Engana-se quem pensa que futebol é um esporte apreciado apenas por homens. “Ia a estádios com o meu pai e tinha até uma almofadinha para sentar. Confesso que curto muito mais futebol do que o meu marido”. As palavras são da empresária Adriana Zeli de Melo Maria, que fala com muito carinho de suas passagens na infância e adolescência.
“Não vou recordar o ano, mas em uma das Copas, como morávamos em uma rua muito tranquila, eu e meu pai pintamos a rua toda, colocamos bandeirinhas e nos preparamos a caráter para assistir a todos os jogos. Bons tempos… A frustração veio com a derrota na Copa de 2006 para a França e também, em 1998, com aquele mal-estar do Ronaldo.”
Assim como muitos brasileiros, Adriane também espera que a seleção faça bonito. “Se depender da minha torcida, fará”, finalizou a sãopaulina.
A INESQUECÍVEL COPA DE 1970
Para o diretor-financeiro Helcio de Oliveira, a Copa de 1970 foi marcante pelo seguinte fato: ele descobriu, aos 11 anos, não só a importância para uma seleção em disputar o Mundial, mas a sua grandeza dentro do contexto esportivo.
“Foi muito bacana começar a enxergar esta concepção. Depois veio o lado oposto, o da decepção, com a Copa de 1982. O Brasil tinha a melhor equipe: Zico, Sócrates, Junior, Toninho Cerezzo, Valdir Peres, Oscar, Batista, Falcão… Mas foi a tarde de Paulo Rossi. A seleção italiana não estava jogando nada e, de repente, ela se consagrou contra o Brasil e nos tirou da competição. A lição? Nem sempre a melhor equipe vence.”
Entendedor do assunto, Helcio também faz parte de uma instituição de ensino que valoriza o esporte e sempre está presente em competições internacionais. “Só este ano conquistamos dois campeonatos com as nossas equipes de futsal. Um na Itália – sub 17, e outro em Portugal – sub 14.”
Sobre Pelé, Helcio destacou que teve a oportunidade de vê-lo jogar praticamente no final de sua carreira, somente na Copa de 1970, no México. “Sensacional. Depois do ‘Rei’, pra mim, o melhor jogador foi o Zico, o ‘Galinho de Quintino’. Também tive a oportunidade de assistir ao penúltimo jogo do Pelé, vestindo a camisa do Santos, contra o Corinthians, aqui em São Paulo, no Pacaembu. O último foi na cidade de Santos. Época boa esta.”
Vale lembrar que, Edson Arantes do Nascimento, o “Rei Pelé”, disputou quatro Copas do Mundo: Suécia (1958), Chile (1962), Inglaterra (1966) e México (1970). Ele marcou 12 gols em 14 partidas em mundiais.
FELICIDADE EM DOSE DUPLA
Osmar Basílio assistiu a duas aberturas de Mundiais: nos Estados Unidos (1994) e na África do Sul (2010). “Além de ser uma festa muito bonita, todas as nações estão reunidas no clima da expectativa do que pode acontecer no decorrer do campeonato. Diferente da final, onde há uma tensão no ar para saber quem vencerá. Sem falar no show que antecede o início do primeiro jogo. Um espetáculo à parte. É realmente um momento único. Aliás, aposto que no dia 12 de junho teremos uma grande festa aqui também. Para nós, que somos da Zona Leste, é um orgulho muito grande sediar este acontecimento: a abertura de uma Copa do Mundo.”
Basílio, que está à frente de uma instituição de ensino que tem como tradição apoiar a prática esportiva, disse estar muito orgulhoso por ver dois de seus ex-alunos hoje na seleção brasileira: Jô e Willian. “Eles sempre se destacaram. O Jô foi campeão quando competimos o torneio internacional de futebol de campo, no México, em 2002, ano em que o Brasil também conquistou mais um título mundial, naquele país. Já o Willian, participou do campeonato brasileiro de futebol de campo realizado na Granja Comary, em 2005. A entrega do troféu foi feita pelos jogadores Ronaldo e Kaká. No ano de 1994, a instituição participou do pré-mundial de futebol escolar, na Flórida, que antecedeu o Mundial nos Estados Unidos e também foi campeã. Diz se não somos pé-quente?”, contou entusiasmado.
TV A CORES
A diretora e coordenadora-pedagógica Marcia Nalesso de Sá, moradora do Tatuapé, contou com bastante propriedade que, na Copa de 1970, então com 7 anos, seus pais compraram uma televisão colorida para assistir a conquista do tricampeonato do Brasil.
