As Boas Maneiras é o filme mais ambicioso da dupla de diretores Marco Dutra e Juliana Rojas, que confia numa direção de arte caprichada, somada a uma fotografia belíssima. Além disso, a trama também faz uso de eficientes efeitos visuais, que criam inteiramente um dos personagens.
Os diretores apostam na regionalidade e em problemas sociais para traçar paralelos e criar daí o medo.
Nesse sentido, a direção dá início à história com a ingênua protagonista Ana (Marjorie Estiano) procurando uma babá/empregada para ajudá-la nas tarefas domésticas, durante a fase crítica de sua gravidez. A muito bem-vinda ajuda chega nas formas da ótima Isabél Zuaa, que interpreta Clara. Logo, as duas se entrosam e a relação aos poucos vai se transformando em uma amizade, um elo de confiança. Clara é por si só uma personagem dona de uma psique complexa e levemente misteriosa. Aos poucos também, Clara – a verdadeira protagonista aqui – vai percebendo mudanças de comportamento na patroa, que variam de caminhadas noturnas pelas ruas, lanches na madrugada e outras esquisitices, tudo em nome de um pretenso sonambulismo.
Durante o enredo, Clara fica sabendo que Ana cometeu um dos maiores pecados que uma mulher de cidade pequena pode cometer, ficou grávida sem ser casada e terá o filho sozinha. Assim, os diretores escancaram as críticas, apontando o sistema social arcaico, de como a mulher ainda é vista por uma sociedade hipócrita, transbordando de valores antigos.