A “Comunidade do Escorpião”, localizada na região do Aricanduva, cuja entrada se dá mais precisamente na Rua Mutui, esquina com a Rua José Oiticica, no Jardim Itapema, convive com o risco iminente de um acidente de grandes proporções. Isto porque as centenas de famílias que vivem no local há mais de 15 anos estão sob a rede de transmissão de energia da AES Eletropaulo.
MEDO
Conforme alguns moradores, apesar de não terem outro lugar para ir, caso sejam desalojados, eles têm consciência do perigo da ocorrência de um incêndio e até mesmo da possibilidade das crianças ficarem doentes por estarem expostas a radiação. Mesmo assim, mais de 70% das casas são feitas de madeira e cobertas com telhas de amianto. Ou seja, não existe qualquer tipo de proteção mais eficiente no caso do rompimento de algum cabo de energia, por exemplo.
ENGENHEIRO
Para o engenheiro Vagner Landi, as ocupações de terrenos sob redes de transmissão, como este da Eletropaulo, são proibidas. Além de comprometerem a manutenção do sistema, as moradias representam uma tragédia anunciada, principalmente se um cabo de alta tensão cair sobre os barracos durante uma tempestade. “Neste caso, a dona da área e a Prefeitura precisam tomar medidas urgentes para efetivar a retirada das famílias. Não adianta tentar resolver depois que acontecer o pior”, avisou.
HABITAÇÃO
De acordo com a assessoria da Secretaria Municipal de Habitação, o terreno pertence à Eletropaulo. Quando a reintegração de posse, a secretaria afirmou ser uma medida judicial que deve ser solicitada pelo proprietário à Justiça. Conforme a pasta, a Eletropaulo se reuniu com a mesma e será firmado um convênio entre a Eletropaulo, Sehab e CDHU para planejarem uma ação conjunta que atenda as famílias.
ELETROPAULO
Já a AES Eletropaulo ressaltou ter apresentado dois pedidos judiciais de reintegração de posse envolvendo a comunidade informada, e que os processos aguardam julgamento. Além disso, a empresa confirmou a informação prestada pela secretaria de que os dois órgãos haviam se reunido para discutir o assunto.
A concessionária informou, ainda, que constantemente realiza ações para conscientizar a população sobre os riscos da rede elétrica, e reforça sua orientação de segurança de que a proximidade com a rede pode causar acidentes fatais.
RISCO DE CÂNCER
Uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostrou que as crianças que moram a uma distância de até 200 metros das linhas de transmissão de eletricidade são mais propícias a desenvolver leucemia.
O trabalho tem o objetivo de estimular novas investigações sobre possíveis efeitos dos campos elétricos e magnéticos na saúde da população, uma fonte de poluição ainda pouco estudada no Brasil. Outra pesquisa aponta que oscampos magnéticos das linhas de transmissão ameaçam a saúde da população.
BIÓLOGA
O problema, apontado pela bióloga Ciliane Matilde Sollitto em sua tese de doutorado, foi verificado por meio de técnicas de geoprocessamento.
Conforme seu estudo, foram considerados todos os casos notificados de leucemias entre crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, do banco de dados do Registro de Câncer de Base Populacional do Município de São Paulo entre 1997 e 2004. Dos 1.709 casos, 693 registros foram georreferenciados, ou seja, tiveram sua localização fixada no mapa da cidade.
Ao mesmo tempo, foram elaborados mapas registrando faixas de distâncias pré-estabelecidas ao longo das linhas de transmissão de energia elétrica no mapa da cidade de São Paulo, que serviram de base para a análise da influência dos campos eletromagnéticos em relação aos casos de leucemias.
“Entre outros trabalhos, a análise se baseia em um estudo realizado no Reino Unido, com aproximadamente 6 mil casos registrados de leucemia infantil”, registrou a pesquisadora. A pesquisa revelou que havia uma tendência de maior incidência de leucemia entre crianças que residiam entre 200 e 600 metros das redes de transmissão de eletricidade.