No dia 16 de julho um homem morreu após ter seu atendimento recusado em frente ao Hospital e Maternidade Santo Expedito, em Itaquera. A vítima, o vigilante Nelson França, de 48 anos, foi levada pelo motorista de uma lotação, após passar mal dentro do veículo.
Ao chegar a poucos metros da porta do hospital particular, ele ficou agonizando no chão por mais de uma hora, à espera de socorro. Segundo relatos e um vídeo gravado por uma testemunha, dois funcionários do hospital foram até o estacionamento da unidade, observaram o paciente se contorcendo, mas nada fizeram.
Nelson só foi socorrido após o hospital chamar o Corpo de Bombeiros, que levou o vigia até o Hospital Municipal Professor Waldomiro de Paula, onde a vítima já chegou morta, de acordo com as informações divulgadas.
OMISSÃO DE SOCORRO
A Polícia Civil já tem certeza de que houve omissão de socorro por parte do hospital. De acordo com José Francisco Rodrigues Filho, delegado-titular do 53º DP (Parque do Carmo), embora a investigação ainda esteja em andamento, “é incontestável” que houve omissão por parte dos funcionários do Hospital Santo Expedito. “Temos a prova do vídeo, que é inequívoca”, disse.
Segundo o delegado, os dois funcionários que aparecem no vídeo devem ser indiciados. Entretanto, a polícia ainda investiga outras pessoas que também poderão ser indiciadas, entre elas, membros da direção da instituição.
José Francisco afirma que é necessário colher mais depoimentos e esperar o laudo do IML sobre a causa da morte, pois só assim será possível dizer se a omissão foi individual ou funcional.
Vale ressaltar que a pena para omissão de socorro que resulta em morte pode variar de 4 a 12 anos de reclusão.
RISCO DE ASSALTO
Na terça-feira, dia 22 de julho, um enfermeiro ouvido pela Polícia Civil afirmou que orientou dois auxiliares de enfermagem a não atenderem um paciente que passava mal em frente ao hospital por questões de segurança.
O enfermeiro Leonardo Brambila contou à polícia que impediu que funcionários do hospital prestassem socorro ao vigia porque a região onde fica o hospital é perigosa, e há risco de assaltos. De acordo com testemunhas, Leonardo impediu que outros dois funcionários prestassem socorro.
Ele disse que queria que o vigia fosse levado ao pronto-socorro, mas não avisou ninguém para que esse transporte fosse feito. Disse ainda que quando chegou perto de Nelson, acompanhado de um médico, Nelson França já estava morto.
Agora a polícia quer ouvir a equipe de resgate do Corpo de Bombeiros para saber se ele realmente estava morto.
1,5 MILHÃO
A família de Nelson França vai entrar com uma ação na Justiça pedindo R$ 1,5 milhão de indenização por dano moral e cível. Segundo Ademar Gomes, advogado que representa a família, além da indenização, a ação vai pedir pensão para a mulher de França e para seus três filhos. “No caso da viúva, pediremos pensão vitalícia. Para os filhos, o hospital deverá assegurar o sustento até os 24 anos”, disse o advogado. França deixou filhos de 9, 10 e 12 anos. “Ele era o principal provedor da família. A mãe e a irmã também dependiam dele.”
Nelson morava na Cidade Tiradentes e de acordo com o advogado, o vigia ganhava cerca de R$ 2.700 mensais em “bicos”. “Um pai de família ser tratado como um verme, um lixo, na porta do hospital, sem eles prestarem os primeiros atendimentos, deixa a gente muito triste mesmo”, afirmou a cunhada da vítima.
Gomes diz que vai representar a família também na ação criminal, na qual pedirá que sejam responsabilizados o enfermeiro, o médico de plantão e os diretores do hospital.
Em nota, o Hospital Santo Expedito disse que não corrobora de forma alguma com qualquer tipo de omissão de seus profissionais e destacou que nunca deixou de atender pacientes em estado grave, mesmo quando eles não tinham plano de saúde.
Disse também que abriu sindicância para apurar o ocorrido e punirá “com rigor” o envolvido caso seja apurada a responsabilidade de algum funcionário.