Em maio de 1951, o pároco, ou seja, o vigário titular da Paróquia N. S. do Bom Parto era o padre Cirilo Lubbers. Exatamente nesse mês, chegaria à igreja para ajudá-lo, exercendo as funções de vigário cooperador, o padre Guilherme Butter.
A maneira de ser e a forma de atuar deste sacerdote deixaria profundas marcas na lembrança dos moradores do Tatuapé. Era um homem de mediana estatutura, compleição larga, rebeldes cabelos loiros, rosto claro, penetrantes olhos azuis. Diferente de outros padres, dificilmente andava à pé. Sem abandonar a batina, e protegendo a cabeça com uma boina preta como as usadas pelos espanhóis, corria por todos os rincões do bairro montado em sua ruidosa Lambretta.
Brincalhão e extrovertido, era normal vê-lo parado em bares, rodeado por meia dúzia de amigos, fumando e tomando um aperitivo ou cafezinho, e discutindo acaloradamente futebol. Não escondia suas preferências pelo Palmeiras e, como bom entendedor do assunto, discutia futebol com o fanatismo dos torcedores comuns. Enquanto comandou a Paróquia, acompanhava de perto os jogos do time da Congregação Mariana. Fazia questão de assistir aos treinos da rapaziada aconselhando e dando instruções.
A época não era das melhores para a Paróquia. Isso ficou evidenciado pelo fraco resultado obtido com a tradicional quermesse. Em agosto de 1952, como de praxe, os paroquianos a realizaram no largo da igreja. Motivos vários se somaram para o relativo fracasso: o alto custo de vida, a reforma dos jardins da praça, a Prefeitura resolveu desenvolver o trabalho justamente no mês da quermesse, a falta de união dos organizadores e diversos outros. Acabada a festividade, os padres tentam reativar as sessões do Cine Casp (cinema da igreja).
Tanto o prédio como os projetores haviam passado por reformas. Mas, apesar do dinheiro gasto, os resultados foram insatisfatórios.
Dado os seguidos prejuízos do cinema, os responsáveis resolveram parar definitivamente suas atividades em 1953. A abertura de cinema, na Praça Silvio Romero, fez mudar os hábitos dos moradores do alto Tatuapé.
O pequeno cinema da igreja não possuía as mínimas condições de competir com o moderno e enorme Cine Leste. Pois bem, foi em meio a todas essas dificuldades que o padre Guilherme começava a atuar na Paróquia N. S. do Bom Parto. Ainda nesse ano de 1953, o padre Cirilo deixa o cargo, a responsabilidade do comando recai sobre o padre Quirino Thijssen. Este viaja para a Holanda, ficando poucos meses na chefia. Pela primeira vez desde sua chegada, o padre Guilherme passa a dirigir a igreja.
Permanece no cargo até os dias finais de janeiro de 1954, data em que é nomeado o padre Canísio Van Herkhuizen. Como seu antecessor, o padre Canísio também viaja para a Holanda, sendo o padre Guilherme efetivado na função de vigário titular.
Nos meses finais de 1955 nova onda de problemas começam a assoberbar o padre Guilherme, agora pároco da igreja, e seus auxiliares: padre João Van de Ven e Emílio Blanke. A Prefeitura e a Paróquia há muito tempo demandavam na justiça. A questão referia-se à posse do terreno do Largo Nossa Senhora do Bom Parto, cuja documentação continha graves falhas. Após três longos anos de disputa jurídica o terreno foi finalmente perdido.
Era necessário encontrar um outro local para edificar a nova igreja, já que a velha teria que ser demolida. A gleba de terra da família Azevedo Soares, ao lado da praça, passou a ser o alvo. O preço estipulado pelos herdeiros do espólio do dr. Joaquim José de Azevedo Soares era de CR$ 1.911.740,00.
Nesse momento agiganta-se a figura do impetuoso pároco. Padre Guilherme reúne paroquianos e toda a comunidade católica da região e passa a colher donativos para angariar fundos. Em quinze dias a comunidade levantava a quarta parte dessa quantia, importância essa que saldava a parcela de entrada solicitada.
A partir dela, deveriam ser pagas parcelas de CR$ 23.529,00 por sessenta meses consecutivos. É importante frizar que odr. Edgar de Azevedo Soares doou à paróquia a parte que lhe cabia da partilha do espólio de seu pai, sua atitude facilitou sobremaneira a concretização do negócio.
