Foram muitos os grandes vultos que passaram pelo Tatuapé, mas pela grandeza de sua obra, um deles merece especial destaque: Anália Franco. É praticamente impossível relatar em poucas linhas a vida e a obra desta extraordinária mulher, contudo não podemos deixar de dar aos leitores pelo menos um resumo dos fatos. O nome completo da Grande Dama da Educação Brasileira era Anália Emília Franco.
Nasceu em Resende, Rio de Janeiro, em 29 de fevereiro de 1853. Antonio Mariano Franco Junior e Teresa Franco foram seus pais. Teve dois irmãos: Antonio Mariano Franco e Ambrosina Franco de Salles.
Realizou seus primeiros estudos em Resende, sempre acompanhada por sua mãe que era professora. Em 1861, vieram ambas para São Paulo. Aqui continuou seus estudos em escola dirigida por sua progenitora. Em 1876, mãe e filha mudaram-se para Guaratinguetá, nessa cidade começando Anália a lecionar. Em 1877, é reaberta a Escola Normal de São Paulo, na qual pôde ela matricular-se e concluir seus estudos, diplomando-se em 1878.
Algum tempo depois, Anália fundava o Externato Santa Cecília, na capital. A seguir transferiu-se para São Carlos do Pinhal, lá moravam sua irmã Ambrosina e o coronel Júlio Salles, seu marido.
Também pouco tempo se deteve nessa cidade, logo rumando para Taubaté, lá fundando seu primeiro abrigo para órfãos. Nessa época ingressa no jornalismo, começando a escrever para revistas: A Família, O Eco das Damas e A Mensagem. A última era dirigida por Presciliana Duarte de Almeida, que se tornou sua grande amiga.
Em 1898, deu início à publicação da revista Álbum das Meninas, com o objetivo de propagar suas idéias educacionais e pedagógicas. Nesse período é atacada por uma doença que a deixou temporariamente cega. Não se abateu, continuou a escrever artigos para as revistas e ainda publicou três romances: A Égide Materna, A Filha do Artista e A Filha Adotiva, este último em fascículos impressos na revista Álbum das Meninas.
Em 17 de novembro de 1901, juntamente com um grupo de senhoras de todos os níveis, funda a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo. Objetivo: proteger e educar crianças das classes desvalidas e as mães desamparadas.
A solenidade de inauguração contou com a presença do dr. Bento Bueno, secretário dos Negócios do Interior e da Justiça de São Paulo e de outras personalidades. Aberta uma lista de colaboradores, após dois meses a entidade já contava com mais de duas mil assinaturas.
Em 1903 surge o jornal A Voz Maternal. Substituía a Revista da Associação Feminina, até então, o porta-voz da instituição. Em seu primeiro número publicava serem mais de mil os estudantes dos dois sexos beneficiados pelas escolas maternais, asilos-creches, liceus e escolas noturnas mantidas pela Afbiesp.
Anália já via naqueles dias o direito e a necessidade da mulher alfabetizar-se e profissionalizar-se para sair da pobreza ou, por opção, desvencilhar-se da tutela do homem. Previa, também, que o fim da criança abandonada poderia ser a marginalidade, por isso enfatizava a importância fundamental da educação moral nas suas escolas. Ao terminarem os cursos, ex-alunos de Anália passaram a instalar escolas nos mesmos moldes que as de sua mestra na capital e em cidades do interior.
O primeiro endereço da entidade foi no Largo do Arouche, 58 e 60. Em 1903, após os primeiros passos, veio a ser instalada na Ladeira do Piques, 13 a 21, próximo da atual Praça das Bandeiras. Em 1960, mudava-se para a Rua São Paulo, 47 e na Rua dos Estudantes (atual 15 de Novembro), 19. Em 1910, nova mudança, desta vez para uma chácara em Pinheiros e, finalmente, para a Chácara Paraíso, nos Altos do Tatuapé. Neste local permaneceu até os últimos anos do século passado.
