POR EDUARDO ROCHA
São poucos os modelos que merecem os ornamentos que as versões esportivas ostentam. Uns poucos têm motorização específica, mas em geral, o comportamento dinâmico é rigorosamente igual. Mas apesar da linha RS ter nascido com o conceito se oferecer apenas alterações visuais aos modelos – até para ser mais acessível ‑, a Chevrolet mudou sutilmente essa lógica, com um mapeamento mais agressivo para o motor 1.0 Turbo de três cilindros. Nas demais configurações turbinadas, o Onix hatch já exibe um comportamento convincente, mas na RS há uma melhora de desempenho, capaz de produzir mais adrenalina em quem conduz.
Ainda assim, o maior diferencial do modelo é visual. A versão traz elementos que exaltam este lado mais agressivo, como para-choques mais robustos, com spoiler integrado dianteiro e extrator no traseiro, rodas, capas de retrovisor e grade em preto brilhante. A grade ainda tem uma trama em colmeia. O modelo ainda traz um aerofólio traseiro em preto e saias laterais na cor da carroceira. Por dentro, os bancos com revestimento misto de tecido e couro sintético pespontado. Teto e colunas têm revestimento em preto. As saídas de ar laterais, com um pequeno friso vermelho na base, é o detalhe mais chamativo. Ou seja: o visual é esportivo, mas sem exageros.
O conteúdo da RS é o ponto fraco da versão. Ela traz apenas os itens normais de um modelo da categoria, como trio e direção elétrica e ar analógico, sensor traseiro, luz diurna em led, faróis de projetores com máscara negra e seis airbags. Faltam itens quase obrigatórios para um modelo na faixa de preço de R$ 115 mil, como câmera de ré e chave presencial, encontradas na versão LTZ, que é ligeiramente mais barata. Na linha 2024, pelo menos, a versão ganhou sensor de luminosidade e conexão sem cabo com a central multimídia MyLink. O sistema tem tela em LCD de 8 polegadas sensível ao toque com conexão Bluetooth para dois celulares simultaneamente e espelhamento através dos aplicativos Android Auto e Apple CarPlay.
Por outro lado, ele traz sob o capô uma versão mais agressiva do motor 1.0 turbo de três cilindros, que oferece enorme agilidade ao modelo, sem qualquer sombra de turbolag, mesmo nas arrancadas e retomadas mais repentinas. Ele rende os mesmos 116 cv de potência e 16,3/16,8 kgfm de torque, com gasolina/etanol, mas demonstra um comportamento bem mais interessante. Na versão, ele é gerenciado por um câmbio automático de seis marchas, com um botão na alavanca para mudanças manuais sequenciais. O modelo chega à máxima de 187 km/h e faz de zero a 100 km/h em 10,1 segundos bebendo etanol. Esses números não mudam em relação a outras versões, mas o Onix RS cumpre a tarefa de uma forma mais interessante.
Ponto a ponto
Desempenho – O Onix RS traz o motor 1.0 turbo de três cilindros, que rende os mesmos 116 cv de potência e 16,3/16,8 kgfm de torque de outras versões do modelo. Mas a configuração traz um pequeno diferencial: o mapeamento do motor é ligeiramente mais agressivo, o que muda seu comportamento. Ele anima com vontade o modelo que pesa apenas 1.085 kg e tem relação peso/potência de 9,4 kg/cv. Mas o que mais chama a atenção é na performance do hatch é a liberação de torque, que chega ao ponto máximo aos 2 mil giros, o que faz com que o motor fique cheio por todo a faixa útil de giro. E mesmo em rotações abaixo disso, como nas arrancadas, não há sombra de turbolag: o motor Onix responde prontamente ao acelerador. O câmbio também é bastante responsivo no modo automático. Já no modo sequencial, parece ter de digerir por um tempo os comandos feitos diretamente no botão na lateral da alavanca. O Onix RS não é um esportivo de verdade, mas tem um desempenho convincente. Nota 8.
