Padre Diogo Antonio Feijó: Regente do Império – Grandes foram alguns dos personagens que passaram pela região do Tatuapé; mas, sem demérito a nenhum outro, talvez o maior tenha sido Diogo Antonio Feijó, mais conhecido apenas por Regente Feijó.
A incrível vida deste homem começou de forma nebulosa. Filho de pais incógnitos, nasceu em São Paulo, tendo sido levado à casa do reverendo Fernando Lopes de Camargo, situada à Rua da Freira, nº 11. Este padre morava em companhia de d. Maria Gertrudes de Camargo, sua irmã, viúva de Miguel João Feijó.
Contestando essa versão, alguns pesquisadores afirmam ter Feijó nascido em Itu, cidade do interior paulista, sendo após transladado para a capital. No entanto, deixando de lado a controvérsia, vamos transcrever um trecho de sua certidão de batismo: Aos 17 de agosto de 1784, nesta Sé, batizei e pus os Santos Óleos a Diogo, filho de pais incógnitos, exposto em casa do Revmo. Fernando Lopes de Camargo; o mesmo foi padrinho e Maria Gertrudes de Camargo, viúva, todos desta freguesia, do que para contar fiz este assento, que assino.
O coadjutor José Joaquim da Silva. Por que teria sido a criança enjeitada levada à casa do padre Fernando? Esse o grande mistério que aguça a curiosidade de tantos quantos se interessam pela vida do Regente. Segundo alguns, Feijó seria filho de d. Maria Joaquina de Camargo, solteira, irmã do padre Fernando e de d. Maria Gertrudes, portanto seria sobrinho destes. Isso explicaria o porquê da escolha desse lar para abrigá-lo. Aquela teria sido também mãe de Maria Justina de Camargo, esta portanto irmã de Feijó. No entanto, para complicar ainda mais as coisas, em idade avançada o próprio Feijó afirmaria em seu caderno de apontamentos ser filho de d. Maria Gertrudes Camargo e de Félix Antonio Feijó.
Até os dez anos Feijó viveu na casa da Rua da Freira. Depois passou certo tempo em Guaratinguetá em companhia do padre João Gonçalves Lima, com este iniciando seu aprendizado de latim.
Mais tarde, quando este padre se transladou para Parnaíba, Feijó para lá se dirigiu aperfeiçoando o latim, estudando retórica e outras matérias necessárias para o sacerdócio. Também estudou retórica com Estanislau José de Oliveira, em São Paulo. Com 17 anos, aprovado em gramática latina e retórica, Feijó já podia sonhar com a carreira eclesiástica. Mas, embora apto, devido ser jovem teria de esperar três anos para sua ordenação.
Em 1804, já como subdiácono, Feijó se transfere para São Carlos (a futura Campinas). Acompanhavam-no Agostinho e Modesto, o primeiro um escravo de 11 anos, o segundo um agregado (serviçal) de 14 anos. Com os escassos proventos das aulas de gramática latina e portuguesa que ministrava e que mal davam para sua subsistência, o jovem subdiácono tinha que sustentar os garotos que o serviam.
A extrema pobreza em que vivia fê-lo dispensar os garotos. Só a partir de 1908, quando se ordenou padre, começou a viver da carreira eclesiástica. Ainda em 1908 viaja para São Paulo para ampliar seus conhecimentos.
Completa um curso de filosofia com Francisco de Paula Oliveira, que na ocasião substituía o titular, Reverendo Roque Soares de Campos. No certificado expedido pelo professor Francisco de Paula consta: sempre mostrou grande talento, incansável aplicação e notável aproveitamento.
Em 1810, Feijó já vivia de suas ordens e dos mantimentos cultivados em uma chácara que comprara em São Carlos. Além do escravo Agostinho, que voltara, possuía agora outros doze escravos. Essas terras teriam sido compradas com a parte que lhe coubera da herança dos bens deixados por D. Marta de Camargo Lima, sua avó. O recenseamento de São Carlos, de 1817, já o qualificava como próspero senhor de engenho e possuidor de treze escravos.
Em 1818, deixa sua fazenda e escravos aos cuidados de um administrador e parte para Itu. Lá, se junta aos chamados padres do Patrocínio, cujo mestre era o padre Jesuíno do Monte Carmelo. Com aqueles místicos religiosos viveria alguns anos, sujeitando-se ao seu rústico modo de vida. Naquela fase ninguém imaginaria que aquele padre taciturno, inteiramente voltado para si mesmo, viria mais tarde a ser o homem que foi e o que representaria na história do País.
