A compra de pelo menos um carro por família, que resulta em uma das maiores frotas de veículos do mundo. Porém, nem assim os engenheiros ligados à organização do trânsito conseguem enxergar o drama. E como tudo ocorre sem controle e planejamento a cidade segue travando. Diante disso, dá para adivinhar quem são os culpados por este caos? Nós, é claro, pois somos compradores de carros compulsivos e não conseguimos controlar nossa sanha.
Somos culpados de muitas coisas e, mesmo assim, seguimos todas as regras que nos são impostas. Algumas garantem a nossa segurança e estão certas, como o uso obrigatório do cinto de segurança e o assento para crianças no banco de trás. Mas e o que gastamos com aquele kit de primeiros socorros? Nunca mais ninguém disse nada e o projeto de lei simplesmente virou pó.
Nos preocupamos com revisões frequentes nos carros, pagamos multas que nem sempre somos os culpados, contudo saímos dirigindo nas ruas totalmente desprotegidos, pois muitos dos agentes de trânsito, contratados para tornar nossa vida mais fácil, só querem saber de nos multar. Além disso, ainda ficamos à mercê de motoristas sem educação, sem carta de motorista, menores de idade e com veículos em situação irregular.
Não nos cabe explicar como isso ocorre e nem apontar de quem é a responsabilidade, no entanto muitas coisas permanecem erradas e sem sentido na cidade em matéria de trânsito e civilidade. Resta saber se o próximo prefeito e o atual governador estarão dispostos a rever seus conceitos e deixar de olhar apenas para o próprio umbigo. Isso poderá fazer uma grande diferença e, com a chegada da Copa do Mundo, somos a bola da vez.