Mais do que um julgamento envolvendo 38 réus é um julgamento da Justiça Brasileira. Sem dúvida, está em jogo a credibilidade da Justiça, em caso tão rumoroso, onde a imprensa pré-julgou a todos e o povo acreditou. Qualquer decisão que seja contrária aos anseios da população, será desastroso para o Supremo Tribunal Federal.
Tarefa árdua, pois, ao longo desta semana, quando falarão os advogados de defesa, muitas serão altamente convincentes a se contar pelo brilhantismo de cada um dos advogados, mas o julgador deverá manter-se completamente alheio a paixões e limitar-se aos autos e unicamente às provas e ao seu próprio convencimento, não se lhe dando a oportunidade de errar, até porque dessa decisão não caberá recurso. A decisão será tomada pelo nosso mais alto tribunal, quem apreciaria qualquer recurso a não ser o próprio tribunal, daí a importância da decisão, pois, como dissemos, os ilustres ministros não poderão errar.
Claro que devemos temer muito. Não podemos nos esquecer que a absoluta maioria dos ministros foi colocada nos cargos pelo próprio Lula e um deles, que não declarou-se impedido, quando deveria tê-lo feito, o Toffoli, permanecerá no corpo de julgadores e ele tem, realmente, interesse no feito, afinal, além de ter sido colocado pelo Lula no cargo, sem ter qualquer conhecimento – nem juiz de primeira instância foi; reprovado em exames para Juiz; advogado do PT e do próprio Dirceu, com companheira trabalhando para o Dirceu -, não se poderá dele esperar outro julgamento. A impressão que se tem é que está obedecendo ordens do “patrão”, o “Cara”, que tentou adiar o julgamento e não conseguiu. Claro que o Toffoli não sairá agora; precisa ficar para ser um voto a favor da “quadrilha”.
Na verdade, estamos comentando, mas nem sabemos se o julgamento prosseguirá durante toda semana, porque são tantos os advogados e tamanha a capacidade de cada um, que não será surpresa se algum deles conseguir, ainda, por filigranas jurídicas, uma suspensão do julgamento, afinal “o Cara” está por trás de tudo e ele tem poder, a força e bem ao contrário do que declarou – “tenho mais coisa para fazer do que isso” -, certamente, essas mais coisas são articulações, pois não haverá prejuízo maior, para seu partido e para ele mesmo, do que uma condenação em massa de seus correligionários.
Afinal, ele não sabia de nada, não viu nada, foi tudo surpresa, mas o advogado do Roberto Jefferson diz que não ficará calado. Na defesa de seu constituinte, sem dúvida, colocará toda verdade na mesa; agora, ele não tem mais nada a perder, já é cassado, está denunciando e não tem razões para esconder nada.
Sem sombra de dúvidas, esse julgamento, se for à frente, poderá revelar muita coisa. Nem tudo foi trazido à tona, a máquina funcionou muito bem, a blindagem foi perfeita, mas sempre há vulnerabilidades e é por aí que as coisas poderão aparecer. Quando acuado o cidadão acaba abrindo-se, afinal, precisa defender-se.
As manobras vão continuar. Dois dos ministros, em setembro, deverão receber o que se chama de “expulsória”, ou seja, a aposentadoria em razão da idade e com isso o Tribunal já ficará desfalcado. O que se espera é que haja o julgamento antes disso, mas, pelo caminhar da carruagem, será meio difícil.
Claro que a “tropa de choque” está trabalhando para que o julgamento passe das eleições, aliás, já iniciou: o chefe da tropa, o advogado Marcio Thomaz Bastos, começou ao levantar a questão, já debatida e decidida pelo Tribunal, da separação dos processos, aliás, só foi arguida para a perda de tempo e o Tribunal entrou na dele, tanto que até os ministros Joaquim Barbosa e Lewandowski acabaram batendo boca em um assunto que nem merecia ser colocado em discussão.
São essas manobras “matreiras” de velhas raposas do direito e dos tribunais é que nos colocam sob a suspeita de que o Tribunal possa não lograr êxito em julgar esses casos antes das eleições. De toda forma, como iniciamos a falar, mais do que julgar os réus, o Tribunal terá de pensar em seu papel na sociedade, sua reputação e sua credibilidade, aliás, não só dele, mas de toda a Justiça. A segurança jurídica do País está em jogo perante o mundo, especialmente de investidores. Até que ponto um investidor colocaria seu dinheiro em um país que não tivesse um sistema jurídico competente, sério e respeitável?
Vamos continuar vigilantes. O momento é dos mais importantes; estamos escrevendo mais uma página viva de nossa história. Só esperamos não nos envergonhar de mais este episódio, aliás, ficar mais envergonhados do que já estamos.