Uma lição seguida à risca

“Quanta sabedoria!…Um Sábio de uma congregação irlandesa, com seus 98 anos, estava em seu leito de morte. Seus discípulos o rodeavam, tentando tornar cômoda sua última viagem. Deram-lhe leite quentinho, bebeu um gole e não quis mais. Um dos discípulos levou à cozinha o copo de leite. Nesse momento recordou que havia na despensa uma garrafa de whisky irlandês que lhes haviam dado para o Natal, e pôs uma boa dose no leite. Voltou ao leito do Sábio e aproximou o copo da boca. O Sábio bebeu um golinho, depois outro e antes de que se dessem conta, tomou até a última gota. Os discípulos lhe disseram: `Sábio, dê-nos uma última palavra de sabedoria antes de morrer`. Com um último esforço, levantou-se um pouco e lhes disse: `Não vendam essa vaca´.”

Ou seja, “mutatis mutantis” (a grosso modo, se traduziria: por outro lado, mudando para outra coisa) é bem o que vemos hoje com nossos ilustres representantes em todas as esferas do poder. Ninguém quer largar a “teta generosa do governo”. Vejam o que está acontecendo com a sra. Dilma acompanhada de seu padrinho (“se me encherem o saco, volto em 2018”; só não sei porque não disse volto em 2014, aliás, se encherem um pouco mais, ele volta antes).

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A sra. Dilma, outrora tão caseira, não saía do Palácio para nada, agora, pelo contrário, não fica um dia. É como “Nescau”: todo dia é dia de festa, precisa aparecer de qualquer maneira, reinaugurar obras inacabadas, fazer discursos, defender posições mesmo que não corresponda à verdade, falar pelos cotovelos e levar a tiracolo, o seu padrinho.

O negócio é não largar esse poder nunca, CQC – custe o que custar, sem qualquer plágio ao programa. Sabem por que? Porque nada fascina mais, nada é mais inebriante, nada é mais satisfatório, o poder coloca as pessoas acima do bem e do mal, o poder pode transformar o errado no certo, o certo no errado, o poder enriquece a si e a todos que rodeiam e bajulam.

Qualquer jornal falado, escrito, televisivo, qualquer um, hoje, mais do que nunca, pelo menos 80% de seu espaço é dedicado à corrupção, às prisões de ladrões, de gente que se aproveita do poder. Vejam o que aconteceu na semana passada: prenderam servidores colocados pelo Kassab no poder e em parte aproveitada pelo Haddad em continuidade; eles faziam aquilo que todos nós já sentimos na pele – “vender dificuldades para que o contribuinte comprasse facilidades”.

Qualquer casa que você construa, por mais simples que seja, no momento de obter o Habite-se, sem sombra de dúvidas, o fiscal irá criar dificuldades, alguma coisa estará fora do planejado, mesmo que, por mais simples que seja, sempre faltará recolhimento; por obrigação, eles deveriam autuar, mas acabam valorizando demais a falha, para poder vender facilidades. Isso nos parece que existe desde sempre e em todos os governos. Só que desta vez os caras “marcaram bobeira”, foram com sede demais ao pote, enriqueceram demais, e deram os sinais exteriores de riqueza e acabaram sendo descobertos.

Fora isso, muitos e tantos outros casos se poderia enumerar em todas as esferas. Infelizmente, graças à cultura da “corrupção” que se instaurou de forma mais acentuada nos últimos tempos, nada funciona sem isso e o governo, ao invés de desburocratizar tudo e assim diminuir os canais da corrupção, ainda cria mais exigências, mais entraves e permite com isso recrudescer cada vez mais essa mania nacional que é “é dando que se recebe”.

Vejam que a última mensagem do Sábio é profética e é o retrato fiel de nossos políticos: “nunca vendam essa vaca”, essa vaca que é o Brasil, dá para eles muito leite, e leite dos bons, até porque, ninguém paga por nada. Mesmo que punido até com pena de prisão, nunca devolve nada. Só conhecemos um caso de devolução: “o do Lalau”, mesmo assim só devolveu uma parte do resto. Nem o Maluf devolveu nada e com certeza os “mensaleiros” e seus chefes nunca devolverão nada.

Por isso, é bom seguir a mensagem do Sábio: “Não vendam essa vaca”. Deveria ter completado, mas estava em seu leito de morte, não deu tempo: “Não vendam, nem entreguem essa vaca, ela ainda vai dar muito leite”. É uma lição seguida à risca pelo “Cara” e seus discípulos.