A revolução liberal ocorrida em Portugal nos meses finais de 1820 repercutiu profundamente no Brasil, fazendo mudar o rumo da sua política. As idéias de liberdade, fraternidade e igualdade alcançaram a pacata Itu. Nessa cidade do interior paulista começaram a reunir-se Feijó, Paula Souza, Campos Vergueiro, Alvares Machado, Costa Carvalho e outros.
No início de 1821, D. João VI, pressionado, jurava a Constituição portuguesa e assinava decretos para que se adotasse a mesma medida em todas as províncias, ou seja, dava instruções referentes à realização de eleições para a escolha de eleitores que indicariam os deputados para as Cortes de Lisboa.
As eleições paroquiais da Comarca de Itu foram realizadas e os escolhidos foram: Paula Souza, Campos Vergueiro, Tobias de Aguiar, Diogo Feijó, Antonio Pais de Barros e Almeida Leme. Em 6 de agosto de 1821, Feijó e seus companheiros de Itu tomavam parte na Junta Eleitoral da Província de São Paulo. Presidida por José Bonifacio de Andrada, a Junta elegeu os seguintes candidatos: Antonio Carlos, Campos Vergueiro, Costa Aguiar, Paula Souza, Fernandes Pinheiro e Diogo Feijó.
Portanto, Feijó estava eleito para as Cortes de Lisboa. O governo de São Paulo ficou composto por: Oeynhausen – presidente, José Bonifacio – vice-presidente e Martim Francisco, seu irmão, secretário do Interior e da Fazenda. Os deputados paulistas receberam um documento contendo instruções que deveriam orientá-los nas Cortes de Portugal. Um dos seus principais itens sinalizava para a manutenção da união Brasil-Portugal.
Em 11 de fevereiro de 1822, Feijó e os demais deputados brasileiros tomavam assento na Assembléia portuguesa. Desde os primeiros momentos patenteou-se o antagonismo de interesses que norteavam a atuação dos parlamentares dos dois países. Os de Portugal esforçavam-se para a adoção de uma política de recolonização do Brasil, ou seja, que a relação Brasil-Portugal obedecesse critérios idênticos aos anteriores à chegada de D. João VI à nossa terra.
Os deputados brasileiros tinham interesse em manter a união, mas com a autonomia já alcançada e respeitada a soberania do Brasil. Em meio a essa contradição foi sendo elaborada a carta constitucional portuguesa. Claro está que a redação final contemplava de forma ampla os interesses portugueses, com o que não concordavam os brasileiros. Fernandes Pinheiro encabeçou um movimento pela não assinatura da Constituição. No último momento, no entanto, Fernandes Pinheiros acabou solapando o documento por ele proposto e assinou a carta. Aos demais, outro recurso não restou senão fugir para a Inglaterra em barco de bandeira deste país.
D. Pedro I, que ficara governando o Brasil após a partida de seu pai para Portugal, estava imbuído de exercer um poder absolutista, conservador. As classes políticas nacionais ansiavam por um governo monárquico-constitucional, como o adotado pelos países mais adiantados da Europa. A contradição era patente e relativamente insolúvel, visto que nenhuma das partes cedia. No dia 7 de abril de 1831, o impasse chegou ao auge, ao imperador não restou outra saída a não ser a abdicação.
Em face da menoridade de Pedro II, foi necessário dar-lhe um tutor e nomear-se elementos para uma regência provisória com vistas a governar o país. O brigadeiro Francisco de Lima e Silva, José Joaquim Carneiro de Campos (marquês de Caravelas) e o senador Campos Vergueiro constituíram a chamada Regência Trina Provisória. Em 17 de junho de 1813, instalava-se a Regência Trina Permanente, composta pelo mesmo brigadeiro e pelos deputados José da Costa Carvalho e João Braúlio Muniz.
O padre Diogo Antonio Feijó foi indicado para a pasta da Justiça. Este, na vigência de seu cargo, queixava-se das dificuldades para debelar as constantes crises políticas e os levantes armados que ocorriam em vários rincões do país. A seu ver, elas resultavam das ações de José Bonifácio, contrárias à sua orientação política. Em face deste ser o tutor do pequeno imperador, dispunha de grande poder. Em 1832 suas divergências recrudesceram, tendo Feijó feito pedido à Câmara e ao Senado para revogar a tutela. Ganhou na Câmara, mas perdeu no Senado. Em vista disso renunciou.
