Embora as fortes chuvas das semanas anteriores tenham dado uma esperança aos moradores da cidade, a situação dos mananciais continua a preocupar. Na sexta-feira, dia 9 de janeiro, o Sistema Cantareira tinha 6,7% de sua capacidade e o Alto Tietê 11,6%.
Como uma das alternativas para garantir o abastecimento com uma possível falta de água, muitas pessoas pensam em recorrer aos chamados poços artesianos. E, para falar sobre o assunto, esta Gazeta entrevistou o consultor de meio ambiente, Alessandro Azzoni.
Ele alerta que a pessoa interessada deve, sempre, procurar por empresas especializadas neste tipo de perfuração. Isso porque, além de seguirem todos os trâmites legais para a realização do serviço, vão trabalhar de acordo com todas as normas de segurança pessoais e ambientais.
“A empresa deve ter em seu quadro profissional engenheiro, geólogo, engenheiro de minas ou mesmo engenheiro com atribuições conferidas pelo Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo). Trata-se de uma obra altamente especializada e de tecnologia. Podemos considerar uma obra de engenharia projetada e construída para a exploração de águas subterrâneas cuja perfuração pode atingir até 2.600m de profundidade, sendo total ou parcialmente revestida, conforme as condições geológicas.”
RISCOS
Caso as condutas de segurança não sejam seguidas, os riscos podem ser imensuráveis. “São imensos. O principal é a contaminação do aquífero e do lençol freático, ou seja, a água potável mantida nos rios subterrâneos pode ser perdida. Imagine se o aquífero Guarani, o nosso maior, que está abaixo dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e outros países, como Paraguai e Argentina, fosse contaminado por uma perfuração mal feita? Quantas pessoas não seriam afetadas? O dano ambiental seria terrível e irrecuperável”, alertou.
RESPONSÁVEIS
Então, quais os órgãos responsáveis pelas autorizações de uma construção desta importância? “As águas subterrâneas são de competências dos Estados. No caso de São Paulo, o órgão responsável é o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica). Ele é quem dá a outorga para utilização da água subterrânea e também a autorização da perfuração do poço artesiano”, explicou Alessandro.
PREÇO
O preço poderá variar devido à localidade e o tipo de terreno a ser perfurado. “Em média em torno de R$ 15 mil a R$ 30 mil, dependendo do local e da demanda.”
Quanto aos níveis autorizados para a perfuração e suas regras, o consultor adiantou que a outorga dada pelo DAEE demora, em média, seis meses para sair. Além disso, é necessário apresentar os estudos diversos, como os hidro-geológicos, o material do projeto e todas as guias obrigatórias.
“Por que tudo isso? O DAEE terá que verificar a capacidade hídrica do local a ser perfurado e se já existem outros poços autorizados, para que não se esgote o aquífero local explorado. Vale lembrar que essa outorga é precária. Isso que dizer que o DAEE pode cassá-la no momento que achar oportuno e não há um prazo definido”, comentou Alessandro.
Ainda de acordo com o especialista, os responsáveis por uma obra clandestina deste porte, além de colocarem em risco, através de contaminação, o lençol freático, estarão, acima de tudo, cometendo crime ambiental. “E vão responder por todas as consequências penais, civis e administrativas. A pessoa responsável poderá ser presa, responsabilizada civilmente pelo dano e sua recuperação, e levar multa administrativa”, alertou.
RECUPERAÇÃO
Sobre os índices de armazenamento nos sistemas Cantareira e Alto Tietê, Alessandro avaliou que as chuvas que caíram aliviaram apenas as retiradas diárias.
“Mas não podemos falar em recuperação dos reservatórios. O Sistema Cantareira poderá levar de 12 a 15 anos para se recuperar em sua plenitude. Nesse exato momento, o que se pode ser feito é o uso racional por parte da população. Os investimentos necessários para a recuperação dos sistemas só ocorrerão no longo prazo. Com relação ao Alto Tietê é mais complexo. Mas a recuperação desse sistema é diferente do Sistema Cantareira”, concluiu o consultor de meio ambiente.