com Hernando Calaza
O Mustang é uma das maiores instituições do mundo automotivo. É um modelo que nasceu como um falso esportivo e acabou acreditando na própria mentira a ponto de se tornar um esportivo de verdade. No 60º ano de mercado, estreia a sétima geração, possivelmente a última a ostentar um sedento e perdulário motor V8. A versão trazida para o Brasil é a GT Performance, pela qual a Ford está pedindo R$ 529 mil, valor não muito diferente do que a importadora vem praticando nos últimos anos e que tem rendido uma média de 30 emplacamentos mensais.
Apesar de ser tratado como nova geração, o Mustang herda a plataforma da sexta geração do modelo, lançada em 2015. Segundo a marca, ela foi melhorada para aumentar a rigidez estrutural. O motor Coyote V8 com 5.0 litros também passou por uma atualização – a quarta , e agora rende 488 cv e 58 kgfm de torque – 5 cv a mais que o antecessor. Manteve, no entanto, a mesma caixa de 10 velocidades, compartilhada no Brasil em modelos como a picape F-150 e o furgão Transit. A aceleração de zero a 100 km/h e a máxima de 250 km/h não foram alteradas.
O novo Mustang segue o mesmo conceito visual do modelo desde seu nascimento, mas agora tem um estilo atualizado e mais marcante, especialmente no capô, grade e nos proeminentes para-lamas traseiros, que parecem culotes. Luzes estreitas, a saída de ar do capô (funcional) e, principalmente, a queda pronunciada do bico, além das portas sem moldura, são alguns dos detalhes mais interessantes do novo pony car.
Por dentro, o novo Mustang traz um ambiente limpo, com bons materiais na parte superior e apenas aceitáveis nas partes menos visíveis, do meio para baixo. Algumas peças, como o painel de botões poderiam ser melhor encaixados, mas ainda assim o modelo dá um salto qualitativo em relação aos antecessores.
Os bancos traseiros são para crianças ou meramente testemunhais: quase não há espaço para pernas e cabeças de adultos. Na frente, dá para perceber que, apenas de largo, não é tem um espaço muito aproveitável – o que fica nítido quando se quer guardar coisas. Há ainda uma bandeja com carregador sem fio para o celular, porta-copos duplo, porta-luvas sob o apoio de braço e porta-garrafas nas portas.
A principal mudança desse novo Mustang são as telas dispostas em forma de parede digital – semelhante à da nova Chevrolet Montana e que a Mercedes utiliza há mais de cinco anos. Ali se conjugam duas telas: uma de 12,4 polegadas para o painel e outra de 13,2 polegadas para a central multimídia. Há diversas configurações possíveis para o cupê, algumas um tanto extravagantes, mas por sorte há uma que imita o painel de um esportivo normal. O escape também pode ser configurado em níveis e tons diferentes.
Primeiras impressões
Bem traçadas curvas
No trajeto até o Autódromo Velo Cittá, em Mogi-Guaçu, foi preciso enfrentar o trânsito de São Paulo. As rodas de perfil baixo tendem a socar, mas é aí que entra a magia do GT Performance, com uma suspensão ajustável Magneride, que cuida de manter todos os órgãos internos dos ocupantes saudáveis. Os bancos são reguláveis eletricamente nos eixos vertical e horizontal, além de ter ajuste parte lombar. A reclinação do encosto, no entanto, é manual (coisa de se estranhar em um carro tão caro). Eles ainda têm aquecimento e ventilação. Apesar de serem esportivos, permitem uma convivência não torturante, embora estejam longe de serem confortáveis. Os retrovisores são mínimos e o aviso de ponto cego se torna quase um gênero de primeira necessidade. A direção tem peso correto.
Na estrada, o Mustang é um pouco mais confortável. A cabine é bem insonorizada e os diversos recursos ADAS funcionam como deveria. A 120 km/h, ele viaja a 2 mil rpm e mal se consegue ouvir o motor. Uma vez no circuito, é preciso definir alguns parâmetros do esportivo. No modo de pista, o painel de instrumentos, o escapamento, as indicações dos equipamentos multimídia, que mostram aceleração G, voltímetro… tudo se adequa ao ambiente.
Os freios são colossais e não esquentam. Exatamente por isso é possível acionar o pedal bastante tarde, contornar a curva facilmente e talvez a maior reclamação seja que demora algum tempo a reagir quando se volta à aceleração. O Mustang transmite segurança e, apesar de ser pesado, é também muito dócil. No fim das contas, a condução do novo Mustang é agradável. A conclusão é que ele é um carro capaz, mas além disso, traz um pacote que não faz o condutor sofrer como em um esportivo tradicional, que costuma ser duro, pesado e áspero.