POR EDUARDO ROCHA
Com o Kardian, a Renault quer se reinserir nos segmentos de maior volume no mercado brasileiro. E a aposta em um SUV B de entrada, onde transitam o Volkswagen Nivus e o Fiat Pulse, tem a ver com uma expectativa de evolução natural do mercado brasileiro, pois é o segmento imediatamente acima dos hatches compactos e com grande potencial de crescimento nos próximos anos. O lançamento do Kardian é marcado por uma postura agressiva e ousada da Renault, tanto em relação a estética quanto em conteúdo e preço. O modelo chega em três versões: Evolution, Techno e Première Edition, com preços de R$ 112.790, R$ 122.990 e R$ 132.790. Esses valores fazem o Kardian ter a relação custo/benefício mais favorável do segmento.
Na parte estética, o Kardian é o primeiro modelo brasileiro a ostentar a nova logo da marca, com losangos entrelaçados. As linhas são orgânicas e arredondadas, sem dobras ou elementos geométricos, o que faz o SUV parece até menor do que é. O modelo tem 4,12 metros de comprimento, 1,75 m de largura, 1,54 de altura e conta com um bom entre-eixos de 2,60 m. A capacidade do porta-malas é 358 litros VDA ou 410 litros líquidos.
A frente traz elementos vistos no Megane E-Tech, como o emblema recortando o capô, com uma grade em preto brilhante com losangos em baixo relevo. Na parte superior fica uma linha de led com a assinatura luminosa e logo abaixo fica um cluster com faróis alto e baixo. Já o perfil lembra o do Kwid, com uma linha de janelas alta com uma elevação em curva na parte final da porta traseira. Os para-lamas salientes também remetem ao subcompacto, com a lanterna encaixada na parte mais protuberante, acima da roda traseira. As lanternas em forma de C são em relevo, o que empresta uma certa sofisticação.
Os faróis do SUV da Renault são full led desde a versão de entrada, Evolution, que traz ainda seis airbags, rodas de liga leve, barra no teto modulares, ar-condicionado digital, retrovisores elétricos, controle de cruzeiro, câmera e sensores traseiros, painel digital de 7 polegadas e central multimídia com espelhamento sem fio.
A versão intermediária Techno acrescenta alerta de colisão frontal com frenagem autônoma, console central elevado, freio de estacionamento de acionamento eletrônico, acabamento em tecido e couro sintético, apoio de braço e rodas de liga aro 17. A versão mais completa é a Première Edition, que após o período de lançamento será rebatizada para ser a configuração top de linha. Ela adiciona ainda recursos ADAS como controle de cruzeiro adaptativo, alerta de ponto cego, câmera 360º, sensor frontal, sensor de luz, carregador por indução, luz ambiente configurável, faróis de neblina, rodas escurecidas e teto em preto.
O volante multifuncional traz os comandos do controle de cruzeiro adaptativo do lado esquerdo e os botões para navegar no computador de bordo e do comando vocal. Atrás, os paddle shifts para o câmbio, o tradicionalíssimo comando satélite para o som e a haste para o limpador do lado direito. Mais atrás, no console frontal, fica o botão de partida. Do lado esquerdo ficam a haste de seta conjugada com os interruptores dos faróis. Os comandos dos vidros e espelhos elétricos ficam nas portas.
O Kardian é animado por um trem-de-força inédito, composto por um motor 1.0 turbo de três cilindros com 120/125 cv e 22,4 kgfm de torque com gasolina/etanol. Este propulsor, TCe 1.0, é uma versão menor do TCe 1.3, que movimenta versões mais fortes do Duster e da Oroch (os dois compartilham 70% das peças) e traz as mesmas tecnologias, como duplo comando variável, revestimento de peças DLC (Diamont-Like Carbon) e dos cilindros BSC, Bore Spray Coating, um revestimento de aço aplicado por plasma. Já o câmbio é o DW23, de dupla embreagem úmida, com mudanças através de borboletas no volante ou por uma pequena alavanca no console central, tipo joystick.
O alcance do lançamento do Kardian vai além do que a vista alcança. O que, de certa forma, justifica o pleonástico slogan “A mudança que muda tudo”. O SUV B-, ou compacto de entrada, é o primeiro passo da marca para ganhar uma nova inserção em mercados fora da União Europeia. Foi nesse sentido que o Grupo Renault desenvolveu uma nova plataforma modular que dar suporte a oito modelos até 2027, já incluindo o Kardian. Dos outros sete modelos, três serão do segmento C, dois do segmento D e dois serão comerciais leves, incluindo aí uma nova picape média-compacta para substituir a Oroch, baseada no conceito Niagara ‑ que deve ser o segundo modelo feito no Brasil, prevista para 2025.
Primeiras impressões
Nova dinâmica
A Renault foi pragmática ao planejar o Kardian. A fabricante usou os elementos que toda a indústria sabe que funciona, mas nem sempre usa. Isso diz respeito ao visual, ao conteúdo e ao preço. Para começar, as linhas orgânicas e arredondadas são simpáticas e familiares, ao mesmo tempo em que passam uma ideia de modernidade. Detalhes como a grade em preto brilhante, a lanterna 3D e a assinatura luminosa fazem o SUV compacto cria uma imagem bem sofisticada.
Em relação aos equipamentos, o Kardian traz um pacote que reúne itens que até são oferecidos entre compactos, mas não todos em um mesmo modelo, como sensor de ponto cego, controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão com frenagem autônoma e câmera 360º. Uma novidade no segmento é o freio de estacionamento de acionamento eletrônico, que se desarma automaticamente quando o carro é posto em movimento.
Um dos pontos de atração do modelo é o trem-de-força. Exatamente como os rivais, o Kardian traz um motor 1.0 turbo de três cilindros, mas com algumas diferenças. Ele tem 120/125 cv de potência, um pouco menos que Pulse e Nivus, mas conta com 22,4 kgfm de torque, ou 10% a mais. O câmbio também é diferente em cada um deles. No Pulse é CVT e no Nivus é automático. O automatizado de dupla embreagem úmida do Kardian é certamente o mais requintado e moderno.
A engenharia da marca optou por uma configuração de motor e câmbio que favorecesse o consumo urbano. Em um primeiro momento, pode até causar uma certa estranheza e é preciso se familiarizar com a dinâmica do modelo – o que acontece muito rapidamente. As marchas baixas, de 1ª a 4ª, são engatadas numa sequência muito rápida, em giros baixos, para reduzir o consumo no momento mais crítico, de arrancadas e retomadas. Já as marchas mais altas, 5ª e 6ª, são especialmente longas, também para favorecer o consumo em uso rodoviário. Segundo os dados do InMetro, o Kardian é de forma geral quase 5% mais econômico que os rivais, sendo que na cidade chega 8% mais eficiente, enquanto na estrada consome 2 a 3% mais.
Em movimento, ele é extremamente equilibrado. Ele se vale de uma vantagem de projeto. Enquanto os rivais são adaptações de modelos já existentes – o Pulso deriva do Argo e o Nivus, do Polo ‑, o Kardian já nasceu para ser o que é. E isso fica bastante evidente no comportamento dinâmico. O SUV da Renault se comporta como se fosse um hatch: é neutro, rola muito pouco e tem um sistema suspensivo que se equilibra muito bem entre estabilidade e conforto. Filtra as irregularidades e tem um bom controle de carroceria. Se a Renault buscava uma chance de renovar a imagem no Brasil, o Kardian é certamente um bom trunfo.