Cansado da política e dos ares do Rio de Janeiro viajou para São Paulo e encontrou paz na sua Chácara da Água Rasa. Estas terras, resultantes do antigo Capão Grande, Feijó as adquirira de João Mariano Bueno, conforme escritura lavrada pelo tabelião Francisco José Barbosa, de 2 de novembro de 1829. Como jamais deixara de ser padre, oficiava missas e fazia batismos naquele seu rincão.
Em 1833, José Bonifácio pressionado pela Câmara e pelo Senado, deixa o cargo de tutor de Pedro II, abandonando, a partir de então, a política. Em 1834 procede-se à reforma da Constituição, com vistas a atender inúmeras reivindicações. Em 12 de agosto de 1834 foi assinado o Ato Adicional que dava maior autonomia às províncias e, ao mesmo tempo, criava o cargo de Regência a ser exercido por uma só pessoa.
Em 12 de outubro de 1835, Feijó é empossado no cargo de regente Único, após ter vencido as eleições em que o segundo foi Francisco de Paula Holanda Cavalcanti. A forte oposição movida por seus adversários no Parlamento, principalmente Bernardo de Vasconcelos e Honório Hermeto Carneiro Leão, impediam-lhe um melhor desempenho na importante função. Sua saúde já não era a mesma da época em fora ministro da Justiça, o que lhe minava a energia necessária para resolver as infindáveis crises. Consciente da impossibilidade de levar a bom termo o mandato que lhe outorgara a maior parte das províncias e sempre atacado pelos ininterruptos discursos dos seus adversários, renunciou ao cargo em 19 de setembro de 1837.
Mais uma vez retirou-se para sua chácara, na Água Rasa. Nesse local sentia uma sensação de grande alívio. Estava livre do grande fardo representado pela função de regente e, ao mesmo tempo, ficava longe das misérias da política. Não fora o falecimento pouco tempo antes, em 6 de junho de 1837, de sua mãe de criação, d. Maria Joaquina de Camargo, e estaria plenamente feliz. Em 1840, vende essa propriedade a Francisco Liandart, que por não conseguir pagá-la a devolve pouco depois ao padre. Em 1843, pouco antes de sua morte, as terras da Chácara Paraíso ainda constavam da relação dos seus bens. Pelo exposto até aqui, deduz-se que essa propriedade lhe pertenceu por mais de dez anos. Em meio ao impasse da venda dessa chácara, Feijó chegou a comprar umas terras na sua querida São Carlos. Em 1839 retorna às lides políticas, sendo eleito presidente do Senado em 4 de maio desse ano.
A Chácara Paraíso a seguir passou por diversas mãos: Antonio Mendes Pereira, Rafael Tobias de Barros (Barão de Piracicaba), José Bento de Paula Souza, José Maria Bourroul, José Evangelista do Rego Freitas e coronel Serafim Leme da Silva. Em 10 de novembro de 1843, falecia o padre Feijó, o mesmo que nascera enjeitado e filho de pais incógnitos e chegara a dirigir os destinos do Brasil por duas vezes. Seus restos mortais encontram-se na cripta da Catedral de São Paulo, na Praça da Sé.
Em 1911, Anália Franco e suas companheiras compram a propriedade, com a vasta área de 75 alqueires, e instalam nela a Colônia Regeneradora Romualdo Seixas. Em princípio utilizaram-se das dependências do velho solar de Feijó, composto por um edifício assobradado central e suas duas extensas alas laterais, correspondentes à senzala e aos currais. De 1930 a 1934, calcado em soberba planta do engenheiro Ramos de Azevedo, foi construído um magnífico prédio de dois andares e nele passaram a desenvolver o profícuo trabalho da veneranda e respeitada entidade. Atualmente o edifício citado e toda sua área ao redor são ocupados pela Universidade Unicsul.
Parabéns.
Até que enfim uma publicação que narra a verdade dos fatos.
A Chácara Paraíso do Pe. Diogo Antonio Feijó sempre foi no bairro dan ÁGUA RASA.
Alguns historiadores “chutam” como sendo Tatuapé do Alto e outros Mooca.
Originária da Freguesia do Bairro do Brás (1600 a 1800) nunca pertenceu aos citados bairros.
As referencias mencionadas nesta matéria É A PURA VERDADE DOS FATOS.
PARABÉNS.
Waldevir Bernardo.
Site: http://www.boleirosdaaguarasa.co (vejam em HISTORIA DO BAIRRO e em seguida em “COMO TUDO COMEÇOU” a verdade que ratifica as informações da matéria.
E-mail: historiadaaguarasa@gmail.com