A Associação mantinha ainda escolas em diversos bairros operários: Brás, Mooca e Bom Retiro. O casarão da Rua São Paulo, posteriormente incorporado por dois terrenos contíguos, foi doado por d. Genebra de Barros, viúva do Brigadeiro Luiz Antonio. D. Genebra chegou a ser vice-presidente da entidade. O prédio da Rua dos Estudantes também foi resultado de doação de uma senhora da sociedade paulistana.
Rápida foi a expansão das atividades da Associação, assinalava 2.098 alunos no ano de 1905 matriculados nas vinte e duas escolas da capital, nas cinco do interior e nos dois asilos-creches.
A compra da Chácara Paraíso, com 75 alqueires, pertencente ao coronel Serafim Leme da Silva, teve sua escritura lavrada no dia 18 de fevereiro de 1911, no 2º Tabelionato da titular Clara Liberato de Macedo. Imediatamente naquele pedaço de chão foi criada a Colônia Regeneradora Romualdo de Seixas, nome de um bispo baiano, um dos orientadores espirituais de Anália. Em seu espaço achava-se a famosa Mata Paula Souza, conhecida pelos antigos moradores do Tatuapé. Diversas benfeitorias haviam sido deixadas por seus antigos proprietários.
O velho solar que pertencera a Diogo Antonio Feijó – o Regente Feijó –, com duas longas alas, uma da senzala e outra dos currais, foram readaptadas e serviram para alojar mais de quatrocentos abrigados. A entidade manteve suas instalações nesse velho casarão até 1930. Nesse ano, com belíssimo projeto do Engenheiro Ramos de Azevedo, começou a ser construído, no mesmo local, apenas umas dezenas de metros à frente, sua magnífica sede. Quatro anos mais tarde a edificação era entregue.
Voltando no tempo, em 1905 a Associação conseguia montar sua própria tipografia, passando a imprimir a Voz Maternal e o Manual Educativo. As alunas que aprenderam a profissão imprimiam a tiragem recorde de 11 mil exemplares. Simultaneamente montava-se uma oficina para fabricação de flores artificiais. Estas eram vendidas para ajudar na manutenção da entidade.
Também foi instalada uma oficina de corte e costura e bordados. Nela as asiladas confeccionavam roupas, chapéus, aventais, paletós, porta-jóias, bonecas, brinquedos etc. As alunas fabricavam as roupas para seu próprio uso, o excedente era vendido em dois bazares de propriedade da Associação localizados na Rua do Piques e na Rua do Rosário.
A coisa não parou por aí, criou-se uma escola de enfermagem. Para ministrar aulas às meninas, foi indicada a dra. Maria Renotte. Sob a responsabilidade da dra. Brites Alvares, cirurgiã-dentista, instalou-se um curso chamado: aula de arte dentária, que formava auxiliares dentistas. Com tais providências os dentes das asiladas passaram a ser tratados no próprio local.
Paralelamente a essas iniciativas, foi formado um grupo dramático-musical. Em princípio pensou-se na criação de uma banda, mas o interesse das alunas foi tanto que além desta montou-se uma orquestra, as primeiras compostas apenas de mulheres. Denominaram-se Banda e Orquestra Feminina Regente Feijó. O grupo começou a excursionar em 1913. Inúmeros municípios do interior paulista foram visitados e alguns de Minas Gerais. O programa constava de quatro partes: 1ª – apresentação da banda, 2ª e 4ª – apresentação de comédias de um ato e, 3ª ato variado. As apresentações tinham como finalidade arrecadar fundos para a instituição.
Em 1906, Anália casou-se com Francisco Antonio Bastos. Este, nascido em 6 de janeiro de 1853, era guarda-livros recém-admitido na Associação. Fazia a contabilidade das escolas, dos asilos e das creches, cuidando, ao mesmo tempo, dos pagamentos da instituição. Foi mais do que um simples guarda-livros, foi o grande supervisor e administrador da fazenda. Todos aqueles que o conheceram guardam dele belas e saudosas recordações do bondoso homem.
