Não obstante os meios modernos de transportes, durante um bom número de anos do século passado, ainda continuavam a dominar as carroças puxadas por animais. Isolados ou em parelhas, cavalos, burros ou bois atrelados aos rudimentares veículos, ainda eram os maiores responsáveis pela trasladação de mercadorias de um ponto a outro. Isso explica a manutenção, por todo aquele longo período, de vastas áreas cobertas de pastos, a ininterrupta fabricação de carroças e charretes, o intenso comércio de animais e dos acessórios necessários: arreios, celas, estribos etc.
Em momento algum se deve esquecer da ativa participação dos ferradores, profissionais muito requisitados naqueles dias. Por duas razões principais as carroças continuavam sendo o mais usual meio de transporte. A primeira, o fato dos chacareiros não poderem carregar caixas e cestos nos bondes. Naquela época, não era permitido sequer subir neles sem paletó. A segunda, referente aos trens. Com a extinção da parada da Rua Tuiuti, restavam apenas as da 4ª e 5ª Paradas. Tanto uma como a outra muito distantes da maior parte das propriedades.
OS BONDES DOS CHACAREIROS
A primeira dificuldade foi sanada com a instalação de bondes menores, de cor verde, apelidados de Cara-dura ou bonde dos verdureiros. Estes não possuíam sistema de tração própria, eram rebocados pelos bondes tradicionais. Enquanto a passagem destes custava duzentos réis, a do Cara-dura custava metade, cem réis ou um tostão. Mesmo assim, este pequeno bonde servia apenas para os chacareiros que transportavam caixas ou cestões. Estes pobres homens, normalmente ajudados por suas mulheres, carregavam os cestos estufados de verduras até a Estrada da Penha. Enormes distâncias eram vencidas a pé com os pesados fardos às costas.
Mas o progresso avançava, São Paulo crescia e junto, sua população. As carroças, utilizadas como meio de transporte, começavam a perder espaço. A partir do início da década de 30, os caminhões partiam, lenta e inexoravelmente, para sua expulsão.
Durante todos aqueles primeiros anos e, até metade do século passado, na zona ribeirinha as barcaças davam às olarias e portos de areia o mais adequado e econômico escoamento aos seus produtos. Era extremamente cômodo transportá-los pelas águas do Tietê. Os barqueiros, homens experientes no manejo dos pesados batelões, subiam e desciam o rio com rara desenvoltura, entregando os materiais nos pontos mais convenientes para a retirada e uso dos seus compradores. A partir dos anos 50, com a aplicação das dragas e a poluição do rio, tornando-o impróprio para a navegação, os batelões foram desaparecendo.
AS JARDINEIRAS
No transporte de passageiros, o bonde representava um real e significativo progresso, tanto com respeito à rapidez, como em matéria de conforto. Mas não deve ser esquecido que para chegar até a Estrada da Penha e valer-se dele, os moradores do alto Tatuapé precisavam vencer grandes distâncias. Em conseqüência disso, surgiram 3 linhas de jardineiras no bairro. As jardineiras eram pequenos ônibus, abertos lateralmente facilitando o acesso em qualquer ponto, equipados com estribos. Aliás aquelas jardineiras podem ser comparadas às atuais peruas de lotação.
Os passageiros podiam colocar malas, cestos e demais objetos sobre seu teto. Para não caírem, pequena grade limitava aquele espaço. Dois portugueses exploravam uma linha com ponto inicial na Rua Tuiuti e ponto final no Largo do Bom Parto. Eram eles o Cabral e o Mota. Este último usava como garagem um terreno alugado, de propriedade da Família Camardo. Chegou a instalar nele uma pequena bomba de gasolina para o abastecimento do seu veículo. Além dessas, havia outra linha partindo da Rua Antonio de Barros, próximo da Estrada da Penha, terminando junto ao Largo do Carrão. Não é difícil imaginar, devido a precariedade desses veículos, a paciência que deveriam ter seus usuários quanto a sua morosidade e as frequentes quebras. Muitos talvez preferissem fazer o trajeto a pé. Não se tem notícia da data em que pararam. De todas as formas, cumpriram, mesmo que por curto espaço de tempo, sua finalidade. Mais tarde, já no início da década de 40, surgiu um ponto de táxi na mesma rua. Nos primeiros tempos eram seus taxistas: João Pires, Caetano Perrela, Chico Aranha, Walter, Araken, Quadrado e alguns outros. Todos os carros eram pretos. Os proprietários os mantinham super polidos. Quando contratados para casamentos faziam questão de adorná-los de igual maneira, parecendo todos de um só dono. Era incrível o respeito que esses profissionais tinham por seus fregueses. Com o tempo adquiriram um telefone público, o que veio facilitar muito as chamadas.
A PRIMEIRA LINHA DE ÔNIBUS
Ainda em meados da década de 40, surge na Praça Silvio Romero a linha de ônibus 34, pertencente à CMTC. Seu ponto inicial era na Rua Tuiuti, junto à Padaria Montenegro. Mais tarde o ponto foi transferido para o interior da Praça, defronte do Cine Leste, e finalmente, para outro ponto da mesma praça, desta vez defronte da agência do atual Banco Itaú. Pouco a pouco foram surgindo outras linhas, servindo outras regiões do bairro. Simultaneamente a Celso Garcia era percorrida por dezenas de linhas que ligavam o Centro à Penha e mesmo a outros bairros.