POR EDUARDO ROCHA
Entra ano, sai ano e a Fiat Toro se mantém numa jornada solitária entre picapes medias-compactas no Brasil. No ano passado, a picape até chegou a ser ameaçada, teoricamente, pela chegada da Chevrolet Montana, que acabou ficando em um meio-termo entre a Toro e a Strada. A Fiat até se fez uma leve preparação para a briga, com grade e proteções laterais novas e serviços conectados Fiat Connect Me de série na versão avaliada, Volcano. No fim das contas, a presença da picape da General Motors não afetou a Toro, que vendeu 51 mil unidades em 2023, 5% mais que em 2022. Em 2024, a Toro vem mantendo uma batida semelhante, com uma média de 3.500 emplacamentos mensais.
Na verdade, a chegada da picape média Fiat Titano teve uma influência maior. A nova picape provocou um realinhamento nos preços da Toro, logo após terem sido reajustados entre R$ 3 mil e 4 mil em fevereiro. Um mês depois, a Fiat reduziu o preço das três versões com motor flex T270 – R$ 6 mil na versão básica Endurance e R$ 10 mil na Freedom e na Volcano, que está tabelada em R$ 171.990. Assim, a diferença da Volcano diesel e flex (a única que tem as duas motorizações) subiu de R$ 14 mil para R$ 24 mil.
Não é a falta de rivais específicos que sustentam as vendas Toro, mas suas dimensões são fundamentais para explicar a boa performance. Ela é a que melhor se adequa à realidade das vidas urbana e rural e realmente se colocar como opção viável para um SUV. Isso porque as picapes compactas – Strada, Montana, Renault Oroch e Volkswagen Saveiro não oferecem um espaço traseiro muito adequado para adultos (tanto que a Volkswagen retomou o projeto da picape média-compacta Tarok para substituir a Amarok). Já em relação às dimensões externas, a Toro ainda consegue se encaixar nos espaços urbanos, tanto em relação a vias quanto a vagas de estacionamento.
Um outro ponto favorável da Toro é o motor T270, da linha GSE – Global Small Engine – que está se espalhando pelas marcas da Stellantis. Trata-se da versão turbo do Firefly 1.33, de quatro cilindros. Ele é capaz de gerar 180/185 cv a 5.750 rpm, com gasolina/etanol, sempre com 27,5 kgfm (ou 270 Nm) de torque a 1.750 giros. O propulsor vem com o comando no cabeçote com o sistema Multiair, composto por atuadores eletro-hidráulicos que movimentam individualmente cada válvula de admissão. O motor conta ainda com injeção direta de combustível e uma válvula para recirculação após a queima – EGR na sigla em inglês –, para melhorar o controle de emissões.
Como em todas as versões flex da Toro, o câmbio é automático de seis velocidades. A tração é sempre 4X2 dianteira e conta com o sistema TC+, um controle tração que limita o escorregamento do diferencial. Uma vez acionado, o programa desliga o controla de estabilidade, freia a roda que perdeu a aderência e transfere o torque para a outra roda. Ao atingir 60 km/h, o TC+ se desabilita automaticamente e religa o controle de estabilidade.
No visual, além da grade e das molduras no para-lamas, a Toro não sofreu mudanças. Na versão Volcano, especificamente, a grade é cromada, enquanto na Endurance é preta fosco e na Freedom é preta brilhante. Por dentro, a nova Toro traz um painel digital e configurável de 7 polegadas, com mostradores de temperatura do líquido de arrefecimento e mostrador de combustível nas laterais. A central multimídia, com tela de 8,4 polegadas, faz conexão com celulares sem cabo via Bluetooth, tem navegador interno e integra o já citado Fiat Connect Me, que oferece diversas funções através do celular, como ligar, desligar, localizar, abrir ou fechar o carro, além de acessar informações do computador de bordo, como quilometragem, consumo, etc.
Como itens de série, a Volcano ainda agrega sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, sete airbags, carregador de celular por indução, leitor de pressão dos pneus, volante multifuncional, chave presencial para travas e ignição, controle de cruzeiro, limitador de velocidade, câmera e sensores traseiros, ar-condicionado duplo, rodas de 18 polegadas, sensor de luz e chuva, ajuste elétrico do banco do motorista e revestimento em couro.
