Exposição às telas em idade precoce também aumenta em quase 5 vezes a chance de atrasos na linguagem e em 2 vezes de déficits nas habilidades sociais
O uso das telas faz parte do dia a dia de pessoas do mundo inteiro. As ferramentas digitais também são importantes no processo de aprendizagem, comunicação e outras inúmeras funcionalidades. Por isso, pode ser impensável renunciar à tecnologia em um mundo hiper conectado. Mas, se você tem filhos pequenos, é melhor repensar se realmente é necessário expô-los às telas.
Isso porque, um estudo recente publicado no Jama Pediatrics apontou que bebês expostos às telas, por volta do primeiro ano de vida, começam a apresentar atrasos importantes na aquisição da linguagem, da coordenação motora e das habilidades sociais, principalmente na fase crítica do desenvolvimento, entre os 2 e 4 anos.
FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA
Segundo Walkíria Brunetti, fisioterapeuta com mais de 30 anos de atuação em fisioterapia neurológica voltada para bebês e crianças, há vários fatores que explicam as razões do impacto das telas no desenvolvimento infantil.
“O tempo prolongado de tela tira da criança oportunidades de brincadeiras e atividades que são essenciais para o seu desenvolvimento. O bebê e as crianças maiores precisam do movimento, das interações com o ambiente, das brincadeiras com outras crianças e com os adultos, para que possam se desenvolver de forma plena”, aponta.
DESENVOLVIMENTO DA COORDENAÇÃO MOTORA
“O desenvolvimento das habilidades motoras depende dos estímulos dados ao bebê e à criança. Quando a tela é usada de forma passiva, por exemplo, não existe estímulo. Então, essa criança pode começar a apresentar déficits na aquisição da coordenação motora e outros atrasos, especialmente na linguagem e nas habilidades sociais”, aponta Walkíria.
O desenvolvimento da coordenação motora se inicia nos primeiros meses de vida e se aprimora ao longo da infância. Há dois tipos de coordenação motora: a grossa e a fina.
“A grossa envolve os movimentos dos grandes grupos musculares das pernas, braços, pescoço e abdômen. A criança vai precisar dessa coordenação para firmar a cabeça, sentar-se, engatinhar, andar, correr, chutar uma bola, entre outros movimentos que precisam de impulso e força”, comenta Walkíria.
MOVIMENTOS MAIS REFINADOS
“Já a coordenação motora fina envolve movimentos mais refinados, como segurar um brinquedo, um talher, um copo, pintar, desenhar, recortar, escrever. Portanto, podemos dizer que é a capacidade de realizar movimentos intencionais com os músculos menores do corpo”, completa a especialista.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), trouxe algumas recomendações a respeito do uso de telas por crianças. O limite de tempo de uso dos dispositivos eletrônicos é determinado pela faixa etária, mas sempre deve ter supervisão de adulto. Confira:
1 Menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames;
2 Dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia;
3 Dos 6 aos 10 anos: entre uma e duas horas por dia;
4 Dos 11 aos 18 anos: entre duas e três horas por dia.
ATIVIDADES PARA ESTIMULAR
“Há muitas evidências dos prejuízos das telas para o desenvolvimento infantil. Portanto, é sempre válido conscientizar os pais e cuidadores sobre a importância de evitar a exposição da criança às telas ou, pelo menos, reduzir ao máximo o tempo de uso. Para além disso, também crucial incentivar atividades que ajudem na aquisição das habilidades motoras”, diz Walkíria.
Confira algumas atividades que podem ajudar no desenvolvimento da coordenação motora grossa: pular amarelinha; pular corda; jogar bola; andar de bicicleta, patins, skate; cabo de guerra; corrida de obstáculos; e vai e vem.
Lembre-se: todo movimento conta, o importante é evitar que a criança se torne sedentária e passe a maior parte do tempo nas telas.
Confira algumas atividades que podem ajudar no desenvolvimento da coordenação motora fina: pintar; desenhar; recortar (com supervisão de um adulto); comer sozinha; segurar o próprio copo; brincar de massinha; brincar de blocos de encaixar; tirar e colocar tampas em potes; abrir e fechar botões; escolher feijão ou tirar e colocar os feijões dentro de potes; montar quebra-cabeças; jogar bafo (brincadeira com figurinhas); brincar de Três Marias; fazer pulseiras e outros acessórios com miçangas; pega varetas; e aprender a tocar instrumentos musicais.
DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR
“Atualmente, com todo o conhecimento que temos a respeito dos prejuízos das telas para o desenvolvimento infantil, precisamos ser mais cuidadosos e conscientes em relação à exposição às telas. Além disso, é essencial oferecer os estímulos, de acordo com a idade, e substituir o celular ou o tablet por brincadeiras e atividades lúdicas, que contribuam para o desenvolvimento neuropsicomotor da criança”, finaliza Walkíria.