Em 1910, um navio chegava ao Porto de Santos. Dele desciam inúmeros imigrantes italianos, entre eles os avós de Antonio Giaquinto. Seguiram a rotina de todos os demais, embarcaram num trem da Santos-Jundiaí e subiram a serra a caminho da estação do Norte, no bairro do Brás.
Tanto pelo lado paterno como pelo materno, todos os seus avós eram de origem italiana. Napolitanos brincalhões e, como não poderia deixar de ser, bons cantores. Excelentes mecânicos, trouxeram de sua terra todo um cabedal de conhecimentos técnicos, muito avançados para a época, que lhes propiciou cargos de chefia na nascente indústria paulista.
Em 1927, compraram um bom lote de terreno no Tatuapé e com sacrifício construíram uma casa. Mais tarde, nos fundos, fizeram outra moradia com a finalidade de acomodar os pais de Giaquinto que se casaram em 1933. O casal teve dois filhos: Antonio, que nasceu em 1934 e Cláudio, em 1945. A família era enorme, avós, tios e pais.
Quando à noite todos estavam reunidos, a solução era servir a janta na grande mesa colocada no quintal, só dessa forma era possível acomodar mais de dez pessoas à sua volta. Aos panelões de comida, feitos pelas mulheres para saciar a fome de toda aquela gente, era necessário acrescentar um saco de pães, comprado na vizinha Padaria Lisboa dos irmãos Martins. A vida daquela modesta família era monótona, mas relativamente feliz.
Antonio e seus amigos de infância, diariamente jogavam bola na Praça Sílvio Romero, naquele tempo apenas um enorme quadrilátero de terra batida, tendo ao centro a velha pequenina capela de Nossa Senhora da Conceição. Outra diversão daqueles saudosos dias, era a caça de passarinhos do lado oposto do Rio Tietê, o atual Parque Novo Mundo.
Paralelamente às brincadeiras de rua, Giaquinto iniciava seus estudos no Grupo Escolar Visconde de Congonhas do Campo. Mais tarde, já rapaz, dava seqüência à sua preparação no Ginásio Fernão Dias, sob a direção do enérgico e saudoso professor Tito. Uma insuperável timidez o acompanhava, o que lhe tolhia um expontâneo desenvolvimento e possibilidades de aumentar suas amizades. Certo dia, Giaquinto resolveu dar um basta àquela situação. Tomou coragem e deu tremendo pontapé em seu drama íntimo.
O garoto taciturno e caladão, que pagava para não ser notado, transformou-se em incorrigível brincalhão. Aquele primeiro Giaquinto desaparecia como num passe de mágica. Tal postura o levou à condição de Presidente da Comissão de Formatura do citado ginásio. Mais tarde, continuando seus estudos, formou-se em contabilidade pelo Colégio Rui Barbosa, no bairro do Brás. Finalmente, completando sua trajetória de estudante, graduou-se advogado pelas Faculdades Integradas de Guarulhos. Com vistas a entender as lides do Direito, durante três anos foi jurado do 1º Tribunal do Juri de São Paulo.
Em sua juventude praticou atletismo. O gosto por esse esporte surgiu quando o Record, clube varzeano da região, certa vez realizou uma prova pedestre. Dos atletas inscritos, apenas seis participaram. Mesmo chegando em último, Giaquinto foi premiado, isso por haver mais medalhas do que atletas. A corrida o entusiamou, e levado por seu amigo Francisco Sierra começou a correr pela equipe do Nadir Figueiredo.
Participou de inúmeras provas, patrocinadas pela Federação Paulista de Pedestrianismo, entre elas diversas São Silvestres. Chegou a treinar no São Paulo, naquela época sediado no Canindé, sob a direção do competente técnico Dietrich Gerner, treinador do campeão olímpico Ademar Ferreira da Silva.
Em 1958, com 24 anos, Giaquinto casou-se com Daisy Miranda Giaquinto, na tradicional Paróquia do Cristo Rei. O casal teve dois filhos: Sérgio e Sidnei, estes casados com: Cristina e Ângela, que deram a Giaquinto os seguintes netos: Natacha, Graziela, Antonio, Douglas e Tainã.
