Sr. redator:
“A Copa do Mundo se aproxima e percebe-se um clima de expectativa no ar. Há muitos interesses, nem sempre explícitos, tanto no sucesso quanto no fracasso do Mundial. Não se pode negar que a Copa é um grande negócio do ponto de vista econômico e que há um ingrediente político que envolve o evento.
Diante disso, a Fifa vende para o mundo, nestes dias que antecedem o início do evento, um produto valiosíssimo que é a imagem. A transformação do cotidiano em imagem a ser consumida é o ‘espetáculo’. O consumidor final acaba sendo um consumidor de ilusões. E é na construção deste show que aparecem as personagens, que numa trama a ser desenrolada, assumirão papéis de heróis e vilões, de protagonistas e figurantes. E como não podemos e não sabemos exercer o papel de adivinhos, resta-nos apontar possibilidades.
Para ocupar o papel de heróis, aparecem os jogadores e todos os componentes da comissão técnica da seleção brasileira. Candidatos a semideuses podem acabar transformando-se em verdadeiros vilões da história. O povo brasileiro aprendeu, nestes tempos de redes sociais e comunicação intensa e instantânea, que os ídolos possuem pés de barro, e que os interesses econômicos deles estão acima dos interesses da malfadada pátria de chuteiras.
Nós aprendemos que os nossos jogadores são comandados por marqueteiros profissionais, que não perdem uma única oportunidade de promover seus clientes. Basta lembrar o episódio envolvendo uma banana arremessada em direção ao lateral Daniel Alves, num jogo do Barcelona, pelo campeonato espanhol.
Imediatamente após o episódio condenável, uma agência de publicidade, que assessora o jogador Neymar, aproveitou a situação e postou uma foto do seu ‘produto’ com uma banana em uma das mãos dizendo: ‘Somos todos macacos’. Isso virou febre na Internet e muitos outros jogadores da seleção brasileira mostraram-se solidários à causa e também postaram fotos, seguindo o exemplo do jovem craque.
Interessante que uma semana após este evento, um torcedor de um time do Nordeste morreu após ter sido acertado com um vaso sanitário arremessado da parte superior das arquibancadas, no Estádio Arruda, em Recife. Neste momento, Neymar e nenhum dos seus colegas de seleção se mostraram revoltados com aquela insanidade e com a violência brutal do fato.
O que se percebe com clareza, hoje em dia, é que jogadores do presente ou do passado, apesar de fenomenais em campo, fora dele, geralmente mostram-se alienados em muitos assuntos que interessam à sociedade brasileira.
O governo brasileiro tem grandes chances de ser colocado na condição de vilão. As promessas não cumpridas relacionadas ao tal ‘legado da Copa’, os atrasos nas entregas de obras e a malversação do dinheiro público podem transformar a ‘Copa das Copas’, numa verdadeira ‘Copa de pesadelos’ para o Governo Federal. No entanto, se tudo der certo durante o Mundial, o governo poderá ficar com o papel de simples figurante, já que não fez mais do que sua obrigação. Afinal de contas, a Copa não é ou não deveria ser o palco para os políticos brilharem.”
Gerson Leite de Moraes