A quermesse nesse ano foi estendida pelos meses de julho, agosto e setembro, o que propiciou uma arrecadação recorde e ajudou a melhorar o caixa da paróquia. No final de 1955, o padre Guilherme viaja para a Holanda, ficando em seu lugar o padre Teodoro Van Oijen. Em setembro do ano seguinte (1956), Guilherme Butter volta de sua viagem. Vem com ânimo redobrado, e com o firme propósito de dar início às obras da nova igreja.
Dia 7 de julho de 1957 – data importantíssima para a Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto. Nessa ocasião era lançada a pedra fundamental para a edificação da nova igreja. Às 10h30 da manhã o padre provincial Ewaldo Berg reza a missa oficial.
A pedra fundamental recebe as bençãos do Bispo Auxiliar de São Paulo, Dom Paulo Rolim Loureiro. Estão presentes, entre outros, autoridades eclesiásticas, o vereador Paulo de Tarso Santos, o deputado Maurício dos Santos, empresários e centenas de pessoas da comunidade tatuapeense. Após árduos meses de trabalho, em 9 de julho 1958, inaugurava-se o subsolo da nova igreja.
No início de 1959 é concedida pela Cúria Metropolitana permissão para continuarem atuando na Paróquia o padre Guilherme, como seu vigário titular, e os padres João Van de Ven, Teodoro Peters e Damião Van de Zandem, como vigários cooperadores.
Não obstante sua peculiar forma de atuar, o padre Guilherme jamais deixava de demonstrar sua incontestável responsabilidade. Foi um baluarte por ocasião da construção da nova igreja. Era normal vê-lo no meio da obra, junto com os trabalhadores, acompanhando com vivo interesse todo o desenvolvimento dos trabalhos. Foi ele quem mais lutou pela consecução da compra do terreno, para tornar possível a construção da nova sede e quem, em setembro de 1955, informou ao arcebispo de São Paulo sobre essa importante aquisição.
Em janeiro de 1962, padre Guilherme volta de nova viagem que fizera para a Holanda*. Em junho desse ano é informado de sua tranferência da igreja N. S. do Bom Parto. Em 2 de agosto, os paroquianos e toda a comunidade católica do alto Tatuapé, em reconhecimento pelos inestimáveis serviços prestados, rendem-lhe uma justa homenagem de despedida.
O ato é simplesmente comovente. Esse homem enérgico sem ser duro, e bondoso sem ser piegas, deixou grande saudade no coração daqueles que tiveram a fecidade de conhecê-lo. Do Tatuapé o padre Guilherme foi para São José do Rio Preto e após para o Bispado de Jales, local onde foi vigário da Paróquia Aparecida do Oeste.
A seguir, esteve durante algum tempo em Mogi Guaçu e, finalmente, em Águas de Lindóia. Prestando serviços em igreja dessa cidade veio a falecer em 2 de novembro de 1980. Seu corpo foi sepultado no Cemitério dos Assuncionistas em Espírito Santo do Pinhal, local do antigo seminário.
As imensas dificuldades e a escassez financeira fizeram com que as obras da nova Matriz se arrastassem por longos 25 anos. Somente por volta de 1983, deu-se como acabada sua construção.
* Nota: é importante informar aos leitores que desde 1924 a igreja N. S. do Bom Parto passou a ser administrada pela Congregação do Verbo Divino. Em 1947 essa entidade a entrega para a Congregação dos Padres Assuncionistas Agostinianos, instituição fundada pelo padre Emmanuel D´alzon, nascido em Le Vigan, na França. Diversos outros padres foram seus colaboradores, entre eles: Stephane Pernet (cujo nome abrasileirado ficou sendo Estevão Pernet), nome dado à rua onde se localiza a Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé. A maioria dos padres dessa congregação que se achavam no Brasil eram procedentes de sua sede holandesa. Devido a esse fato viajavam constantemente para aquele país.
Sr. Boa noite
Foi com grande emoção que encontrei esse site,
Me senti novamente nessas comemorações, as quermeses,o lançamento da pedra fundamenta,dos amigos Pe. Joao,Teodoro,Guilherme,participei de tudo k foi relatado pois era coroinha.
Ainda hoje tenho uma foto do Pe. Joao.
Obrigado amigos por esse site.
abços
Motta