Sr. redator:
“O que me leva a escrever esta carta, reiterando o meu proceder permanente de respeito às liberdades individuais, principalmente o direito de expressão, é o desejo de manifestar a minha cordial e respeitosa contrariedade com muitas posições expressadas neste momento em que se enfatizou, no último dia 31 de março, a marca dos 50 anos do chamado ‘Golpe Militar de 1964’.
O partido detentor do poder pretende reescrever a história recente do Brasil. E, com isso, nós pessoas de bem não podemos concordar. Há poucos dias, um leitor desse conceituado semanário, tentou calar o lúcido e vigoroso jornalista Sérgio Carreiro de Teves, chamando-o de tendencioso.
Embora não me assista o privilégio de uma convivência mais próxima, condição indispensável para que as pessoas possam melhor avaliar a tendência política do editorialista, essa realidade não me impede de inscrever-me entre os brasileiros que se encantam com seu talento e apreço pelo que é correto, honesto e justo.
A ‘omissão das pessoas de bem tornam justas a vitória dos maus’, portanto urge não nos omitirmos em restaurar a verdade dos fatos:
- Por primeiro, somente por conveniência hipócrita, ou ignorância histórica, se pode chamar o movimento de 1964, de ‘Golpe Militar’. Esse movimento de 1964 foi civil e militar. Não só militar. Entre os civis que, após o presidente João Goulart abandonar o País, refugiando-se no Uruguai, apoiaram o movimento de 1964, destaco: Ademar de Barros, Carlos Lacerda, Ranieri Mazzilli, Tancredo Neves, Auro Soares de Moura Andrade, entre muitos outros.
- Na mesma esteira de restabelecer a verdade dos fatos, cumpre mencionar que a sociedade civil promoveu em São Paulo, em meados de março de 1964, uma grande e patriótica passeata denominada ‘Marcha com Deus pela Família e Liberdade’ pedindo a intervenção do Exército para impedir a instalação de uma ditadura do proletariado, nos moldes do partido único, de modelo soviético.
- E, tanto isso é verdade que os militares tiveram de cumprir a missão de vencê-los na guerrilha urbana inicialmente e posteriormente na rural. Houve mais de 200 mortos entre os militares, sem contar inúmeros mutilados.
- Os verdadeiros autores da redemocratização do Brasil foram, entre outros: Alfredo Buzaid, Marco Maciel, André Franco Montoro, Mário Covas e não cidadãos oportunistas, que querem mudar a verdadeira história do Brasil.
- Não pretendo me alongar no assunto que é por demais extenso e fértil, porém peço que reflitam que nenhum dos presidentes militares deste País usou seus uniformes quando no exercício da presidência da república, exerceram-na como civis, muito diferente dos verdadeiros ditadores, vide Cuba e Venezuela. Por oportuno, gostaria de parabenizar esse digno semanário, que continua a saga, a audácia e a coragem democrática de seu fundador, Braz Jaime Romano.”
Enivan Gentil Barragan