“Naquela época tudo era muito difícil. Hoje as crianças têm tudo: último celular, melhor Internet, e muito mais. Recordo que foi a maior farra dentro de casa: eu, minha irmã, meus pais e a nossa funcionária. Isso porque os meus pais compraram a TV para vermos os jogos da Copa”.
Em meio a risos, ela revelou que, até aquele momento, a única maneira de assistir os programas na televisão de forma colorida, era colocando um celofane verde sobre a tela. Isto foi algo que ficou marcado para Marcia e sempre que a família se reúne relembra o fato com muita alegria. Ela garante que a sua família está animada com a reunião para assistir ao Mundial e que todos prometem torcer e vibrar muito para a seleção brasileira.
UNIÃO IGUAL AO NATAL
Para a diretora-pedagógica Claudia Migliaccio, a união é um dos fatos mais marcantes em um Mundial. “É como o espírito do Natal. Família reunida, os amigos, uma grande festa. Para assistir aos jogos do Brasil, vamos todos na casa da minha irmã. É lá que a ‘bagunça’ acontece. Quando tem jogo, a casa é enfeitada, levamos bandeiras, nos vestimos a caráter e curtimos muito cada momento.”
Só tem um probleminha: o coração em alguns momentos fica dividido pela seleção da Itália. “Isso acontece por conta da origem da minha família. Mas o Brasil vem sempre em primeiro lugar. Claro! Torço pela Itália só quando ela joga com outros times”, explicou.
Mas e quando acontece o encontro das duas seleções? Quem não se lembra da final da Copa nos Estados Unidos, no ano de 1994, em que Roberto Baggio perdeu a última conversão dos pênaltis e deu o título para o Brasil? “Aí não tem jeito. É Brasil sempre! O bacana é ressaltar que estamos prestes a viver um momento único e estou muito ansiosa por isso.”
Outro ponto positivo da competição estar sendo realizada no Brasil, para Claudia, foi a motivação pela procura pelos cursos de idiomas. “Principalmente de língua inglesa. Ficamos muito felizes porque percebemos que as pessoas estão preocupadas, sim, com a sua formação. Acreditamos que esta motivação irá continuar.”
TROCA DE FIGURINHAS
O estudante tatuapeense Caio dos Santos Zoppetti tem guardado na memória, além da vitória da Espanha em 2010 e do tricampeonato da Itália em 2006, a troca de figurinhas no último Mundial na África do Sul.
“Eu trocava figurinhas em uma padaria aqui no Tatuapé. Ia com o meu irmão e meu pai e foi muito legal este momento. Lembro até hoje”. Com o álbum a completar, disse curtir a troca de figurinhas com os amigos na escola.
Para torcer pelo Brasil no jogo de estreia, entre Brasil e Croácia, na Arena Corinthians, Caio e seus amigos estão pensando em se reunir no salão do prédio, assim como aconteceu na Copa de 2010. Eles também prometem torcer muito pela nossa seleção.
ALEGRIA E CONFRATERNIZAÇÃO
Torcedor do Corinthians, o médico Carlos Jorge Lotfi também é fã da seleção que disputou a Copa de 1970. “Nesta época, eu tinha 10 anos e recordo que foi a primeira transmissão ao vivo pela tevê. Olha, dava gosto de vê-los jogar.
Principalmente porque ali estavam Pelé e Rivellino. Tanto é que ficou gravado na minha memória. E como as pessoas comemoravam quando o Brasil ganhava. E na final? Teve fogos, chuva de papel, os jogadores desfilaram em carro aberto por várias cidades, uma festa só. Eram tempos difíceis, de ditadura, e naqueles momentos as pessoas extravasavam as suas emoções ao comemorar um gol, uma vitória.”
E agora, Carlos disse que está tão perto e ao mesmo tempo tão longe de assistir a uma partida pela Copa. “Pois é, quem diria uma abertura de Mundial tão pertinho da gente. Ainda no estádio do Corinthians. Pena que não consegui nenhum ingresso. Mas tudo bem. Vou torcer pela televisão mesmo. Temos uma equipe forte, com atletas motivados e que poderão contar com o apoio de sua torcida. Chegou o momento!”
Aliás, muitos atletas de peso estarão no Brasil, famosos e habilidosos, caso de Messi e Cristiano Ronaldo, por exemplo. Então como apostar em uma final? “Mas aí é fácil: acredito em Brasil e Alemanha ou Brasil e Espanha. Já pensou?”
