Braz Cubas, ajudante de ordens de Martim Afonso de Souza, chegou com este em São Vicente em janeiro de 1532; filho de João Pires Cubas e de d. Isabel Nunes. Eram seus irmãos: Catharina Cubas, Antonio Cubas, Gonçalo Cubas e Francisco Nunes Cubas. No litoral, em seu sítio de Jurubatuba, desenvolveu atividades agrícolas, plantando cana-de-açúcar, arroz, uvas e alguns outros gêneros.
Em 25 de setembro de 1536, d. Anna Pimentel, esposa de Martim Afonso de Souza, no pleno uso dos poderes de que legalmente dispunha, mandou conceder-lhe carta de sesmaria das ditas terras, atendendo às obras e benfeitorias que naquele local, ele e sua família haviam executado.
Em 1545 toma posse do cargo de capitão-mor da Capitania de São Vicente. Em 19 de junho desse ano concede predicamento (graduação) elevando à condição de vila o Porto de Santos. Em 8 de fevereiro de 1552, o citado predicamento recebeu a aprovação de Tomé de Souza – primeiro governador geral do Brasil.
Esse povoado já vinha sendo explorado desde 1543 por Pascoal Fernandes, Domingos Pires e José Adorno (o genovês). Os dois primeiros são considerados pela maioria dos pesquisadores como os fundadores de Santos. O último possuía o maior engenho de açúcar da região, o Engenho São João.
Em 24 de novembro de 1551, Martim Afonso, desde Alcoentre – Portugal, confirma a sesmaria que d. Anna Pimentel concedera a Braz Cubas e lhe confere o título de Cavaleiro Fidalgo.
Em 1560, Braz Cubas e seus homens sobem ao planalto paulistano. Entre outros, trazia com ele Luis Martins, este um competente mineiro. Ao longo das terras de sua sesmaria, que media três léguas de frente para o mar, vasculhavam o solo em busca de ouro e pedras preciosas.
Em abril de 1562, escrevia uma carta ao rei de Portugal, na qual narrava ter palmilhado trezentas léguas e encontrado umas poucas amostras de alguns minérios. Após passar pela Serra do Mar e pelas terras que haviam pertencido a João Ramalho, achou-se na confluência do Ribeirão Tatuapé e do Rio Grande (Rio Tietê).
Nesse ponto acampou com seus homens e estabeleceu um rancho. Nele construiu diversas casas, currais e uma ermida devotada a Santo Antonio. Como já havia feito no litoral, nesse rancho desenvolveu criação de gado (bois e porcos) e várias culturas: cana-de-açúcar, hortaliças e uvas. No local habitava a tribo dos Piqueris, da nação dos Guianás.
Um pedido de confirmação de posse da sesmaria solicitado por Braz Cubas foi deferido em 3 de agosto de 1567, pelo capitão-mor Jorge Ferreira. Este era casado com Joana Ramalho, filha de João Ramalho, portanto, genro deste. É o seguinte o texto desse importante documento:
Braz Cubas Cavalheiro Fidalgo da Casa de EL-Rei Nosso Snr. e alcaide-mor desta villa de Santos e Provedor da Fazenda Real nas Capitanias de São Vicente e S. Amaro… é porque os rumos das terras do ditto Pedro de Goes, com que ele Suplicante vai partindo para o Sertã, não chegava mais que até a borda do Campo onde está um pinhal donde esteve a Povoação de Santo André, onde já teve João Ramalho roças, e elle Suplicante, dahi vai partindo mais adiante para terra dentro… sahindo do ditto pinhal donde finece, e acaba a datta de ditto Pedro de Goes, com elle Suplicante hé Meyeiro, começará a partir epal banda de loeste que vai dari pelo caminho de Piratininga por entre o Capão Grande onde Franco Velho já teve roças, e matto, onde roçarão os moradores da ditta Povoação de Santo André sempre pelo ditto caminho assim como vai passando o rio Tamandoatei, e dahi cortar direito sempre pelo ditto caminho, q. vai a Piratininga, q. está na borda do Rio Grande que vem do Piqueri, e ahi vae correndo direito para o sertão onde couber sua partilha, conforme sua escritura, e carta de dada, e instrumento de posse, como ditto he largura sempre de 3 léguas. Do ditto caminho, que fica por marco para a banda de leste, onde está um logar e aldeia dos índios que chamão Piqueri, onde elle Suplicante tem sua Fazenda há muitos annos e hua ermida de Santo Antonio, cuberta de telha e cazas fortes por respeito dos contrários e gente e gados assim vacuns e porcos, onde faz muitos mantimentos com que sempre ajuda a sustentar os Engenhos de Açucares, que há nesta Capitania, e Armadas de S. Alteza, que ditta Fazenda muitos annos tem vinhas q. há vinho, com q. se dizem Missas nesta Capitania, quando não há vinho do Reino, e com mantimentos da ditta sua Fazenda ajudou a sustentar as guerras, q. tivemos com estes nossos índios no tempo que puzerão o cerco sobre a Villa de S. Paulo q. houvera 6 ou 7 annos pouco mais ou menos, e onde lhe mandarão digo lhe matarão muito gado e escravos seus pelejando o ditto cerco pordefenção da terra aos inimigos me pedia que havendo respeito ao que ditto hé, houvesse por bem em nome do ditto Snr. Governador e pellos poderes que delle tenho, como Capm. e Ouvidor haver por boa a ditta posse em que está a ditta demarcação de maneira q.ditto hé pelo ditto caminho já ditto, atravessando de Piratininga o ditto rio Grande adiante, visto a escritura e a carta de Dada, e instrumentode posse e partilha, que apresenta com esta petição, e q. por eu ser antigo na terra, dos primeiros que a povoarão sabia o conteúdo nesta petição, por ser assim verdade, e assim sabia, outro sim muito bem a ditta demarcação por onde parte pelo ditto caminho, está ditto por andar muitas vezes por elle, e sabia, que elle suplicante, possuia as dittas terras, e posses dellas desde o ditto tempo aqui declarado até agora. (Texto extraído da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Volume IV, páginas 299 e 300.)
