Sr. redator:
“Você considera seguro andar de moto? A grande maioria das pessoas certamente responderia que não! Parte delas provavelmente veio seguida de algum relato escabroso sobre acidentes com motocicletas. A imagem negativa permeia o universo das duas rodas, mas mesmo que pareça óbvio, do ponto de vista da opinião pública, será verdade que a motocicleta mereça o título de vilã?
Proponho uma reflexão justamente na direção contrária deste consciente coletivo, a fim de promover o debate, a conscientização e por que não pensar em mudanças na política de formação e educação dos condutores?
Como usuário diário de motocicleta, posso afirmar que a moto é um meio de transporte seguro. Inseguras são as pessoas e a educação que possuem. Recentemente foi divulgada uma importante pesquisa sobre o tema, realizada pela Faculdade de Medicina da USP, em parceria com a Abraciclo, entidade que representa os fabricantes de motos, bicicletas e ciclomotores, e assinada por Julia Greve.
Foram avaliados 310 acidentes, na Zona Oeste, que resultaram em 326 vítimas com entrada em hospital. É importante ressaltar que só foram avaliados acidentes cujas vítimas deram entrada em hospitais, portanto não é possível avaliar, por exemplo, o percentual de acidentes que geram vítimas ou mesmo comparar com a frota circulante, pois os dados são regionais.
O mais surpreendente na pesquisa é que, apesar de serem a maioria, e de estarem mais tempo pilotando, os motociclistas profissionais são a minoria entre os acidentados. Cerca de 77% dos pesquisados utilizavam a moto apenas para transporte, enquanto apenas 23% eram profissionais.
Em 49% dos casos os laudos periciais apontam que a moto foi a causadora do acidente, enquanto em 51% outros veículos foram os causadores. No caso da moto, 88% dos acidentes foram causados por imprudência do piloto. Já nos casos em que outros veículos causaram o acidente, em 84% deles a imprudência de quem guiava o carro foi a causadora.
Quando avaliado o uso de equipamentos de segurança, o resultado foi tão surpreendente quanto lamentável. Mais de 90% dos usuários estavam só de capacete, e 17,8% estavam devidamente equipados também com luvas e jaquetas. Problemas nas vias foram responsáveis por 18% dos acidentes e 8% foram causados por má conservação das motos, principalmente freios e pneus.
Estes e muitos outros dados do estudo deixam bastante evidente que o principal problema é o comportamento do piloto e o preparo que o mesmo tem para utilizar uma motocicleta. Andar de moto é seguro, apesar de ser maior o risco de lesão em caso de acidente.
Passou da hora de incluir na grade curricular das escolas a educação no trânsito e também de rever o modelo atual de concessão de habilitação. Enquanto isto não acontecer e as autoridades de trânsito ignorarem a existência das motocicletas em termos de planejamento viário e sinalização de trânsito, não teremos mudanças nestas estatísticas.”
Fernando Medeiros
