À luz da tragédia ocorrida em São Mateus, na construção que abrigaria o Magazine Torra Torra, esta Gazeta entrevistou, na última sexta-feira, 30, o engenheiro Alfredo Vieira da Cunha, presidente da Aleasp (Associação Leste dos Profissionais de Engenharia e Arquitetura da Cidade de São Paulo).
CONTEÚDO
A reportagem publica explicações sobre a preocupação das obras da Zona Leste terem ou não o acompanhamento de um profissional qualificado e relata o custo médio de contratação de um profissional. Além disso, a entrevista mostra, sob a ótica do engenheiro, se é possível ocorrer na ZL o mesmo incidente de São Mateus.
O profissional falou, também, sobre os cuidados que precisam ser tomados para não ocorrerem problemas iguais aos do galpão do Torra Torra. Sobre a questão dos trabalhadores da construção civil terem ou não registro no CREA, o presidente da Aleasp fez um triste alerta. E, por fim, fez uma breve avaliação sobre o que ocorreu em São Mateus e apontou saídas.
EXPLICAÇÕES
Para o presidente, as obras, em geral, devem ter acompanhamento de um profissional legalmente habilitado. Porém, segundo ele, isto não acontece, pois a cultura dominante é de que os profissionais da construção civil – pedreiros, por exemplo -, podem executar os serviços sem projeto e sem fiscalização.
Ele revelou que, na maioria das vezes, os moradores procuram engenheiros e arquitetos apenas para que estes façam a planta e aprovem o projeto junto à Prefeitura. Quando as pessoas levantam a questão do custo cobrado, Cunha revela que ele varia de caso a caso, dependendo da área a ser edificada e da complexidade da execução. Podem custar até 8% do valor da obra, ou seja, para uma obra de construção em que se gaste R$ 100 mil (preço de custo), se gastaria R$ 8 mil.
SEGURANÇA
Segundo o engenheiro, deixar o trabalho de um especialista de lado poderá comprometer a segurança e a qualidade da obra, pois para cada área: arquitetura, fundação, estrutura, gás, elétrica, hidráulica, dentre outras, existe um profissional.
Cunha ressaltou que, com relação ao acidente de São Mateus, tal fato pode ocorrer não só na Zona Leste, mas também no restante da cidade. “Fazer obras como se faz um bolo, ou uma pizza, virou rotina, ou seja, qualquer leigo executa obras, não se tem fiscalização técnica e até falta fiscalização do poder público legalmente constituído”, apontou.
CURIOSOS
O presidente do órgão afirmou que, atualmente, existe uma grande quantidade de serviços e de obras executada por curiosos da construção civil sem qualquer habilitação técnica. Ele citou, como exemplo, a execução de uma cobertura de garagem. “Se for feita com laje, necessita de um engenheiro ou arquiteto”, salientou.
Cunha disse não entender as pessoas que, ao invés de procurarem especialistas, buscam “práticos”, com conhecimento empírico. Conforme o engenheiro, uma das formas para mudar esse raciocínio distorcido seria a conscientização da população da necessidade premente de contratar sempre um profissional legalmente habilitado.
Outra maneira seria o Congresso votar, em caráter de urgência, o PL 6699/2002, que trata da criminalização do exercício ilegal da profissão de arquiteto, agrônomo e engenheiro.
AVALIAÇÃO
Com relação a uma avaliação da tragédia, ele disse que mesmo atuando na Área de Avaliações e Perícias de Engenharia, é difícil tecer comentários precisos. “A partir do que vi na mídia, os indícios me levam a crer que foi uma terrível sucessão de erros, os quais se comparam ao efeito dominó, basta derrubar a primeira pedra”, completou.
Cunha finalizou afirmando que, para casos como este não se repetirem, é necessário e imperioso que tal obra não seja demasiadamente rápida, que conte com a devida qualidade de projetos, de fiscalização, de mão de obra, além da devida qualidade de materiais e de controle tecnológico.


Isto sempre existiu. Em trinta anos venho observando as manobras irregulares que vem aumentando devido
a liberdade e a irresponsabilidade de um povo primitivo querendo ter,ou realizar coisas superiores. Isto é em todas as áreas, mas como exemplo temos um servente de obras que,sem estudo, é orientado por um pedreiro, depois de um tempo ele vai se promovendo, a um pedreiro,um mestre de obras, copiando o que viu mesmo sem conhecimento. O dia que se depara com uma nova causa procura sair, ou improvisa colocando tudo em risco. E tem aqueles que para lucrar se desviam do que vil, trocando as medidas,as qualidades dizendo que não vai dar problema. Definitivamente, por menor que seja o trabalho realizado é necessário o especialista(com conhecimentos) e o responsável pela fiscalização. Um Engenheiro um dia me disse: engenharia é economizar com ordem e segurança.
Perfeita explanação. Reforço que não há inocentes nessa história: proprietários não pensam em qualidade, apenas em redução de custos; maus profissionais, acostumados ao acobertamento (vulgo “calígrafos”, que se prestam ao papel de “vender sua A.R.T. – Anotação de Responsabilidade Técnica mas, jamais colocam os pés na obra) e as fiscalizações que são apenas cartoriais, ou seja, verificam se há projeto e/ou se há A.R.T. ou R.R.T. no caso de arquitetos. Se existem documentos, mesmo que erros ou desrespeitos visíveis à legislação, nada pode ser feito. Muita coisa precisa mudar. A iniciativa de incentivar a criação de Lei que criminalize o exercício ilegal da profissão será o primeiro passo de muitos outros a serem dados.