Após a exposição deste importante documento, cabe discutir um interessante aspecto. Braz Cubas veio e desenvolveu seu rancho no sertão do planalto a partir de 1560, quando Mem de Sá lhe fez o pedido ou teria vindo antes? Note o leitor que o texto diz que o suplicante tinha a fazenda há muitos annos e …que ditta fazenda muitos annos que tem vinhas de q. há vinhos, com que se dizem missas nesta Capitania, quando não há vinho do Reino, e com muitos mantimentos da ditta sua Fazenda ajudou a sustentar guerras q. tivemos com estes nossos índios no tempo em que puzerão cerco sobre a Villa de S. Paulo houvera 6 ou 7 annos pouco mais ou menos…No livro Uvas Para o Brasil de Julio Seabra Inglêz de Souza, editado em 1901 pela Melhoramentos, lê-se na página 23:…O clima sempre quente e úmedo da faixa litorânea era evidentemente impróprio à sobrevivência de uma viticultura baseada em castas da Europa. Logo, convencido dessa circunstância, Braz Cubas foi estabelecer vinhedos na região do Tatuapé, em pleno planalto de Piratininga, por volta de 1551. E foi ao redor da atual capital bandeirante que a viticultura logrou notável desenvolvimento…
E em texto da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XII, pág. 207: Aí tinha Braz Cubas muito antes mesmo da sesmaria, uma fazenda de mantimentos e criação, casas fortes e uma ermida coberta de telhas, sob a invocação de Santo Antonio e prossegue: …Não acreditamos que Braz Cubas fundasse sua fazenda antes da concessão que lhe fez d. Ana Pimentel em 1536 mesmo porque a proibição de subirem os litorâneos ao altiplano foi suspensa em 1544.A data de 1551 para o empreendimento de Braz Cubas, dada por Julio Seabra Inglêz de Souza, ou seja, posterior a 1544, passa a ter amplo sentido.
Esse fato levaria a uma descoberta incrível, o Tatuapé seria mais antigo do que a instalação do Pátio do Colégio, ou seja, da fundação da própria São Paulo.
Foi das mais profícuas as atividades de Braz Cubas no Brasil. Colaborou nas fundações de São Vicente e Santos, desbravou regiões em diversos pontos, combateu índios rebeldes que atacavam povoações em formação, ajudou a expulsar franceses, espanhóis e corsários do nosso litoral, deu início à agricultura e criação de gado no planalto paulista. Foi provedor e contador de rendas de capelas, confrarias e albergarias de São Vicente. Foi provedor e almoxarife da Capitania de Santo Amaro (Ilha de Santo Amaro). Exerceu o cargo de capitão-mor e governador da Capitania de São Vicente em 1545/1548 e 1555/1556.
Infelizmente Braz Cubas não pôde dar continuidade ao magnífico trabalho iniciado em nossa região. Ele e Pedro Cubas, seu filho, foram para o Rio de Janeiro lutar contra os invasores franceses e os índios Tamoios, seus aliados. Rodrigo Alvares aproveitou-se da ausência dos sesmeiros e ocupou suas terras.
Braz Cubas e seu filho demandaram contra Rodrigo Alvares mas nada conseguiram. Ao falecer este último, deixou em testamento as terras a seu filho Luis Rodrigo. A propriedade ao tempo da primeira sesmaria chamava-se Fazenda Piqueri. Ao passar para o domínio dos Alvares teve a denominação mudada para Fazenda Jatan. Mesmo com o litígio em andamento, Jorge Netto Falcão comprou as terras do herdeiro e conseguiu nova carta de posse, esta emitida pelo capitão-mor Roque Barreto.