A topografia do Tatuapé é invejável: segredo do progresso – Quanto ao desenvolvimento do bairro como um todo, talvez um dos motivos que mais tenham contribuído seja sua topografia. O bairro não apresenta, como alguns outros, altos e baixos consideráveis, desníveis esses que dificultam a construção de ruas, avenidas e moradias e, não raro, representam sérias dificuldades de acesso.
Do ponto inicial citado acima, o progresso pouco a pouco avançou em direção à planície de Vila Gomes Cardim e demais vilas contíguas, para, nas últimas décadas, atingir a parte mais alta do bairro. O desenvolvimento defasado deu às partes baixa e alta características diferentes.
Usando o critério de alguns historiadores, não seria incorreto dizer que o Tatuapé, na atualidade, se divide em duas partes: a antiga e a nova. A grosso modo, a primeira vai do Rio Tietê até a linha Leste-Oeste do Metrô, local da antiga via férrea Central do Brasil, tendo como limites laterais a Avenida Salim Farah Maluf e Ribeirão Aricanduva. A nova vai da linha do Metrô até o Jardim Anália Franco, tendo lateralmente os mesmos limites anteriores.
O setor antigo é composto, em sua maior parte, por casario baixo: casas térreas, sobrados e palacetes, normalmente ocupando amplos terrenos. Nele foram construídos poucos prédios de apartamentos.
O contrário se dá no setor novo, neste quase todas as suas áreas foram ocupadas por construções de padrão verticalizado. Isto ocorreu devido a dois fatores: o setor novo possuía grandes glebas de terrenos vazios ou ocupados por chácaras; a especulação imobiliária tornou os preços das terras muito altos, obrigando os construtores a seguir o padrão citado.
É válido citar ainda, o aumento populacional de São Paulo e de todos os seus bairros, como mais um motivo para tal encaminhamento. O setor antigo, de longa data totalmente ocupado, impossibilitou essa escolha.
O bairro quase sempre esteve dividido nos pólos referidos: antigamente, pela via férrea Central do Brasil; atualmente, pela linha do Metrô. Contudo, outrora, essa divisão era menos acentuada.
Motivos diversos levavam a uma maior união entre os moradores dos dois lados. A ferrovia, mesmo cortando o bairro ao meio, apresentava, ao longo dos seus trilhos, três porteiras para a passagem de pedestres e veículos. Estavam instaladas junto às Ruas Tuiuti, Vilela e Antonio de Barros.
Com o fito de encurtar distâncias, os tatuapeenses construíam rudimentares pontes de madeira sobre as valetas laterais da ferrovia em trechos intermediários. Este expediente causou inúmeras tragédias, muitas famílias perderam entes queridos ao passarem por esses atalhos improvisados. No princípio do século passado, só havia um meio de transporte coletivo: o bonde elétrico. Seu trajeto se dava pela Estrada da Penha.
Este fato somado à instalação das primeiras indústrias e casas comerciais nas proximidades dessa via, obrigava os moradores da parte alta a se trasladarem para aquela região em demanda de transporte e trabalho.
Outro fator que facilitava o contato era o rico futebol varzeano local. Não obstante o clima de intensa rivalidade, clubes e torcidas dividiam os mesmos espaços nas manhãs e tardes de domingos. Até fins da década de 40, a parte alta não tinha ginásios e colégios.
Em todo o Tatuapé só existiam dois: Fernão Dias e Duarte de Barros. Portanto, acabado o curso primário, os alunos tinham forçosamente de matricular-se em uma das duas escolas, ambas instaladas na Avenida Celso Garcia.
Desde meados de 1920 se achava, na mesma avenida, o único cinema de toda a região: o São Luis. Os aficionados pela sétima arte, sem outra alternativa, convergiam para ele. Só mais tarde, já na década de 50, começaram a surgir as primeiras salas de projeção na parte alta bairro.
O footing- costume antigo em que os moços postavam-se na via pública, deixando ao meio um corredor, pelo qual as moças desfilavam aos pares – também era realizado na Avenida Celso Garcia.
No Tatuapé havia dois, nas proximidades das Ruas Tuiuti e Antonio de Barros, aos sábados e domingos à noite. Não podem ser esquecidas as quermesses realizadas pelas diversas igrejas. Essas importantes festas eram pontos de convergência dos moradores de todas as áreas.
Analisados um a um os motivos expostos, chegamos a uma incrível constatação: nenhum deles subsiste nos dias atuais. Não é de estranhar, portanto, ter a divisão dos habitantes dos dois setores se acentuado com o passar dos anos.