Quando a Disney e a Lucasfilm decidiram criar uma história independente sobre Han Solo, estavam mirando em uma oportunidade única: utilizar o personagem mais divertido da franquia original para criar a sua própria comédia de aventura dentro do universo Star Wars. Enquanto Rogue One explorava o desenvolvimento de um conflito específico (o acesso aos planos da Estrela da Morte), este novo filme “Han Solo – Uma história Star Wars” se concentra na história da formação de uma “família” eletiva, incluindo Han (Alden Ehrenreich), Chewbacca (Joonas Suotamo), Lando Calrissian (Donald Glover), além dos novatos Tobias Beckett (Woody Harrelson) e Qi’ra (Emilia Clarke).
Por esta razão, não existe um antagonista forte, e sim pequenos empecilhos impedindo a união do grupo. Com o piloto à frente da história, o roteiro se delicia com tiradas sarcásticas, explorando o ego inflado do personagem e sua malandragem na hora de resolver os problemas. Aliás, os malandros existem aos montes nesta trama, incluindo Lando e a nova criatura Rio (voz de Jon Favreau). Às mulheres, cabem papéis secundários, mas todos devidamente fortes, com direito a uma androide feminista e empoderada. A Disney aprendeu que não é mais possível colocar personagens femininas em posição de perigo e fragilidade o tempo todo, por isso tratou de colocar armas e dividir as posições de liderança.
No que diz respeito ao humor, nem todas as piadas funcionam à perfeição, mas servem para ilustrar estes heróis falhos, que às vezes se corrompem pelo dinheiro. Numa franquia marcada pela clara divisão entre as forças do bem e o mal, o filme tem o mérito de trazer personagens repletos de nuances, e passíveis de mudanças ao longo da trama. Para os fãs do Episódio IV (1977), existe a curiosidade de descobrir de onde surgem os nomes dos personagens, suas relações familiares, e o contexto exato em que ocorre o encontro de Han, Chewbacca e Lando. No caso de Chewbacca, o roteiro encontra uma solução bastante inteligente para uni-los, e depois atribui a Chewie uma função indispensável de que não dispunha nos filmes anteriores.
Além disso, o projeto trata de fazer associações importantes com o futuro da saga, especialmente com Uma Nova Esperança, é claro. Mesmo assim, a aventura estabelece um universo específico, num retro-futurismo ainda mais acentuado do que na trilogia original. Agora, com orçamento confortável e efeitos digitais de primeira qualidade, o filme pode imaginar novas criaturas verossímeis e conceber versões diferentes de edifícios, trens, naves. Apesar da tecnologia, o cenário é repleto de mecanismos analógicos, peças em aço e androides de desenho tão simples quanto R2-2D.
No elenco, Alden Ehrenreich faz o que pode para resgatar o estilo despojado de Harrison Ford, mas possui seus traços próprios de composição, reforçando o aspecto imaturo do protagonista. Donald Glover capricha no sotaque e compõe um Lando ainda mais malicioso do que o esperado.