Michel Temer está com uma batata quente nas mãos. O País precisa voltar a entrar no eixo e, ao mesmo tempo, ele terá de impor medidas duras contra os gastos públicos, que eram desvairados até antes de assumir a presidência.
Com um passado político de atuar mais nos bastidores, agora Temer terá de se expor o quanto puder para explicar os seus planos de ação. As discussões sobre as mudanças que são pretendidas para o ensino médio, não menos importantes, acabam surgindo como uma cortina de fumaça diante de uma crise severa.
Não há como abandonar a produção, muito menos as áreas de comércio e serviços. Todas fazem parte de uma cadeia de crescimento e que devem ser alimentadas com ações urgentes de flexibilidade fiscal e de modernização das leis trabalhistas.
Apesar da insurgência dos sindicatos, o Brasil não pode mais ter como parâmetro leis que faziam parte de uma realidade de mais de 50 anos atrás. As indústrias, com grandes linhas de produção, perderam a força com o desenvolvimento tecnológico. Além disso, o mesmo avanço fez com que muitos trabalhadores começassem a voltar suas carreiras para outras áreas de atuação.
Portanto, apesar de ter pego um abacaxi, Temer terá de descascá-lo com maestria, pois os indicativos financeiros continuam negativos, apesar das melhoras esporáticas em algumas áreas. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é o principal condutor de uma possível guinada na economia, mesmo que paulatina. Diante disso, o presidente precisa criar condições favoráveis de condução desse novo projeto.
Viajar a outros países para apresentar um Brasil de estabilidade, e cuja crise está controlada, pode servir para trazer algum tipo de alívio psicológico para nós. Contudo, os comandantes de países como Japão e China, por exemplo, sabem dos problemas de corrupção, da falta de planejamento em muitas áreas a médio e longo prazo e do desgaste político. Por isso, eles até podem investir, porém vão barganhar de todas as formas para gastar pouco e ganhar muito.
Meirelles dá sinais de que dois pontos são nevrálgicos para a retomada do crescimento: a meta de ajuste fiscal e a manutenção dos impostos sem elevação. Partindo desse princípio, podemos apostar que outros países também voltem a arriscar mais no Brasil, comprando nossos produtos e também quebrando as escorchantes barreiras tarifárias que oneram as exportações a ponto de não serem plausíveis. O País precisa voltar a ser competitivo e, para isso, necessita de uma equipe compacta, que fala a mesma língua.
A postura do ministro da Saúde, Ricardo Barros, por exemplo, de deixar funcionários “terceirizados” invadirem o site do ministério para criticar o próprio governo, não é aceitável do ponto de vista de quem dirige uma das pastas mais importantes dentre os outros ministérios. Já o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ao vazar informações da Polícia Federal, com declarações inoportunas, poderia até atrapalhar a sequência da Operação Lava Jato.
Ou seja, é preciso agir em conjunto. Caso contrário, conhecemos bem o que aconteceu com Dilma Rousseff, quando o Congresso lhe virou as costas por conta de desmandos e de uma postura arrogante diante de um quadro de esfacelamento econômico.
Trata-se de uma oportunidade de se reconstruir o que foi aniquilado por decisões equivocadas. Um momento sem igual de virar de vez uma página que resultou em todo o mar de lama no qual o Brasil foi lançado. A única vantagem nisso tudo é o fato do País estar sendo passado a limpo, com a prisão de grandes empresários e de políticos que acreditavam-se inatacáveis.