O Núcleo do Pequeno Ato apresenta uma narrativa inspirada nos problemas sociopolíticos brasileiros atuais no espetáculo Distopia Brasil, que estreia no Centro Cultural São Paulo (CCSP), no Espaço Cênico Ademar Guerra, no próximo dia 29.
Com direção de Pedro Granato, a montagem surgiu de um processo criativo colaborativo, no qual o núcleo se debruçou sobre distopias clássicas e contemporâneas, como 1984, Fahrenheit 451, Handmaid’s Tale, Blade Runner, Matrix, Laranja Mecânica, Admirável Mundo Novo, Black Mirror, Ensaio sobre a Cegueira e V de Vingança.
A ideia era partir dessas obras para criar uma reflexão sobre como seria um futuro sombrio do país se os seus problemas atuais se agravassem. “Quando começamos esse processo, não imaginávamos que o Brasil se deterioraria tão rápido. O teatro segue na sua profunda impotência diante do macro; o que pretendemos fazer é atuar na escala individual. Que o espectador consiga por um instante entrar em contato com o que pode acontecer e reagir a isso”, explica Granato.
As principais questões sociopolíticas escolhidas para discussão foram: a intervenção militar no Estado, manifestada nas forças de pacificação do exército no Rio de Janeiro, que controlam e ficham os moradores das comunidades periféricas; o avanço do Estado Religioso, representado pelo crescimento da bancada BBB (boi, bíblia e bala) no congresso; o controle e fim da privacidade, que ficaram evidentes nos recentes grampos norte-americanos para políticos brasileiros e na vigilância dos cidadãos comuns exercida pelas novas tecnologias e mídias sociais; e os desastres ambientais, como a crise hídrica que tem ameaçado os reservatórios de água de São Paulo nos últimos anos. Também foram investigados grupos atuais de resistência para tentar imaginar como seria a luta contra esse regime totalitário proposto.
Assim como as peças anteriores do coletivo, Distopia Brasil propõe uma experiência imersiva ao espectador, arrastando-o para dentro da cena. Na entrada, por exemplo, a plateia deve responder perguntas dos interventores e será acomodada em bancos como se estivesse na igreja – ou na fila de espera por um serviço estatal burocrático. Além disso, todos são filmados o tempo todo, participam dos ritos da República Teocrática do Brasil, aplaudem o discurso do líder, rezam e participam do julgamento de um casal de meninas que tentou esconder sua relação para conseguir um visto de saída do País.
Para o núcleo, o futuro do Brasil se parece muito com uma mistura do passado e do presente, nos quais a justiça é mesclada com a moral religiosa, a escravidão, o machismo e a homofobia são traços marcantes da sociedade e poucos conseguem romper o conforto da passividade.
Apresentações: sextas e sábados, às 21 horas, e domingos, às 20 horas. Classificação: 12 anos. Ingressos: grátis, distribuídos uma hora antes. Temporada: até 21 de abril. Local: Rua Vergueiro, 1.000. Mais informações no telefone 3397-4002.