Estabilidade – A suspensão do RS não recebe mudanças em relação ao restante da linha. Com McPherson na frente e barra de torção atrás, ela é relativamente rígida, tem bom controle de carroceria e neutraliza bem os movimentos, tanto em retas quanto em curvas. A direção fornece uma boa leitura do solo, mas o tamanho do volante é maior que o desejável para quem quer vender uma pegada esportiva. Nota 8.
Interatividade – Na linha 2024, a versão RS ganhou dois recursos de interatividade bem simpáticos: sensor de luminosidade e conexão de celular sem cabo com a central multimídia, que tem tela de 8 polegadas, é simples de operar e permite espelhamento através dos aplicativos Apple CarPlay e Android Auto. No mais, a versão traz apenas com os recursos básicos para um hatch intermediário. O painel é completo e o computador de bordo oferece um grande volume de informações. O volante multifuncional permite controlar diversos recursos do carro, como o controle de cruzeiro, telefone e áudio. Nota 7.
Consumo – O mapeamento do motor mais agressivo cobra um preço no consumo. Os dados do Programa de Etiquetagem Veicular relativos ao Onix RS aferidos pelo InMetro apontam para um consumo de 8,2 km/l na cidade e 9,9 km/h em estrada usando etanol e 11,7 km/l no ciclo urbano e 13,7 km/l no rodoviário com gasolina. Coisa de 2% a mais que as outras versões, mas o suficiente para derrubar o índice da configuração para C na categoria – as outras versões com este motor têm índice B. No geral, manteve a nota C. Nota 6.
Conforto – A rigidez da suspensão do Onix combina com a proposta esportiva e ainda assim consegue filtrar bem as irregularidades do piso. O isolamento acústico abafa os ruídos de rodagem deixa e só deixa passar o ronco do motor em giros mais altos, acima dos 4 mil giros. Os bancos são ergonômicos, firmes e seguram bem o corpo nas curvas. Nota 8.
Tecnologia – O motor turbo, a plataforma com construção bastante rígida e o câmbio automático com controle eletrônico do Onix são modernos e eficientes. A plataforma eletrônica também é bem atual e consegue pendurar muitos recursos, apesar de poucos deles estarem presentes na versão RS. Ganhou sensor de luminosidade e espelhamento sem cabo. Nota 7.
Habitabilidade – O Onix tem um entre-eixos de 2,55 metros que até bem pouco tempo era típico de modelos médios. E essa vantagem foi bem aproveitada. O Onix oferece uma área bem razoável pernas e cabeça de quatro adultos. Se o terceiro passageiro traseiro for uma criança, pode-se viajar sem aperto, pois apesar de ser compacto, o Onix tem uma boa largura de carroceria. Há diversos porta-objetos no interior, mas o porta-malas tem uma capacidade apenas razoável, de 275 litros. Nota 8.
Acabamento – A versão RS não é luxuosa, mas tem capricho nos detalhes. Ela traz detalhes em vermelho nas saídas de ar e uma combinação de tecido com couro sintético nos bancos. O teto e as colunas recebem um revestimento na cor preta. O design tem um toque de esportividade, mas com bastante elegância. Nota 8.
Design – A linha RS se caracteriza por um visual esportivo, mas sem grandes exageros. E essa versão do Onix segue à risca este conceito. Ele traz a o já popularizado Bow Tie Black, a gravatinha na cor preta, além de rodas, grade e espelhos em preto brilhante. Conta também com um kit aerodinâmico com aerofólio traseiro em preto e spoiler dianteiro integrados ao para-choque e saias laterais na cor do veículo. Esses elementos dão mais personalidade ao carro e acentuam o ar esportivo. Nota 9.
