Sr. redator:
“Não é novidade que as políticas de prevenção e promoção em saúde precisam ser mais valorizadas. Ainda há uma série de perguntas que os médicos e pesquisadores da área se fazem continuamente, e não obtêm respostas conclusivas como gostariam: por que ainda morrem mulheres de câncer de útero? Por que os diagnósticos de câncer de próstata ainda são tardios? Em países pobres, estes problemas podem ter respostas simples, como a dificuldade no acesso ou a falta de profissionais de saúde. Mas e em países desenvolvidos ou no setor privado?
Podemos propor como causa a falta de informação. Apenas uma pessoa informada e com acesso regular à assistência poderá seguir pelo melhor caminho, construindo uma boa saúde a longo prazo. As diversas campanhas de educação da área são justamente focadas em fornecer dados para que as pessoas saibam se cuidar. No entanto, mesmo as pessoas que recebem esse conhecimento mantêm comportamentos ‘não-saudáveis’ e não seguem as orientações dos profissionais. Por quê? Estudos recentes mostram que há alguns fatores decisivos para a adoção de hábitos saudáveis e o cuidado pessoal com o próprio corpo.
Somos seres de hábitos e, uma que vez que os adquirimos, é natural mantê-los por toda a vida. O problema é transformar o comportamento desejado, no caso, a atenção com os cuidados em saúde, em um hábito. A realidade é que fica muito mais difícil se lembrar de tomar o remédio nas horas certas quando o tratamento já está acabando. Isso acontece ‘nas melhores famílias’.
Da mesma forma, é menos comum ter sucesso no combate a doenças crônicas, que acometem silenciosamente, do que na luta contra doenças agudas, que provocam uma alta sensibilidade social.
Então, como fazer as pessoas se protegerem das complicações de doenças silenciosas? Temos que ter mecanismos para levar as pessoas a assumirem sua responsabilidade em adequar seus hábitos. Todos queremos uma vida mais saudável, mas nem sempre estamos motivados a mudar. Precisamos, portanto, de engajamento pessoal e social. É necessário assumirmos nosso papel ativo, no qual os indivíduos serão atores e promotores da sua própria saúde. Afinal, a responsabilidade sobre a saúde não é apenas do profissional, das instituições ou do Estado isoladamente.
Precisamos disponibilizar, para a população, material de qualidade e rigor científico. Assim, todos poderão ler, ver e ouvir informações com a tranquilidade de saber que ali há segurança. Ao mesmo tempo, conhecemos a importância de nos relacionar entre pares. Usar as relações para promover a saúde pode ser um passo para melhorar a prevenção em saúde. Pessoas com alguma enfermidade gostam de ouvir o conselho de outras em condições semelhantes. Já existem até mesmo iniciativas parecidas com jogos que estimulam as pessoas a aumentarem e compartilharem o conhecimento de forma menos formal. Precisamos fazer com que ‘ser saudável’ seja visto como a conquista que realmente é, cada dia mais.”
Ricardo Cabral Santiago