Na unidade avaliada, a Toro veio na cor Cinza Sting, que acrescenta R$ 2.490 ao preço, e também o Pacote Tecnológico, que custa R$ 5.890. Ele inclui tela de 10 polegadas para a central multimídia, alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência, monitor de faixa com esterçamento indutivo do volante e farol alto automático. Com tudo incluído, o preço da Toro Volcano T270 fica em R$ 180.370.
Ponto a ponto
Desempenho – Já aos 1.750 giros, o motor T270 oferece o torque máximo de 27,5 kgfm. Isso faz com que o propulsor fique cheio em todas a faixa útil de giros. Ele faz um bom conjunto com o câmbio automático de seis velocidades, que tem mudanças extremamente suaves. O zero a 100 km/h é feito em 11,2/11,0 segundos com gasolina e etanol – números bons para uma picape com 1.705 kg. A máxima fica em 195,5/197,5 km/h. Nota 8.
Estabilidade – A Toro tem suspensão independente nas quatro rodas com McPherson na frente e multilink na traseira, com um acerto que combina bem conforto e estabilidade. O chassi é bastante rígido, com alguma torção nas curvas, mas bem controlada. Os pneus 225/60 R18, com flanco de 13,5 cm, ajudam principalmente na filtragem de irregularidades. Usada dentro dos parâmetros, a Toro se comporta como um carro de passeio, mas aceita até uma condução um pouco mais agressiva. Nota 7.
Interatividade – O modelo traz todos os comandos à mão, tanto pelo volante multifuncional, que concentra diversos comandos de uso imediato, e ainda tem os recursos que podem ser configurados a partir da central multimídia, como os auxílios à condução, opções de travamento e desligamento de faróis, etc. No painel, entre as diversas opções gráficas, há opção de monitorar Força G e percentual de potência e torque em uso. O aplicativo Connect Me oferece várias funções, como ligar ou desligar o motor, travar ou destravar o carro e monitorar a localização. Nota 9.
Consumo – O motor T270 responde bem e acelera forte, mas não cobra um preço tão alto por isso. Segundo o InMetro, a Toro faz 6,6/9,2 km/l no ciclo urbano e 7,9/11,0 km/l no ciclo rodoviário, com etanol/gasolina. Na tabela do Programa Brasileiro de Etiquetagem de veículos, a nova Toro obteve notas A no segmento (a comparação é com picapes médias) e D no geral. Nota 7.
Conforto – Apesar de ter um motor suave e silencioso e a carroceria não provocar ruídos aerodinâmicos na estrada, o isolamento acústico da Toro permite que ruídos do trânsito entrem na cabine sem muita cerimônia. As suspensões filtram as irregularidades e suavizam os buracos maiores, os bancos são confortáveis, o espaço interno no sentido longitudinal é generoso. Nota 8.
Tecnologia – A Toro Volcano é a top na gama de motores flex e é bem completa. Tem sete airbags, um central multimídia sofisticada, traz GPS interno e conexão sem fio com smartphones. A tela pode opcionalmente ter 10 polegadas, em um pacote que traz ainda recursos ADAS mais evoluídos, como frenagem autônoma, monitor de faixa e farol alto automático. Um ponto positivo na linha 2024 é o sistema Connect Me, que permite monitorar e interferir no veículo à distância. Nota 8.
Habitabilidade – A Toro é bem solucionada por dentro, com diversos nichos para o uso cotidiano. Tem porta-objetos sob o apoio de braços central, dois porta-copos, bolsa nas costas do encosto e bom espaço nas portas e o acesso ao interior é facilitado por alças nas colunas dianteiras. A área de carga é de bom tamanho, mas para uso urbano é indicado o uso de alguma divisória. Nota 9.
Acabamento – Os materiais de acabamento são de boa qualidade e design sóbrio. O console frontal, com guarnições em alumínio, acabamentos em plástico preto brilhante e detalhes cromados, dão uma sensação de capricho. Os bancos são revestidos em couro sintético de boa qualidade e traz pespontos em branco. Nota 8.
Design – As linhas da Toro não mostram sinais da idade, apesar de seus oito anos de mercado. Os traços trazem um conceito original, que acabou influenciando até rivais. O design valoriza a ideia de robustez sem deixar o modelo abrutalhado. Nota 8.
Custo/benefício – A Toro não tem rivais diretos e se posiciona entre as picapes compactas e médias. Em preço, apesar das diferenças conceituais, acaba brigando com SUVs médios-compactos, como Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e Volkswagen Taos. Nesse ponto, a versão Vulcano oferece um bom custo/benefício. O mercado em torno dos R$ 170 mil é um tanto congestionado, mas a Toro acaba se saindo bem. Nota 8.
