Já não era sem tempo; um mês longo e desgastante, além de um acúmulo de feriados e dias pela metade que pautaram as nossas vidas. E, no final, muito pouco se aproveitou. Pelo contrário, só ficou a amargura de mais uma acachapante derrota, a maior de todos os tempos. E, agora, a caça às bruxas.
Essa é a rotina: primeiro o sonho; se ele se realiza, tudo valeu a pena; se é frustrante, nada valeu. Seria melhor que nunca houvesse.
Não venha com essa história de que o sonho não acabou, de que ele continua, apenas foi adiado etc. Tudo história de mau pagador. Vamos cair na real, pés no chão e sentimento lógico.
Não que se tenha sonhado com algo impossível. O sonho tinha muito de realidade, mas, em 10 minutos, o sonho transformou-se em pesadelo.
Infelizmente é assim mesmo. Nada é eterno e nada se pode apagar com uma simples borracha. Há que viver-se cada momento como ele é, mesmo que seja profundamente infeliz, mas verdadeiro e real.
É bem verdade que poderia ser diferente. O sonho poderia ser real e não só um conto de fadas, mas, infelizmente, os comandantes da imbatível seleção assim não quiseram; preferiam ficar com suas convicções, mesmo que erradas, importando muito mais a manutenção de seus princípios de amizade e lealdade do que a razão.
Louvável sob todos os pontos quando tratamos uma coisa nossa, mas quando tratamos de algo que é dos outros e somos o zelador e o responsável por seus resultados, sem dúvida, não dá para fazer valer os princípios; mesmo que os venhamos a ferir, devemos fazer prevalecer a razão, a lógica e o bom senso.
Infelizmente o grande comandante de 2002 não soube dosar na medida exata o amor e a razão e, com isso, pôs em 10 minutos tudo a perder, decepcionando duzentos milhões de brasileiros que acreditavam não tanto em uma vitória, mas em uma derrota digna, pois, pelo menos, os que têm bom senso sabiam que não tínhamos condições de superar um time organizado há seis anos e que, sem sombra de dúvida, mostrava-se visivelmente superior.
Mas, como ninguém é imbatível, sempre restava um pouco de esperança de que o impossível pudesse acontecer e a garra, a fibra e o entusiasmo de nossos jogadores pudessem operar o milagre, e jamais imaginar um final tão trágico, tão melancólico.
Agora é cair no lugar comum. Nessas oportunidades é preciso recomeçar. A questão é: por onde? Certamente não seria com a mesma equipe e nem com os mesmos comandantes. O modelo está esgotado. Essa história de família é muito amadora. É preciso render-se ao mundo moderno, à tecnologia, ao acompanhamento diário do desenvolvimento.
É possível que não tenhamos mais técnicos no Brasil com competência para essa revolução e tenhamos de buscar lá fora o que não temos aqui. Essa questão de todos os jogadores estarem fora do País, com outra cultura, outra mentalidade, com outro modo de jogar, parece que também não tem mais sentido. São grandes e insuperáveis craques individualmente, mas quando em um conjunto, não conseguem se estruturar.
O próprio entusiasmo é outro. Apesar de terem bem disfarçado o seu amor irrestrito ao País e a seu povo, o que acabamos sentindo é que não é bem assim.
Terminada a Copa, cada qual voltará para as suas casas, que não são no Brasil, onde enfrentarão uma realidade completamente diferente. São homens absolutamente realizados, onde uma derrota como esta não contará muito em suas carreiras, pois já estão suficientes realizados.
É preciso recomeçar, mas não do mesmo jeito. Há que se buscar uma nova solução e fazer tudo diferente. Se for para continuar com o mesmo, é melhor não mexer.
Não é possível treinar uma equipe durante quatro anos e depois aparecer com outra. Há um ano não tínhamos um time. Ninguém conhecia a escalação. Depois de muitas tentativas é que se chegou aos jogadores que aí estão. E o pior, como uma única opção. Não havia outros. Faltam realmente valores para nossa seleção.
Não se produz craques. Abandonou-se o futebol do interior e não se investe nas equipes de base. O craque é destruído no nascedouro, levando-o para o exterior antes mesmo de resplandecer no Brasil. Está mesmo muito difícil.
De toda derrota tira-se uma lição. Logo, vamos aproveitar esta oportunidade de nos redimir e buscar as verdadeiras soluções.
Meu grande amigo Romano Neto deve estar apenas parcialmente feliz com esse resultado. Uma Copa do Mundo no Brasil e ainda com alguns jogos na Zona Leste seria uma realização para ele, que tanto trabalhou e torceu pelo desenvolvimento da região. Só faltou mesmo a vitória do Brasil.