Custo/benefício – O Chevrolet Onix RS é vendido em um pacote fechado, sem opcionais. E isso acaba tornando um ponto fora da curva dentro da gama, pois ganha adicionais de elementos visuais e revestimento de bancos misto, mas perde em equipamento para outras versões. Com a pintura metálica como a da versão avaliada, o modelo fica em R$ 117.490, fica entre a versão LTZ e a Premier. A LTZ custa R$ 1.500 a menos e ainda traz a mais chave presencial, câmera de ré e faróis de neblina. Já a Premier sai R$ 4 mil mais cara e ainda adiciona estacionamento semiautomático, ar digital, carregador por indução sensor dianteiro e de ponto cego, entre outros. Nota 6.
Total – O Chevrolet Onix RS somou 75 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Além do visual
Com a versão RS, a Chevrolet aposta no poder de atração de uma embalagem esportiva. Para montar a configuração, foi necessário investir em elementos visuais como spoiler, saias laterais, rodas e para-choques específicos, entre outros detalhes. Para compensar a adição desses itens sem explodir o preço, a fabricante decidiu esvaziar um pouco o conteúdo, o que prejudicou a relação custo/benefício da RS em relação aos demais modelos da gama e pode até dificultar a venda. Seja como for, a versão acaba funcionando como modelo de imagem, ainda mais que o bom motor 1.0 turbo de três cilindros recebe aqui um mapeamento específico, que deixou o modelo mais ágil e responsivo – mesmo que isso não se reflita nos números finais de aceleração e velocidade máxima.
O hatch faz de zero a 100 km/h em 10,1 segundos e tem a velocidade máxima limitada eletronicamente a 187 km/h. Mais importante que os números, é o comportamento, que se mostra ainda mais dinâmico e divertido que outras versões do Onix com motorização semelhante. O modelo se mostra bem determinado na hora de ganhar velocidade e o câmbio de seis marchas é rápido nesses movimentos previsíveis, como arrancadas e retomadas. Em situação de variação de ritmo, ele demora um pouco mais a reagir.
O mapeamento mais agressivo tornou o motor um pouco mais áspero. Nessa versão mais esportiva isso não chega a ser uma desvantagem. Na verdade, aumenta a interação com o motor por conta do ronco que adentra a cabine com facilidade. O que harmoniza bem com a suspensão, que se caracteriza por ser ligeiramente rígida – tanto que a versão RS não recebeu qualquer modificação. Nem era preciso. O hatch compacto encara trechos sinuosos sem dificuldade e oferece uma direção bastante comunicativa, que dá perfeita noção ao condutor onde está a roda a cada momento.
Ficha técnica
Chevrolet Onix RS
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, sobrealimentado por turbo e comando duplo no cabeçote. Injeção eletrônica multiponto e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automático de seis velocidades à frente e uma a ré, com modo manual sequencial com mudanças por botão na alavanca de câmbio. Tração dianteira. Oferece controle de tração.
Potência: 116 cv com gasolina ou etanol a 5.500 rpm.
Torque máximo: 16,3 kgfm com gasolina e 16,8 kgfm com etanol a 2 mil rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 10,1 segundos com etanol e 10,7 s com gasolina.
Velocidade máxima: 187 km/h com gasolina e etanol.
Diâmetro e curso: 74 mm x 77,5 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com barra estabilizadora, amortecedores pressurizados e molas helicoidais. Traseira por eixo de torção com molas helicoidais e amortecedores pressurizados. Oferece controle eletrônico de estabilidade de série.
Pneus: 195/55 R16. Sobressalente 115/75 R15
Freios: Discos ventilados na frente e a tambor atrás. Oferece ABS com EBD e assistente de partida em rampa.
Carroceria: Hatch em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Comprimento de 4,16 metros com 1,73 m de largura, 1,47 m de altura e 2,55 m de entre-eixos. Possui airbags frontais, laterais e de cabeça de série.
Peso: 1.085 kg, com 375 kg de carga útil.
Capacidade do porta-malas: 275 litros.
Tanque de combustível: 44 litros.
Lançamento do modelo: novembro de 2019.
Produção: São Caetano do Sul, São Paulo.
Preço: R$ 115.790.
Preço da unidade testada: R$ 117.490.