A lei federal 10.098, de 19 de dezembro, de 2000, é clara em seu primeiro artigo: “estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação.”
Na prática, a realidade enfrentada por quem depende de uma cadeira de rodas, bengala ou andador para se locomover é bem diferente. “Como não tenho firmeza nas pernas e pelo fato das calçadas apresentarem muitos obstáculos, quando preciso sair acabo indo de carro. Tenho muito medo de cair. São muitos desníveis, degraus e buracos. Na minha opinião as nossas calçadas estão em péssimas condições”, advertiu o mooquense Paschoal Fienga, de 78 anos.
Em razão de um problema de saúde que levou ao atrofiamento de suas pernas, Paschoal depende do andador com rodas ou de bengala para se locomover. “Vejo que a falta de acessibilidade não é um problema só da Mooca, mas de toda a cidade. Aonde vou encontro algum tipo de obstáculo. Outra questão que precisa ser vista com mais atenção pelas autoridades diz respeito às vagas públicas de estacionamento para os carros dos portadores de deficiência.”
VAGAS E INCENTIVOS
Paschoal explica: “Sou a favor que elas tenham uma identificação especial, voltada para as pessoas que realmente não podem andar ou que tenham um grau mínimo de mobilidade. Digo isso porque hoje são vários os graus de deficiência que dão direito à carteirinha especial, o que, até ai, tudo bem, ótimo. Só que muitas pessoas que podem andar param o carro na vaga especial e quem realmente não pode acaba sem ter onde estacionar. Já presenciei várias situações assim”, alertou.
Para Paschoal ainda, os governos deveriam oferecer incentivos às academias particulares para que elas ofereçam aulas diferenciadas àqueles que têm algum tipo de deficiência. “Os exercícios físicos são muito importantes. Ajudam na reabilitação e na manutenção da saúde. A Prefeitura ou o Estado poderia fazer algum tipo de convênio com as academias para ajudar as pessoas que precisam deste tipo de atividade e não podem pagar. Em contrapartida pode-se oferecer isenções de impostos”, indicou.
TATUAPÉ
No Tatuapé a situação não é muito diferente. Quem nunca se deparou com uma senhora em uma cadeira de rodas dividindo o espaço com os carros na região? Ela se chama Tânia Ieda Medeiros Vale. “A minha cadeira é o meu meio de transporte. Com ela ganhei independência. Sempre que saio peço proteção a Deus e sigo o meu caminho”, contou a tatuapeense à reportagem.
Com paraplegia desde 2008, Tânia teve que se adaptar à nova realidade. “Dentro de casa e principalmente quando precisava sair. No começo foi muito difícil porque andar pelas calçadas em uma cadeira de rodas não é nada fácil. Na maioria das vezes até impossível. Entrar em um coletivo que não é adaptado, é ainda pior”, advertiu.
COMPLICADO
“Vou dar outros exemplos. Não consigo chegar com a minha cadeira à Subprefeitura Aricanduva porque todas as ruas de acesso são muito íngremes. Na Rua Antonio de Barros com a Rua Cantagalo, já prendi mais de uma vez as rodas da minha cadeira em um buraco que se formou bem no final da rampa de acessibilidade, entre a sarjeta e o asfalto”, observou.
Tânia continuou. “Estou fazendo fisioterapia em uma universidade próxima da Avenida Celso Garcia e, como ainda não consegui uma vaga no Atende para fazer a locomoção de casa até lá, preciso atravessar o Viaduto Antonio Abdo e encontro muitos obstáculos pelo caminho. Entre eles, dois postes que impedem o meu acesso à passarela do viaduto. Tinha um ônibus que eu poderia pegar e que me deixaria na porta, o Parque São Jorge/Vila Madalena, mas depois de uma reorganização na linha, ela deixou de atender o meu destino”, explicou.
Segundo Tânia, às vezes ela também se depara com carros estacionados nas calçadas. “É muito complicado, por isso opto por seguir pela rua. Ando na contramão e fico atenta a tudo. Nos cruzamentos, redobro a atenção. Outro problema é que os buracos acabam com as rodas da minha cadeira”, concluiu.
PROBLEMA ANTIGO
Os problemas referentes à falta de acessibilidade no Tatuapé vêm sendo alertados por esta Gazeta desde 2011. Na ocasião, a reportagem conversou com Eliete Pereira dos Santos, que perdeu os movimentos dos membros inferiores e na época revelou as dificuldades encontradas pelos deficiêntes físicos.