Durante muitos anos Giaquinto trabalhou na Fundição Niteroi, empresa pertencente aos seus familiares, que se localizava na Rua Padre Adelino. Em 1964, por desinteresse dos diversos sócios, a firma encerrou suas atividades. Em face do ocorrido, Antonio resolveu aventurar-se por sua própria conta, fundando a Soberana, firma prestadora de serviços de contabilidade e despachos. Posteriormente desenvolveu um setor gráfico e de fabricação de carimbos. d. Daisy e Sérgio passaram a ajudá-lo na administração dos negócios.
Em 1960, Antonio Giaquinto, Alfredo Martins, Álvaro de Oliveira, Antonio Correia, Francisco Nieto Martins, Horacílio Melro, José Pirani, Osório Giati e outros começaram a reunir-se em restaurantes do bairro. Jantavam e batiam um papo descontraído com vistas a amainar as cansativas rotinas de seus trabalhos diários. Pouco tempo depois levaram aquela prática a uma chácara em Arujá, de propriedade de Álvaro, Estevão e Oracílio.
Após alguns encontros naquele local, surgiu uma nova idéia: em vez de janta por que não um almoço e depois deste um gostoso bate-bola? Assim surgiu o maravilhoso futebol das quintas-feiras. Só abandonaram aquele local após dez anos, por ocasião da venda da chácara pelos proprietários. A partir de então, por todos serem sócios do Clube St. Moritz, em Mairiporã, passaram a realizar o encontro nas dependências deste e no sítio de José Romão Sampere, em Atibaia. Alternavam uma quinta-feira em cada local.
O futebol das quintas foi crescendo: Raul Gil, apresentador de TV; Ricardo Izar, deputado; Eugênio Guadagnoli, ex-presidente da OAB – Tatuapé; Dr. Zenon Baptista Sitrangulo, ex-delegado da Seccional da Zona Leste, Antonio Colaneri e outros uniram-se a eles. Embora o grupo não fosse um clube ou uma entidade formal, os participantes jogavam uniformizados e havia contagem de pontos. Pelo fato de os participantes jogarem ora num time, ora noutro, os pontos eram conferidos individualmente. Os vencedores recebiam medalhas e troféus. Durante 38 anos, Giaquinto foi o presidente desse grupo de amigos.
Por tratar-se de um autêntico lider comunitário, sempre foi sondado com vistas a candidatar-se a cargos públicos, porém jamais envolveu-se em disputas partidárias. Não obstante, sempre auxiliou aqueles que o procuraram para a realização de trabalhos a favor da comunidade. Giaquinto foi um dos fundadores do Rotary Club Tatuapé e seu presidente no período de 1979 a 1980; foi também um dos fundadores da Associação Comercial de São Paulo – Distrital Tatuapé e seu diretor-superintendente por duas vezes.
Quando ocupava este cargo, ele e o historiador Pedro Abarca realizaram diversas reuniões na sede da entidade tentando mobilizar os moradores do Tatuapé contra a Lei Municipal nº 11.220 de 11 de maio de 1992. Esta lei definia as áreas e novos limites para 96 distritos e, de conformidade com ela, o Jardim Anália Franco passava a pertencer ao distrito de Vila Formosa.
Infelizmente os tatuapeenses não se sensibilizaram com os esforços dos dois homens e passados cinco anos da vigência da lei a situação se consolidou. Antonio Giaquinto faleceu em 2 de março de 1999, deixando grande lacuna no coração dos seus amigos e de todos os tatuapeenses que o conheceram.
Será que Antônio Giaquinto era parente da minha vó? Tbm Giaquinto
Muito rica a publicação sobre o Sr. Antonio giaquinto
Parabéns ao narrador
Em 1977 li um conto intitulado “Para se comer cerejas”, cujo autor chamava-se Antonio Giaquinto. Seria o mesmo? O conto estava em uma coletânea da Editora Alfa-Omega, intitulada “Assim escrevem os paulistas”, com organização de Hamilton Trevisan.