Sr. redator:
“A intenção da APITC (Associação Promotora de Instrução e Trabalho para Cegos) era das mais nobres, pois visava eliminar a mendicância e prestar assistência ao cego, oferecendo-lhes gratuitamente abrigo e instrução intelectual e profissional, mantendo-se com sucesso. Tudo isso exclusivamente a cargo dos cegos, desempenhando trabalhos manuais, confecção de vassouras, rodos e ensino do braille.
A intenção da APITC era proteger e amparar os cegos no exercício amplo de seus direitos, sem a intervenção de terceiros, pois a cegueira não os priva de viverem plenamente.
Até fins de 1985 a associação ainda se matinha em situação de franca prosperidade, o que não ocorreu na década de 1990. Antes da crise, possuía dez barracas de feira, cada uma representada por um cego, nas melhores feiras da capital de São Paulo, além de dois caminhões para transportes de mercadorias. Existiam oficinas de trabalhos, abrigos para ambos os sexo, assistência médica e domiciliar, e ocupações remuneradas, de acordo com as suas aptidões.
Com o surgimento de supermercados, várias indústrias mudaram-se para outras regiões do País, diminuindo o número de associados e enfraquecendo a APITC. Esse período foi longo e vários administradores passaram pelo local, deixando apenas parte do patrimônio preservada. Somente em 2007, quando esse que lhes escreve e morador do bairro do Belém, foi convidado por um grupo de cegos para dar continuidade às atividades da entidade. Montou-se a ‘Chapa Esperança’, composta por um presidente, um vice e demais diretores, com eleições realizadas em março de 2007 e posse para abril do mesmo ano, cuja administração seria de três anos – 2007 a 2010.
O início foi difícil, pois havia muitas dívidas a pagar, cegos sem trabalho, salários atrasados, férias, 13º, FGTS etc. Após quatro meses daquela gestão, normalizou-se o pagamento dos funcionários e eles começaram a receber em dia. Em pouco tempo foram sanados vários problemas de ordem social, com muito trabalho e dedicação. Enfim, passaram-se três anos de uma luta da qual não pestanejamos.
No fim da gestão 2007-2010 foi passado o compromisso para outros administradores, com todo o mecanismo existente, suficientemente próprio para dar continuidade à vida da entidade.
Desde sua fundação em 1927, a APITC, mostra-se capacitada em recuperar cegos, integrando-os na sociedade como elemento útil.
É surpreendente que nenhum morador do bairro do Belém, ainda não tenha ido até à Rua Cajuru, 730, tomar conhecimento da situação atual da entidade.”
Miguel Felício de Albuquerque