BOAS RECORDAÇÕES
O empresário Sérgio Cardoso também é da seguinte opinião: de que a seleção de 1970 foi a melhor. “Foi a minha primeira Copa. Eu tinha 9 anos. E, de todas as que eu vi até hoje, foi, sem dúvida, a melhor.”
Tanto é que Sérgio relembrou quem jogava na época: Félix, Ado, Leão, Brito, Piazza, Carlos Alberto, Marco Antônio, Baldocchi, Fontana, Everaldo, Joel, Zé Maria, Clodoaldo, Gérson, Rivellino, Paulo César, Jairzinho, Tostão, Pelé, Roberto, Edu e Dario. O técnico era o Zagallo.
Depois da conquista do título, uma imagem ficou marcada em sua memória: o céu tomado por balões. “Eram muitos, mas muitos mesmo. Também, naquela época, São Paulo era outra cidade. Tudo tinha uma inocência. Deixou saudade. Também não esqueço da Copa de 1982. Era um futebol elegante.”
Otimista, Sérgio conseguiu entradas para assistir a duas partidas na Copa do Brasil: Bélgica e Argélia, em Belo Horizonte; e Grécia e Costa do Marfim, em Fortaleza. “Pena que não saiu para o jogo da seleção. Sei que temos força para ganhar, e seria interessante que todos transferissem uma energia positiva para os nossos jogadores.”
A EMOÇÃO DE QUATRO MUNDIAIS
Também apaixonado por futebol, Wagner Rivera Rodrigues, que viajou a vários países para assistir a Mundiais – Estados Unidos (1994), França (1998), Alemanha (2006) e África do Sul (2010) – também revelou ter motivos de sobra para estar orgulhoso com a competição no Brasil.
Isso porque, o atual técnico do time de masters do Corinthians, na época em que era diretor das categorias de base do clube, teve sob os seus cuidados os jogadores Jô e Willian. “Que felicidade. São garotos de valores e que souberam desenvolver o seu futebol”, comentou.
Quanto às demais edições, disse ter vivido momentos inesquecíveis em todas elas. “Alegrias e tristezas. Não há como descrever a emoção de estar em uma final, ouvir o hino nacional e ver o seu time campeão, como aconteceu nos Estados Unidos, quando conquistamos o tetracampeonato. Ou de receber um telefonema de sua família, como foi o caso na Copa da África do Sul, e ouvir do outro lado da linha que todos estão te vendo pela tevê. Pena que nesta Copa a seleção não foi bem e saiu nas quartas de final. A Espanha sagrou-se campeã.”
HOMENAGEM INUSITADA
No mundo do futebol, o nome Diego nos remete a qual jogador? Acertou quem pensou em Diego Maradona, um dos craques da seleção Argentina, “arquirrival” do Brasil. E, para a surpresa de muitos, no ano de 1986, o pai de Diego Vianez resolveu prestar uma homenagem ao atleta, dando ao filho, o primeiro nome do jogador de futebol.
“Pois é. Isso aconteceu, segundo o meu pai, por conta da belíssima atuação de Maradona na Copa do México, quando a Argentina conquistou o Mundial. Nasci dias depois. Mas quero deixar bem claro que isso não significa que torço para ‘os nossos hermanos’. Sou fanático por futebol e brasileiríssimo. Aliás, ainda estou muito bravo com o Boca, que tirou o meu Corinthians da Libertadores”, esclareceu.
Outra curiosidade é com relação à escalação da seleção na Copa de 2006. “Lembro direitinho: Dida, Cafu, Lúcio, Ruan, Roberto Carlos, Gilberto Silva, Zé Roberto, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ronaldo e Adriano. Sabe por quê? Usei esta escalação para representar a faculdade em um campeonato virtual de futebol e fui campeão. Entretanto, em campo, os jogadores não se saíram muito bem.”
Outro fato marcante para Diego em Copas do Mundo foi quando Roberto Baggio errou o pênalti e deu o título para o Brasil. “Como não lembrar deste dia! Isso foi em 1994 e eu tinha apenas 8 anos. Recordo de olhar pela janela e ver a rua toda enfeitada com fitinhas nas cores verde e amarela. Que festa.”
Já com ingressos garantidos para o jogo Bélgica e Coreia, na Arena Corinthians, Diego, que é dentista, disse estar bem ansioso. Mesmo porque, é a primeira vez que ele vai assistir a uma partida de Copa do Mundo no estádio. “Pena que não consegui ingresso para o ver Brasil. Mas estou bem confiante que vamos levantar o caneco.”