No início deste mês o engenheiro e um dos curadores do Memorial Penha de França, Francisco Folco, denunciou o que ele acredita ser um crime contra o patrimônio histórico da Penha: a colocação de azulejos nas paredes da Igreja do Rosário dos Homens Pretos, construídas em taipa de pilão no período colonial.
PICHAÇÕES
Segundo ele, há um descaso com a igreja, pois tanto a Capela de São Miguel quanto as construções da cidade de São Luis do Paraitinga receberam um olhar diferenciado do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) com relação às suas restaurações.
Enquanto isso, a construção localizada no Largo do Rosário está sendo descaracterizada e desrespeitada por pichações, lixo, entulho e pela presença de moradores de rua que fizeram suas barracas junto às paredes da igreja.
ESTUDANTES
Folco afirmou que quando a Igreja do Rosário foi tombada, o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) fez questão de deixar parte de uma das paredes sem acabamento para que o visitante pudesse apreciar a massa de taipa, a exemplo do que foi feito no Páteo do Colégio. “Vários estudantes de arquitetura vinham à Penha para apreciar a obra, pois tratava-se de algo difícil de ver na cidade”, ressaltou o engenheiro.
SUJEIRA
De acordo com ele, ainda, atualmente o ponto de observação não existe mais, já que foi coberto por cimento. Quanto a outros ambientes da igreja, Folco revelou que o banheiro está sempre sujo e a sala na qual ficava o acervo de fotos antigas de Hedemir Linguitte, digitalizadas pelo Memorial Penha de França, está sendo ocupada com outras atividades.
Como um dos curadores do Memorial, Folco destacou o fato do bairro ter conquistado a construção do Centro Cultural Penha, após a mobilização de moradores e comerciantes. Agora, ele sugere que o mesmo movimento lute para que a Igreja do Rosário volte a receber turistas e estudantes.
MOVIMENTO
Quem faz coro com o engenheiro é Julio Cesar Marcelino, membro do Movimento Cultural Penha. Segundo ele, em junho comemora-se o aniversário da construção da igreja. “Porém, tanto o prédio, quanto o entorno, deveria receber uma atenção maior dos órgãos de defesa do patrimônio histórico e da própria Subprefeitura Penha”, reclamou. Para Marcelino, como será o mês da Copa do Mundo, turistas brasileiros e estrangeiros poderiam aproveitar para fazer um passeio cultural. “Veremos se até lá conseguiremos recuperar o tempo perdido com obras irregulares e falta de cuidado com a nossa história”, finalizou.
O OUTRO LADO
De acordo com o Condephaat, a Igreja do Rosário foi tombada em 4 de maio de 1982. Sobre as reformas do telhado e do muro da igreja, que haviam sido citadas por Folco, além da colocação dos azulejos na parede de taipa, o Conselho de Defesa do Patrimônio revelou não ter sido consultado para tal obra e vai designar um técnico ao local para uma vistoria.
PROPRIETÁRIOS
O Condephaat esclareceu, ainda, que a preservação dos imóveis tombados no Estado de São Paulo, sejam eles públicos ou privados, competem aos seus proprietários. Para a instituição, o tombamento não altera a titularidade de um bem, cuja conservação e manutenção continuam sendo responsabilidade primária de quem detém sua propriedade legal. Ao Conselho cabe atuar para que os projetos de intervenção e restauro aprovados estejam de acordo com as diretrizes determinadas pela resolução de tombamento do bem, de forma a garantir sua preservação para esta e futuras gerações.