A Copa do Mundo mal acabou e já deixou saudades, mas agora fica a pergunta: qual é o legado que ficou? Em questão de infraestrutura, o que restou é muito menor do que o prometido há quatro anos – e a um custo mais alto. Em 2010, o governo anunciou que o evento atrairia investimentos de R$ 23,5 bilhões em 83 projetos de mobilidade urbana, estádios, aeroportos e portos. Parte das obras estacionou no caminho e só 71 projetos foram mantidos na lista.
De acordo com levantamento nas 12 cidades-sede, as obras entregues para a Copa e as inacabadas somam R$ 29,2 bilhões – mesmo com projetos mais ambiciosos, como trens e monotrilhos tendo sido substituídos em várias cidades, por modestos corredores de ônibus. Ou seja, o País gastou mais para fazer menos e com menor qualidade. Com relação às obras de mobilidade urbana, por exemplo, 74 foram entregues e 46 permanecem inacabadas. O Expresso Aeroporto, trem que ligaria o centro da cidade a Cumbica, foi cancelado em 2012. E o monotrilho do Morumbi ainda está em construção.
ARENA CORINTHIANS
O último jogo padrão Fifa que a Arena Corinthians recebeu aconteceu no dia 9 de julho, entre Argentina e Holanda, e desde então o local está se adaptando a nova realidade. A principal mudança será a saída das arquibancadas temporárias que ficam localizadas nos setores norte e sul.
Sem as temporárias a capacidade do estádio cairá de 68 mil para 48 mil lugares.
Segundo a Fast Engenharia, empresa responsável pelas estruturas, a desmontagem começou no dia 11 de junho, e levará cerca de 120 dias para ser concluída. Isto é, no começo de novembro.
Até lá, o Corinthians disse que não tem pressa para concluir as mudanças e garantiu que os jogos do time vão ocorrer normalmente neste período. Tanto é que no, dia 17 de julho, houve a partida entre os donos da casa contra o Internacional, pelo Campeonato Brasileiro.
Ainda com relação as arquibancadas, haverá também mudanças no setor norte inferior que é reservado às torcidas organizadas. Neste setor, atendendo a um pedido das torcidas, as cadeiras serão retiradas para que se possa assistir aos jogos em pé.
ITAQUERA
Agora o bairro de Itaquera também vive a expectativa de mudanças com o final da Copa. As melhorias vão desde a instalação de um polo institucional focado em educação e cultura até a conclusão do complexo viário inaugurado no começo de junho.
O Polo Institucional está sendo instalado pela Prefeitura de São Paulo e conta com uma Fatec, que já está em funcionamento, uma Etec (com previsão de inaguração em 2015), além da construção de unidades do Sesi, Senai, um centro cultural e um museu da criança.
Com relação ao viário, ele está quase pronto. Ao custo de R$ 548,5 milhões (R$ 397,9 milhões do governo do Estado e R$ 150,6 milhões da Prefeitura), as intervenções têm como objetivo melhorar o acesso ao bairro e também à Arena Corinthians.
No mês passado, a maior parte das obras foi inaugurada. Ficaram faltando apenas duas novas alças de ligação entre a Jacu-Pêssego e a Radial Leste, que estão previstas para setembro.
Entre o que já foi entregue, está uma passarela de pedestres de 185 metros entre as Avenidas Radial Leste (na altura da Estação Artur Alvim do Metrô) e José Pinheiro Borges.
O mergulhão, como são chamados os dois túneis sob o novo sistema viário, que fica ao lado do estádio, também já está em funcionamento, e o novo sistema do conjunto de viadutos que passam sobre as linhas do Metrô, da CPTM e a Radial Leste.
TRANSPORTE PÚBLICO
O transporte público da região também foi beneficiado. O terminal de ônibus Corinthians-Itaquera foi ampliado e irá receber mais linhas. As obras foram concluídas a poucos dias do início da Copa, então somente agora é que as mudanças devem começar a ser de fato sentidas. Além disso, já está em licitação a implantação de um corredor de ônibus na Radial Leste – hoje, há apenas uma faixa exclusiva no lado direito da pista.
ÁGUA E LUZ
Entretanto, para as 400 famílias que moram a cerca de 300 metros da arena, à beira do córrego do Rio Verde – que, atualmente, é um esgoto a céu aberto – as mudanças foram outras.
A água que agora corre das torneiras de suas casas foi uma delas. Já a energia, até agora pelo menos, segue apenas como promessa. Todavia os moradores têm fé que, até setembro, como prometido pela Eletropaulo e pela Prefeitura, o projeto seja concluído indo além dos primeiros postes de luz já instalados.
“Esse foi o nosso legado. Essa é a nossa Copa do Mundo. A água não chegava para todo mundo, era só pra um lado da comunidade. Agora a Sabesp veio, instalou tudo e todo mundo tem água. Essa briga nossa já tem 20 anos, só conseguimos agora”, explica a moradora Drancy Silva.