Total – A Fiat Toro Volcano T270 somou 80 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
As evoluções propostas pela Fiat têm aperfeiçoado a Toro de forma efetiva. O motor T270, adotado em 2021, resolveu o grande drama da picape em seus primeiros anos de vida e oferece à Toro uma dinâmica convincente, que se soma às diversas qualidades que caracterizam a picape desde seu projeto original: design, funcionalidade e versatilidade. A versão Volcano, que ocupa o topo da gama de motores flex, traz recursos requintados e tecnológicos capazes de atrair potenciais compradores de SUVs médios-compactos, que são ligeiramente mais caros.
A versão Volcano ganhou um atrativo importante: a nova central multimídia, com recursos de conectividade de primeira linha, com o sistema Connetc Me, que dá acesso a funções e dados do carro por celular ou por computador pessoal. A unidade avaliada trazia o opcional de tela vertical de 10 polegadas, que vem em um pacote com recursos ADAS como alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência, monitor de faixa com esterçamento indutivo do volante e farol alto automático.
O modelo ainda traz uma finalização de ótimo nível, com revestimentos em couro nos bancos e nos painéis das portas, combinação de materiais nas superfícies, como guarnições com acabamento em preto brilhante, em alumínio e em plásticos de texturas agradáveis. A vida a bordo na Toro Volcano, em geral, é agradável. Tanto pela ergonomia, com bancos dianteiros que parecem poltronas, quanto pelas suspensões bem calibradas, que mesmo em trechos mais sinuosos, controla a carroceria e filtra com eficiência as irregularidades.
Na parte mecânica, propulsor T270, de 180/185 cv, se afina muito bem com o câmbio automático de seis marchas e com acelerações e retomadas bastante ágeis. Na prática, a dinâmica da Toro flex se aproximou da oferecida pelas versões diesel – com mais elasticidade e menos torque na relação peso/torque, cada kgfm da Toro T270 responde por 62 kg, enquanto na TD350, são 53,4 kg. Por isso mesmo, não há sensação de falta de potência ou força nas acelerações e retomadas. Por isso, a adoção desse motor representou o melhor aperfeiçoamento da Toro em seus oito anos de mercado. E deu fôlego para a picape manter boas vendas por um bom tempo.
Ficha técnica
Fiat Toro Volcano T270
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.332 cm³, sobrealimentado por turbocompressor, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro com sistema Multiair de temporização de abertura der válvulas, comando simples no cabeçote. Sistema de injeção eletrônica direta e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automático de seis velocidades à frente e uma a ré. Tração dianteira com sistema eletrônico de limitação de escorregamento do diferencial. Oferece controle de tração e modo Sport.
Potência: 180 cv com gasolina e 185 cv com etanol a 5.750 rpm.
Torque máximo: 27,5 kgfm com gasolina e etanol a 1.750 rpm.
Diâmetro e curso: 70 mm X 85 mm.
Taxa de compressão: 10,5:1.
Aceleração 0-100 km/h: 11/11/2 segundos, com gasolina/etanol.
Velocidade máxima: 195,5/197/5/km/h com gasolina/etanol.
Suspensão: Independente nas quatro rodas. Dianteira do tipo McPherson com braços oscilantes inferiores com geometria triangular e barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos e pressurizados e molas helicoidais. Traseira do tipo multilink, links transversais e laterais, barra estabilizadora, amortecedores de duplo efeito e molas progressivas. Oferece controle eletrônico de estabilidade de série.
Pneus: 225/60 R18.
Freios: Discos ventilados na frente e tambor atrás. Oferece ABS com EBD.
Carroceria: Picape em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Comprimento de 4,95 metros com 1,85 m de largura, 1,74 m de altura e 2,99 m de entre-eixos. Ângulo de entrada de 25,7º, de as~ida de 28,4º, de rampa de 21,7º, com altura livre para o solo de 26 cm entre os eixos. Possui airbags frontais, laterais, de cortina e para joelho de motorista.
Peso: de 1.705 kg.
Capacidade da caçamba: 937 litros.
Capacidade de carga: 670 kg.
Tanque de combustível: 60 litros.
Lançamento no Brasil: 2016.
Face-lift: 2021.
Produção: Goiana, Pernambuco.
Preço da versão: R$ 171.990.
Preço da unidade avaliada: R$ 180.370