Após quatro anos de obras que custaram R$ 680 milhões, o Templo de Salomão, réplica do templo bíblico homônimo, construído no bairro do Brás, pela Igreja Universal do Reino de Deus, foi inaugurado na quinta-feira, dia 31 de julho, com acesso somente para convidados e autoridades.
O espaço de 100 mil metros quadrados, que ultrapassa em área construída o Santuário de Aparecida, e com capacidade para 10 mil lugares, por enquanto, só poderá ser visitado em caravanas. A previsão do “calendário oficial de inauguração” é de que pelo menos 60 delegações internacionais visitem o prédio.
Este foi um acordo com as autoridades, para que se avaliasse o impacto no trânsito da região. Depois, qualquer pessoa, com seus próprios meios, poderá ir ao templo. Durante este período inaugural, quem quiser assistir aos cultos terá de pagar a passagem para a empresa de fretamento contratada pela Universal, no valor de R$ 45 por pessoa, para quem mora na capital.
ALTO CLERO DA POLÍTICA
Sob o comando de Edir Macedo, a nata da política nacional deu as bênçãos ao maior espaço religioso inaugurado no Brasil.
Dos pesos pesados da política, esteve presente a presidente Dilma Rousseff, Geraldo Alckimin e Fernando Haddad. No entanto, os convites também foram distribuídos aos outros 26 governadores, ministros de Estado, ministros do Supremo Tribunal Federal e para o presidente do Congresso, Renan Calheiros.
REGRAS
“Se você fosse se encontrar com o próprio Deus, na casa dele, como você se vestiria?”. Essa é a questão abordada em um vídeo intitulado como “Regras do Templo de Salomão”, divulgado pelo apresentador Renato Cardoso no “Youtube”.
Apesar de não definir especificamente quais seriam as roupas mais adequadas para o encontro, a Igreja Universal deixou bem claro o que os fiéis estão proibidos de fazer ao visitarem o suntuoso templo. Mulheres devem evitar o uso de minissaias e roupas curtas e para os homens está vetado o uso de bermudas e uniformes de clubes esportivos. Chinelos, camiseta regata, boné e óculos escuros também foram proibidos.
ALVARÁ DE REFORMA
Embora a igreja tenha criado as suas próprias regras, ela deixou de respeitar outras que estavam descritas na legislação. O templo foi construído com autorização de um alvará de reforma expedido em outubro de 2008, o que livrou a Igreja Universal do Reino de Deus de pagar 5% do valor da obra, de R$ 680 milhões, em contrapartidas e melhorias para o viário do entorno – ou seja, cerca de R$ 35 milhões.
Para uma obra com mais de 5 mil metros quadrados e 499 vagas de estacionamento, o alvará solicitado deveria ser o de nova obra, conforme determina a lei dos polos geradores de tráfego, de 2010.
Mas a Igreja Universal conseguiu autorização para fazer uma “reforma” com área adicional de 64.519 metros quadrados, em um terreno que tinha área construída de 2.687,32 m².
A autorização foi emitida pelo setor Aprov 5, da Secretaria Municipal de Habitação, à época comandado pelo ex-diretor Hussein Aref Saab, demitido em 2012 sob suspeita de enriquecimento ilícito.
O setor de Aref também renovou o alvará de reforma da igreja no dia 11 de dezembro de 2010, quando a nova lei dos polos geradores de tráfego já estava em vigor.
Mas, segundo a Prefeitura informou na semana passada, as melhorias exigidas do templo se limitam ao rebaixamento de cinco guias de cruzamentos, instalação de um conjunto de sete semáforos e o plantio de 25 mudas de árvores.
O Ministério Público Estadual abriu inquérito para apurar a construção irregular do megatemplo. A Promotoria de Habitação também quer saber se houve mesmo uma reforma ou se trata de obra nova.
SEM LICENÇA
Abordada pelo MP sobre a situação das licenças para o funcionamento do templo, a Secretaria de Licenciamento informou que um projeto modificativo de alvará de reforma foi apresentado pela igreja em 2011 e acabou indeferido no dia 3 de setembro.
O atual pedido de reconsideração do indeferimento está em análise na mesma pasta, segundo informou ao MP, no dia 7 de julho, a coordenadora de Edificação de Serviços e Uso Institucional da Prefeitura, Rosane Cristina Gomes.
Portanto, apesar de ter obtido a certidão de diretrizes da CET necessária para a inauguração, o templo ainda não possui o alvará definitivo para abrir as portas.
PICHAÇÃO
Na quarta-feira, dia 30 de julho, às vésperas da inauguração, o Templo de Salomão foi vandalizado. Operários responsáveis por realizar os acabamentos finais da obra se depararam com a frase “Atos 17:24” na fachada.
Minutos após a chegada dos funcionários, a pichação já havia sido removida. Um atendente de uma das lojas da região fotografou o ocorrido e publicou a imagem no Instagram, que foi excluída a pedido dos funcionários da segurança do templo. Nenhum funcionário Igreja Universal quis comentar sobre o assunto.
A delegada responsável pelo caso afirmou que, com base no que foi escrito, a pichação pode ser uma crítica aos gastos gerados para construção, além das condições impostas aos fiéis para ingressar no templo. A passagem bíblica Atos 17:24 diz: “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens”.
CURIOSIDADES
O Bispo Edir Macedo mandou vir de Hebron, em Israel, 40 mil metros quadrados de pedras usadas na construção e decoração do espaço e também importou 12 oliveiras do Uruguai para reproduzir o Monte das Oliveiras.
Na área construída há ainda espaço para 60 apartamentos de pastores que estão a trabalho no templo – incluindo um para o Bispo Edir Macedo.
No entanto, o que mais chama a atenção, é a tecnologia para a arrecadação de dinheiro, pois no altar há uma esteira rolante destinada a carregar o dízimo pago pelos fiéis diretamente para uma “sala-cofre”.