Sr. redator:
“Ao pensarmos sobre o que está acontecendo hoje no Brasil, devemos ter um cuidado extremo para não cairmos em análises simplistas das manifestações e de todas essas movimentações sociais que assistimos diante de nossas janelas, televisores e telas de smartphones. Muitas das coisas que ando lendo colocam, por exemplo, o Facebook como um fator fundamental e protagonista do que estamos presenciando. Eu não parto dessa lógica. Colocar o Facebook como ferramenta principal de tudo isso que é, para mim, um argumento míope, raso e inconsistente.
O próprio uso do termo revolução, que aparece em textos, comentários e opiniões nas mídias e sobretudo nas nossas timelines, deve ser repensado. Será que estamos diante de uma revolução? Acho que não e ainda é muito cedo para concluir isso.
O protagonismo está na apropriação social das pessoas sobre o surgimento da máquina, e não na máquina. É o mesmo que colocar, equivocadamente, o microblog Twitter como protagonista do que vimos acontecer na chamada Primavera Árabe. A queda de governos no Oriente Médio foi causada pelas pessoas e pela apropriação social das pessoas sobre essas redes sociais digitais. Sempre no social.
Vive-se hoje uma nova revolução? Há quem acredite que sim, que há uma revolução. Eu não partilho dessa opinião. Neste texto, eu coloco a minha reflexão sobre o que estamos vendo, e opto pela não-adoção do termo revolução para classificar essas transformações que evidenciamos. Os argumentos de algumas pessoas carregam um tom radicalmente revolucionário, fazendo crer que tudo aquilo que antes era passado, passa a ser agora de forma diferente, antagonizando e contradizendo o que passou. Se não existisse Facebook, estaria acontecendo toda essa mobilização social nas ruas?
Certamente sim. Não é uma página de web, na verdade uma grande mídia originada em um dormitório de Harvard, que deve ser colocada no centro dessas transformações sociais, políticas e econômicas que podem estar por vir. Tudo bem que o Facebook e outras plataformas podem é contribuir de forma interessante no sentido de articular encontros e mobilizar pessoas. Mas os atores principais dessa história toda são e sempre serão as pessoas, o povo, o social. O fato é que ainda é muito cedo para prever no que resultará toda essa mobilização. O preço das passagens já voltou ao valor anterior. Mas o que realmente está por vir? Eu não me arrisco a prever.”
Marcos Hiller
