POR CAROLINE BORGES
Alexandre Nero tem um choque de realidade cada dia que entra nos estúdios de “No Rancho Fundo”, nova novela das seis da Globo. O ator, que vive o ingênuo Tico Leonel, embarcou no texto tragicômico de Mario Teixeira e, assim como no dia a dia, Nero acumulado risadas e lágrimas para viver o novíssimo personagem em cena. “O texto do Mário e a direção são perfeitos. Estar em um trabalho tão requintado é algo novo para mim. As cenas nos levam a algo tão interessante que a vida consegue equilibrar a diversão com a dramaticidade. Estamos fazendo sequências muito engraçadas e extremamente emocionantes. Os personagens ficam transitando entre a comédia e o drama. Não tem nada mais delicioso para o ator do que isso. Estamos surfando nessa onda”, vibra.
Na novela, Tico Leonel é marido de Zefa Leonel, papel de Andrea Beltrão. Matuto, ele é muito esperto, mas se mostrara ingênuo diante das malícias da cidade grande. Passa a se considerar o cérebro da família, mas, na verdade, se deixa levar facilmente pela primeira impressão. Quando deixarem o sertão rumo à cidade, se envolverá com quem não deve, colocando em risco a paz familiar. “Temos um bastidor muito animado nessa novela. Isso não se forja. Não tem fórmula de sucesso, mas temos indícios de que será um trabalho prazeroso e de sucesso do começo ao fim”, torce.
P – Inicialmente, você estava escalado para viver o vilão Quintino, que é interpretado por Eduardo Moscovis. Como o Tico Leonel chegou até você?
R – Tinham me oferecido o personagem do vilão. E eu tinha acabado de sair de um vilão das 18h. Falei com a direção que queria ir para outro lugar. Acabou que o Du (Eduardo Moscovis) pensou a mesma coisa. Ele também não estava se sentindo bem fazendo o mocinho e trocamos. Foi bom para todo mundo. O que faz a gente querer pegar um papel? Ir em busca de coisas diferentes.
P – Por quê?
R – Busco sempre mudar de prateleira. Confesso que, se fosse mais um vilão do mesmo universo de humor, eu estaria patinando no mesmo lugar. Seria mais complicado para mim. Quando a gente troca de prateleira, passamos a investigar outros espaços dentro de nós. Um personagem sou eu, mas são veias diferentes que vamos capitando. O Du também achou que estava próximo de outros personagens que ele havia feito na tevê. Então, no fim, foi bom pra todo mundo.
P – No enredo, Tico Leonel é descrito como um homem ingênuo e amoroso. Como está sendo encarar esse tipo tão pacífico?
R – Tenho levado essa calma para casa. Quando a gente faz um personagem raivoso, traz junto essa raiva do set. De alguma forma, o corpo entende que eu estou levando isso pra casa. Então, no caso do Seu Tico, eu trago todo afeto e amor que tenho pelos meus filhos, pelos meus pais… De alguma forma, isso reflete no meu dia a dia. Entendo que, intelectualmente, a gente não deveria levar o personagem para cama. Mas fisicamente seu corpo não entende.
P – Como assim?
R – Fazer cena de raiva, briga ou luta mexe com o seu interior. O mesmo acontece nas sequências de afeto. Você fica amoroso. Babacas dirão: “então, com cenas de sexo leva também”. Não tem nada a ver. Afeto é tocar as pessoas espiritualmente.
P – Até o momento, como tem sido voltar ao horário das 18 horas?
R – Estou encantado, bem apaixonadinho pela novela e as pessoas, o texto do Mário e direção do Allan, que posso dizer que poucas vezes tive oportunidade de participar de trabalhos requintados. O Tico Leonel é apaixonante. Faz as pessoas rirem e chorarem. É um personagem com toques de Charlie Chaplin. Uma coisa meio menino abandonado, perdido. Tem uma criança ali. Não é uma metáfora. É real. Sinto como se eu tivesse 15 anos e apaixonado por uma menina.
P – Após alguns violões e personagens mais dramáticos no horário nobre, você estava com saudades de um projeto mais cômico?
R – Sim, amo comédia, sou facinho na comédia. A tevê que não me chamou muito para comédia, mas fiz comédia a minha vida toda. Estudei palhaçaria. A tevê que vai colocando a gente em lugares pré-determinados.
P – De que forma?
R – A tevê dividia muito esses espaços antigamente, né? Tínhamos os programas de humor e as novelas eram o drama. Então, essas novelas tinham o núcleo cômico. Novela contemporânea não tem mais isso. Ator tem de saber dançar todas as danças. Sempre acreditei nisso. As novelas estão abrindo esses espaços. A vida é engraçada e dramática.
P – Então a trama de “No Rancho Fundo” tem sido extremamente rica artisticamente para você…
R – A gente tem feito cenas que mesclam drama e humor e o grande barato é essa transição. E a gente está surfando nesta onda. Não tem nada mais delicioso para um ator. As pessoas podem esperar a melhor coisa de uma novela, que é se emocionar e se divertir. E a novela flerta com outros gêneros. Brincamos com farsesco, o burlesco, tem situações muito diferentes da tradicional novela. As pessoas vão se surpreender positivamente e não estou torcendo, estou apostando nisso.
“No Rancho Fundo” – Globo – Segunda a sábado, às 18h30.
Entrosamento
Alexandre Nero tem encontrado parcerias frutíferas diante do vídeo. Em “No Rancho Fundo”, o ator tem uma série de elogios para Andréa Beltrão, que vive Zefa Leonel. “A Andrea é boleira. Então, acho que essa parceria é um golaço (risos). Ela é uma parceira que passa a bola redonda, eu tento devolver redonda. A gente não ocupa os mesmos espaços na área. Não ficamos dando cabeçada. Um privilégio estar ao lado dela”, valoriza.
Mas não é a só a veterana atriz que tem encantado Nero em cena. O ator também reserva alguns elogios para o elenco jovem do folhetim das seis. “Nunca tinha visto os protagonistas na tevê. Eles são incríveis. Como tem gente boa por aí. Eles têm timing de comédia e drama. Temos uma escalação muito boa nessa novela”, aponta.
Não é bem assim
Há pouco mais de 15 anos na tevê, Alexandre Nero Vieira já está habituado com toda a dinâmica que cerca o trabalho. O comprometimento por quase um ano com uma novela, as longas horas de gravação e a repercussão massiva da tevê são detalhes incorporados ao dia a dia do ator. O rótulo de galã, no entanto, ainda é algo pouco crível para Nero. “Papo furado (risada). As pessoas, geralmente, se encantam é pelo personagem. Como diz minha esposa: as pessoas conhecem o Nero, mas não conhecem o Vieira. O Vieira é terrível”, brinca Nero, que é casado com atriz e consultora Karen Brusttolin.