Levantamentos preliminares apontam para falha mecânica e não humana. Maquinista, ao perceber um problema no sistema automático, que acelerou a composição ao invés de pará-la, acionou a tempo o freio de emergência e evitou uma tragédia. Em 38 anos de atividades, esta foi a primeira colisão envolvendo trem com passageiros na história do Metrô
Falha no sistema de automação. Para o secretário-geral do Sindicato dos Metroviários, Paulo Pasin, esta pode ser a causa mais provável para o choque ocorrido na última quarta-feira, dia 16, entre dois trens do Metrô na Linha 3 – Vermelha, entre as estações Penha e Carrão, no sentido Palmeiras-Barra Funda. Na prática, isso significa que o sistema automático que faz o trem parar quando outro está à frente, não funcionou.
A hipótese também está sendo mantida pelo presidente da Companhia do Metropolitano (Metrô), Peter Walker. De acordo com suas declarações ao “SPTV”, da TV Globo, a causa mais provável para a colisão entre os dois trens pode ter sido falha mecânica.
Altino de Melo Prazeres Júnior, presidente do Sindicato dos Metroviários, repassou as declarações do maquinista. Ele relatou que enquanto o trem estava em movimento, o sistema ATC (a linha é dividida em circuitos de via e nenhum trem pode invadir o trecho em que há outro) emitiu um alerta de acelerar em vez de frear ao ter se aproximado da composição parada. O maquinista então operou o trem manualmente para frear. Segundo Prazeres ainda, toda composição do Metrô conta com o sistema automático que, ao registrar a distancia de 150 metros entre o próximo trem, aciona o freio.
Já o secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, revela que o problema foi causado por um defeito em uma placa eletrônica de um dos trens. O equipamento será analisado e, hipóteses à parte, a Polícia Civil informou que o laudo oficial sobre a colisão entre os trens deve estar concluído entre 15 e 30 dias. O Ministério Público disse que também vai investigar as causas do acidente e cobrou explicações por escrito à Companhia do Metropolitano.
SOBRE O ACIDENTE
O acidente ocorreu por volta das 10 horas, logo abaixo do Viaduto Antonio Abdo (antigo Conselheiro Carrão). Segundo informações da Secretaria Estadual dos Transportes, a velocidade média desenvolvida pelos trens naquela manhã, por volta das 9h50, horário ainda de grande movimento, era entre 9 e 12km/h.
O local do acidente, embora ladeado pela Avenida Radial Leste, se tornou de difícil acesso para as equipes de resgate por conta do muro que separa as linhas do Metrô da avenida. Para chegar mais rápido até as vítimas, bombeiros e equipes do Samu estacionaram suas viaturas no canteiro da ciclofaixa e utilizaram escadas para resgatar as pessoas.
Quem não se machucou utilizou a passarela lateral da linha para chegar até a estação Carrão do Metrô. Caso da estudante Natália Mendes Ferreira dos Santos, de 19 anos. Ela viajava no segundo vagão do trem que bateu na composição que estava parada na linha.
“Foi um impacto muito forte. Ele acelerou, freou e bateu. Com a pancada muita gente caiu no chão. Algumas bateram a cabeça nas barras de ferro e outras começaram a chorar. No mesmo instante as luzes se apagaram e o ar parou de funcionar. Algumas pessoas tentaram falar com o maquinista pelo sistema de comunicação do vagão, mas ninguém teve resposta. Ficamos mais de 20 minutos com as portas fechadas e algumas pessoas começaram a abrir as janelas de emergência para sair. Eu preferi esperar um funcionário do Metrô abrir a porta, o que aconteceu quase meia hora depois da batida”, contou Natália à reportagem.
SUSTO TAMBÉM PARA A VIZINHANÇA
“Foi um barulho muito forte. Pensei que fosse uma batida de carro, mas quando saí na janela da minha casa não acreditei no que estava vendo”, contou assustada a dona de casa de 41 anos, Maria Luiza Andrade, moradora de um sobrado na Rua Melo Peixoto. “As pessoas estavam desesperadas. Tinha muita gente chorando”, contou à reportagem da Gazeta.
Maria Luiza também enfatizou que, na terça-feira, 15, um dia antes do acidente, ela estava esperando para embarcar na estação Carrão quando todos os passageiros do trem que chegou à estação tiveram que deixar as composições. “Achei estranho. Pediram para todo mundo descer e esperar o próximo trem, que ficou superlotado em direção à estação Palmeiras-Barra Funda”.
ESTAÇÃO FICOU FECHADA
Durante toda a manhã a estação Carrão do Metrô ficou fechada e funcionários do Metrô orientavam as pessoas sobre trajetos alternativos. Para quem tentava embarcar em direção ao centro, a informação era de que pegassem um ônibus na Radial Leste até a estação Tatuapé.
De lá as operações seguiam normalmente em direção à estação Palmeiras-Barra Funda. Já no sentido bairro a orientação era de que, com o desligamento da rede de energia e a não circulação dos trens no sentido Corinthians-Itaquera, as pessoas utilizassem os ônibus que passam na Avenida Radial Leste em direção ao bairro.