Sr. redator:
“Ao longo de 2013 assistimos dezenas de apagões dos serviços de telecomunicações em cidades de norte a sul do Brasil. Se o apagão fosse só dos serviços de telecomunicações, até que estaríamos conformados, mas não é. Falta água na grande São Paulo e em alguns municípios já começou o racionamento. Nem bem começamos 2014 e o fantasma do apagão de energia elétrica também ronda a sociedade brasileira, que mesmo em tempos de ‘pibinho’ e diminuição da atividade industrial é uma ameaça real.
De todas as mazelas da infraestrutura brasileira, que é deficitária em portos, estradas e serviços públicos básicos ao cidadão em geral, o que mais assombra é a incapacidade de planejamento e execução de obras relativamente simples. Digo simples baseado em fatos históricos. Roma na aurora da era cristã, contava com uma população de um milhão de pessoas e tinha água corrente em residências e banhos públicos acessíveis a toda a população.
Obviamente o problema de termos racionamento de água nos dias de hoje, não é por falta de engenharia, muito menos por questão de dinheiro, haja vista o Brasil estar entre os 10 países mais ricos do mundo. Se temos dinheiro e temos tecnologia, mas não temos serviços públicos de qualidade, onde afinal estamos errando?
A resposta é complexa, mas podemos encontrar algumas pistas comparando o processo de formação do Estado brasileiro com o de outros. Tomemos como exemplo a Independência dos Estados Unidos. Quando o general George Washington, em 1782 venceu a Guerra de Independência contra a Inglaterra, foi aclamado pela elite ruralista norte-americana como rei.
Ele recusou a coroação, justificando que, se aceitasse, moralmente profanaria o direito de todos aqueles que morreram na guerra lutando a seu lado e não merecia honraria por cumprir seu dever cívico com a pátria.
Muitos dizem: o Brasil é um país jovem, se comparado aos países europeus. Isso é verdade. Mas é igualmente verdade que os Estados Unidos também são, posto que ficaram independentes na mesma época que o Brasil. Ocorre que o rei D. João III em 1534, com o fito meramente exploratório, criou as capitanias hereditárias e distribuiu terras aos nobres portugueses. Lá, George Washington negou o direito a seus filhos de serem ‘reis’.
Se o político brasileiro tem todas as suas ações delimitadas a quatro anos de governo, como poderá planejar e realizar obras de grande porte que precisamos, cujo ciclo de duração pode perdurar uma ou duas décadas? O mesmo pensamento se aplica às empresas de telecomunicações, sendo as principais controladas por capital estrangeiro.
Como garantir qualidade aos consumidores e investir na melhoria da infraestrutura do serviço, se a empresa tem como princípio geração de caixa a qualquer custo para remeter dividendos à matriz?
Precisamos de mais homens com o pensamento de George Washington e do velho ditador Cincinnaus, cabendo esclarecer que ditador era um cargo público previsto nas leis romanas, sinônimo de gestor interino, diferente do sentido atual.”
Dane Avanzi