Em 1919 grassa em São Paulo a terrível gripe espanhola. Grande número de meninas da entidade acabou contraindo a doença. Anália e suas companheiras se desdobravam em esforços para salvá-las. Infelizmente, em meio a essa luta, a grande educadora também foi acometida pela doença e não resistiu. Anália Franco faleceu em 21 de janeiro daquele ano. Foi enterrada no Cemitério da Consolação, no jazigo 39 da quadra 62, na capital paulista. Após a morte da esposa, Bastos viajou para Minas com o objetivo de fundar o Lar de Órfãos Anália Franco.
Perseguido pelo clero local, teve que se transladar para o Rio de Janeiro, lá fundando o Asilo de Órfãos Anália Franco. Francisco Antonio Bastos viria a falecer naquela cidade em 19 de agosto de 1929.
Quanto à Associação de São Paulo, em 9 de março de 1919, era eleita nova diretoria, tendo d. Eleonora Silveira Cintra sido elevada ao cargo máximo. Nos anos seguintes foram seus presidentes: d. Cléo Duarte, coadjuvada por seu marido João B. Duarte e o dr. Silvino Canuto de Abreu. Desde 1965 até a venda da chácara ocupou o cargo Hugo Paulo Braga.
É enorme o número de escolas, asilos e liceus criados por Anália Franco e por outras pessoas que se inspiraram em seu imorredouro exemplo. Contam-se mais de uma centena entre as da capital e as do interior. Aliás, só no interior são 49 instituições. Anália foi professora, escritora, jornalista, poeta, educadora e pedagoga. Talvez a maior nascida no País.
Nota: todas as informações aqui transcritas foram fornecidas pelo senhor Hugo Paulo Braga e extraídas dos livros: Anália Franco – A Grande Dama da Educação Brasileira, de Eduardo Carvalho Monteiro, da Editora Eldorado Espírita e Tatuapé – Uma História Fascinante, de Pedro Abarca, da Rumo Gráfica Editora.
a vida de Anália é fabulosa e admirável mas, muitas datas e dados estão equivocados….inclusive do seu nascimento.
Tiro meu chapéu pr essa grande mulher. Analia Franco.
Caros Amigos da Gazeta.
Toda a história de Dona Anália Franco desde quando nasceu está no site do bairro da Água Rasa, inclusive quando lecionou em várias escolas no Rio e São Paulo (era normalista).
Assim como outros relatos tirados de trechos de diversos historiadores, a verdadeira localização do SOLAR DO REGENTE FEIJÓ e à partir da década de 1900 do LAR ANÁLIA FRANCO (que cuidava de orfãos, filhos de prostitutas, filhos de mães solteira e filhos de jornaleiros – muito comuns à época) é o bairro da ÁGUA RASA.
Em decreto do Instituto do Patrimônio Histórico na decada de 1980 lá consta: Solar do Regente Feijó – Av. Regente Feijó – bairro da Água Rasa.
Na década de 90 foi criado o bairro do Jardim Anália Franco, desmembrado do bairro da Água Rasa, pela Prefeita Luiz Erundina e passou a pertencer à Subprefeitura de Vila Formosa.
Antes disse o bairro era Água Rasa e pertencente à Subprefeitura da Mooca.
Tenho tudo documentado (documentos oficiais).
Veja no site da história do bairro da Água Rasa – http://www.boleirosdaaguarasa.com – ao entrar clique em “HISTÓRIA DO BAIRRO” e depois em “COMO TUDO COMEÇOUA”.
Os chutadores de plantão ora afirmam ser TATUAPÉ e outros MOOCA o bairro do Solar do Regente Feijó e o Lar Anália Franco.
Obrigado pela divulgação.
Waldevir Bernardo.
E-mail: historiadaaguarasa@gmail.com